desktop_cabecalho

Ansiedade à matemática: principais características e sintomas

Ler na área do assinante

O controle aversivo presente no ensino da matemática pode gerar um padrão de resposta conhecido como ansiedade à matemática, caracterizado por fuga e esquiva diante de situações que requerem o uso de repertórios matemáticos, além de reações fisiológicas desagradáveis e auto-atribuições negativas. Tipicamente indivíduos com ansiedade à matemática, além da dificuldade na aprendizagem da disciplina, formam classes conceituais nas quais estímulos matemáticos estão associados a eventos desagradáveis e punitivos.

"A matemática não é apenas outra linguagem: é uma linguagem mais o raciocínio; é uma linguagem mais a lógica; é um instrumento para raciocinar". Richard P. Feynman

A literatura que trata de reversão de classes de estímulos equivalentes tem apontado rumos promissores, porém nenhum estudo foi conduzido para reversão de significado negativo de estímulos matemáticos presentes em classes pré-experimentais em indivíduos que sofrem de ansiedade à matemática.

A ansiedade à matemática vem sendo investigada atualmente através de pesquisas acadêmicas que envolvem trabalho de campo, relatos de experiências, observações e levantamento bibliográfico. Entretanto, os autores que abordam tal temática afirmam que a busca por novas informações e novas propostas de intervenções ainda apresenta-se de maneira precarizada, uma vez que a ansiedade à matemática pode ser considerada um tema “novo”. Segundo Carmo, Cunha e Araújo (2007), a ansiedade à matemática pode ser caracterizada como um conjunto específico composto por algumas reações fisiológicas desagradáveis, cognitivas e comportamentais diante de qualquer ocorrência relacionada à matemática. Esses autores tratam das reações fisiológicas como taquicardia, sudorese, extremidades frias, sensação de torpor ou desmaio, cefaléias, gastralgias, insônia, pesadelos, etc. As reações cognitivas são citadas como confusão mental, sensação de descontrole do pensamento, presença muito frequente de pensamentos de auto depreciação e auto regras. Já as reações comportamentais caracterizam-se por fuga e esquiva, geralmente associados ao controle agressivo por parte dos alunos.

Carmo (2003) propõe que a ansiedade à matemática é um acontecimento que não tem origem genética, portanto está diretamente ligado às experiências que os alunos obtiveram no dia a dia de sala de aula, especificadamente nas aulas de matemática; o autor menciona ainda que não exista uma associação entre ansiedade à matemática e inteligência.

As graduações campeãs de desistência

No primeiro caso, cursos de Engenharia, Matemática, Física e outros da área de Exatas são os que mais causam evasão. O motivo é simples: os alunos não conseguem acompanhar disciplinas difíceis do primeiro ano, como Cálculo, e em muitos casos reprovam, o que desestimula a continuar na carreira. Na Unicamp, por exemplo, a taxa de evasão em Engenharia é de 25%.

Alguns cursos concentram a maior parte das desistências (evasões) nas universidades.  Entre as causas estão a dificuldade das aulas, a facilidade do ingresso e a falta de vocação.

As instituições de ensino não divulgam os números oficiais, mas desistências chegam de 30% a 40% logo no primeiro ano nos cursos de Engenharias. Os alunos migram para cursos de Humanas que não irão deparar com cálculos, mas segundo especialistas esses alunos se formam por formar, ou seja, não é aquilo que eles queriam.  O aluno já vai para a faculdade com o pensamento de que a matemática é difícil por uma questão cultural, ao passo que se esses alunos se dedicassem, conseguiriam superar suas dificuldades, explicam os especialistas na área de educação.

Técnicas de Auto Controle e Intervenções

É importante na intervenção

da ansiedade a matemática elaborar técnicas adequadas de ensino, como programas de ensino individualizado, reestruturação do ambiente de estudo, reestruturação de hábitos de estudo e uso de monitores durante aula. Estas técnicas proporcionam ao aluno um ambiente mais saudável e ameniza os efeitos da ansiedade a matemática. Para complementar estas estratégias de intervenção é indicado ensinar ao aluno, técnicas de autocontrole com o objetivo de reduzir a ansiedade, como o relaxamento muscular progressivo e a dessensibilização sistemática.

O relaxamento muscular progressivo é uma técnica que ensina a contrair e descontrair vários grupos de músculos em todo o corpo, prestando atenção às sensações que acompanham a tensão e o relaxamento e aprendendo a contrastar as sensações associadas a estes dois estados. O relaxamento muscular progressivo permite à pessoa reconhecer quando se encontra excessivamente tensa e instruir-se para relaxar, reduzindo, desta forma, também o nível de ansiedade. Esta técnica pode ajudar muito aos alunos com ansiedade a matemática, pois o seu objetivo final é o de conseguir fazer em qualquer local/momento da vida quotidiana, particularmente naqueles em que a pessoa sente-se mais tensa e ansiosa (antes de uma prova de matemática).

A Dessensibilização Sistemática é uma técnica que combina o treino de relaxamento com a exposição gradual a estímulos fóbicos. Para pessoas com ansiedade a matemática é uma maneira de aprender a diminuir a ansiedade e a tratá-la, neste tratamento o aluno precisa ter um acompanhamento psicológico além de utilizar as técnicas de relaxamento para que o resultado seja efetivo. A associação de técnicas de redução de ansiedade, reestruturação cognitiva e mudança de ambiente e hábitos de estudo mostrou-se mais eficaz.

Práticas Pedagógicas e Implicações Teóricas

A matemática é fundamental para o desenvolvimento do conhecimento, entretanto muitos estudantes ainda apresentam aversividade a essa disciplina. Dessa forma, estudos comprovam que reações diversas são desenvolvidas na realização de tarefas matemáticas. Algumas dessas reações são geradas pelos métodos tradicionais de ensino utilizados pelos professores e/ou pelos pais que vivenciaram experiências similares. Além disso, não é de hoje que nossa cultura da ênfase na ideia de que a matemática se trata de algo muito complexo. O ensino da matemática nas escolas precisa ser revisto e reformulado no que diz respeito às práticas pedagógicas, para que se possam extinguir métodos tradicionais de ensino, um dos causadores da ansiedade à matemática.

Segundo Fontes, Lima e Guerra (2009), o método de ensino inadequado e a falta de motivação podem vir a ser grandes obstáculos para o ensino e a aprendizagem da matemática. Ainda segundo esses autores, para selecionar estratégias de aprendizagem mais adequadas, além da natureza do conteúdo a ser desenvolvido, devem ser levadas em conta as características dos alunos. Os métodos de ensino deveriam motivar os estudantes, valorizar as diferenças individuais e, principalmente, levar em consideração as emoções negativas que provocam bloqueios na aprendizagem. Diniz (2003) afirma que a falta de ligação entre a matemática que se aprende na escola e os reais interesses dos alunos, que olham para a disciplina como tendo um nível de abstração exagerado e pouco compreensível, só ao alcance de alguns iluminados, faz com que a vontade de aprender se vá perdendo, à medida que o nível de complexidade vai aumentando.

Mas como dominar a Ansiedade face à Matemática?

A ansiedade face à matemática é um problema complexo, de longa data. A seguir uma breve perspectiva sobre como lidar com essa ansiedade.

1. Muitas pessoas que pensam sentir ansiedade face à matemática têm na verdade, ansiedade aos testes/exames ou têm resultados fracos em testes de matemática. Uma vez ultrapassados estes problemas, podem ter muito sucesso à disciplina. Para determinar se este é o teu problema, pergunta a ti próprio:

Compreendes a matéria que está a aprender, ou talvez, até gostas, mas não consegues resultados positivos nos testes? Na tua opinião, existem testes de outras disciplinas em que “tem branco” ou também te sentes ansioso? Se a tuas respostas forem ambas SIM, precisas de ajuda para lidar com a ansiedade nos testes.

2. É importante aprender a gerir, mas não necessariamente eliminar, a ansiedade que sente face à matemática. Alguma ansiedade contribui para te manteres atento, estar mais alerta, e permite usar as tuas capacidades ao máximo. É aconselhável aprender técnicas de respiração que te acalmem psicologicamente, usando a respiração profunda, longa e mas calma em detrimento da respiração curta e rápida (consulta os Serviços de Psicologia da tua escola).

3. Um dos segredos eficazes de ser bem sucedido em matemática é manter uma atitude positiva em relação à disciplina e à tua capacidade de trabalhar a matemática. Através de afirmações positivas, da eliminação de diálogos interiores negativos e de crenças desmotivadoras sobre a matemática, é possível desenvolver uma atitude positiva e um entusiasmo crescente por esta disciplina. Testa-te sempre que possível e conseguirás atingir os teus objetivo em matemática.

4. Aprende a fazer Visualização Positiva Programada. Trata-se do uso deliberado do poder da tua imaginação para mudar conscientemente ou reprogramar o pensamento negativo relacionado com a matemática. Esta técnica é praticada durante um estado profundo de relaxamento. Uma vez neste estado profundo, consegue-se visualizar uma progressão visual através de uma sequência de passos positivos que levam a atingir os teus objetivo em matemática. Podes ensaiar para um teste de matemática futuro, imaginares-te numa aula de matemática ou veres-te capaz de resolver problemas matemáticos. Deves praticar este exercício todos os dias até conseguires atingir o teu objetivo.

5. Descobre o teu estilo de aprendizagem pessoal, sob que condições aprende melhor matemática, por forma a melhorar o teu desempenho. Tenta descobrir se és um aluno mais visual, ouvinte ou cinestético, pois te poderá ser útil. Observa de que forma a hora do dia, o som, a luz, a temperatura, a ingestão de alimentos, o ambiente social e o vestuário afetam a tua aprendizagem.

6. Aprende técnicas de estudo de matemática eficazes. Envolve-te no processo de aprendizagem e não sejas passivo.

7. Não permitas que a ansiedade nos testes prejudique os teus resultados. Para ultrapassares esta ansiedade deves manter bons hábitos alimentares, sono adequado, calma, uma rotina de exercício físico e uma preparação e estratégias eficazes para os testes. Além disso, deves inverter quaisquer pensamentos negativos e aprender técnicas de respiração para manter a calma (pede ajuda à psicóloga da tua escola).

8. Mesmo se a matemática te tiver causado problemas durante anos, age como se tivesses controlo sobre o teu nível atual de sucesso; age como se realmente estivesses a gostar de aprender matemática; age como se o resultado estivesse a ser positivo de dia para dia.

9. Todos os dias, reaja com calma, descontração e confiança para com a matemática. Diz para ti próprio: “Estou-me a tornar mais calmo, descontraído e confiante enquanto estudo Matemática”.

Todos os dias sente como se estivesses num processo crescente de domínio da matemática, em que os conceitos te parecem cada vez mais fáceis. Diz a ti próprio, “Eu consigo perceber a matemática se der uma oportunidade a mim próprio”. Todos os dias, visualize-te a resolver problemas de matemática difíceis, novos e diz a ti próprio 

“Resolver problemas de matemática é divertido”.

Valdivino Sousa é Contador, Matemático, Bacharel em Direito e Escritor, possui mais de 20 anos de experiência, e desde 2005 é Contador responsável da Alves Contabilidade e Consultoria Tributária, atuante nas seguintes áreas: Tributária, Contábil e das Entidades sem fins Lucrativos. Autor de 10 (dez) livros e têm vários artigos publicados em revistas e jornais especializados nos  assuntos de Legislação tributária e contábil. Semanalmente escreve para a revista de Contabilidade na coluna do Contador.

Dedica-se também a área de Educação Matemática, pesquisador sobre o Ensino e Aprendizagem de Matemática. Linhas(s) de Pesquisa / Área de Interesse: Engenharia Didática em Matemática; Modelagem, Construção do Conhecimento em Matemática;   Modelos Matemáticos e suas Aplicações.  Seu trabalho é reconhecido com Medalha de Mérito como docente pelo Instituto Matematics.  É Professor  nos cursos de Matemática, Ciências Contábeis, Administração e Engenharia.

da Redação Ler comentários e comentar