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Diante de um filho, cujo corpo gélido jaz deitado no caixão

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O que poderíamos explanar, evitando a redundância, perante o depoimento abaixo da escritora Graziela Gilioli [1]? Impossível não admirá-la, reverenciá-la. Num dos mais marcantes episódios de sua vida, ela declarou que durante os quase dois anos em que o seu filho caçula (à época com 14 anos) esteve internado no hospital com o diagnóstico de neurablastoma [2] aprendeu que o sofrimento pela “perda” de um filho é inevitável. Mas que se pode escolher de que jeito viver: nutrindo tristeza ou resignação construtiva. [3]

Conquanto não se declare espírita demonstrou uma sabedoria espiritual e grandeza d’alma insólitas perante a desencarnação de seu filho. Gilioti escreveu que tinha dois filhos e há doze anos eles se separaram por uma escolha do destino. Seu filho mais velho (hoje com 28 anos), vive aqui na Terra [encarnado] e o filho caçula vive num outro mundo [desencarnado] que ela “desconhece”. Para Graziela, ante a própria percepção de eternidade, lá no “desconhecido” [além túmulo] não se contam os dias, por isso seu caçulinha permanece com 14 anos, para sempre. [4]

Leiga (sob o ponto de vista espírita) Graziela descreve com excelsa clareza que somos tímidos em pensar na morte. Acreditamos que se não tocarmos nesse assunto teremos paz e conforto, e é essa ilusão que nos impede de compreender a vida em sua plenitude. Na sua lucidez garante que em nada nos ajuda vivermos como se a morte fosse um engano ou um azar ou uma injustiça que atinge apenas alguns desafortunados. Aceitar o próprio destino não é uma atitude passiva, é uma escolha, a chance de escolher como viver o que o destino nos oferece. Por que abrir mão disso? Professou.

A escritora recomenda-nos buscarmos sermos felizes, por escolha. Para ela, o ser feliz é uma decisão difícil [mormente diante da morte de um filho], mas nos ajuda a conviver com as dores mais profundas que nos acompanham durante a vida toda. Diante de tantos prodígios que fazem nossa vida possível como não agradecer o que temos? É verdade! A gratidão pela vida não deveria ser um pequeno detalhe no meio dos afazeres do dia a dia e sim a coisa mais importante de tudo. Aprender a viver com serenidade para aceitar com naturalidade as coisas que facilitam ou dificultam nossa vida pode ser um bom começo para descobrirmos o que importa na vida.

Revelo que lendo na íntegra o testemunho de Graziela Gilioli (vide link nas referências abaixo), meus olhos estiveram submersos nas fartas lágrimas que insistentemente brotaram das glândulas lacrimais. Nesse “frisson” psicológico, minha garganta esmagou a respiração sob o impulso de uma consciência que sussurrava para mim mesmo, Jorge como agiria no momento do “adeus extremo” para um dos 5 filhos deitado no interior de um ataúde?

Obviamente a verdade espírita consola bastante nesses instantes cruciais, todavia, sei que a minha agonia terá o tamanho exato da dor daquele que neste exato instante está diante de um filho, cujo corpo gélido jaz deitado num caixão. Todavia, embora sob o guante da saudade, importa eleger viver com dignidade, alimentando resignação diante da inabalável certeza da imortalidade.

Jorge Hessen

Notas e referências bibliográficas:

[1]            Palestrante , escritora e fotógrafa premiada na 10ª Bienal Internacional de Arte de Roma.

[2]            um tipo de câncer que se desenvolve principalmente em crianças com menos de cinco anos de idade. Ele nasce a partir das células nervosas em várias partes do corpo, como pescoço, tórax, abdômen ou pélvis, mas é mais comum nos tecidos da glândula suprarrenal.

[3]            Disponível em http://projetodraft.com/a-morte-do-meu-filho-me-ensinou-que-a-gente-pode-escolher-de-que-jeito-quere...  acessado em 11/11/2015

[4]            idem

                                           https://www.facebook.com/jornaldacidadeonline

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Jorge Hessen

Divulgador da Doutrina Espírita

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