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A lógica do liberalismo conservador

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Os defensores do liberalismo conservador, retrógrado e um tanto aético, desencadearam uma furibunda campanha pró-impeachment de Dilma Rousseff, defendendo a posse de o vice-presidente Michel Temer (denunciado por ter recebido R$ 5 milhões de Leo Pinheiro, sócio da OAS, condenado no Petrolão) na presidência, como se isso solucionasse o problema dos desmandos administrativos e da corrupção generalizada. Comemoraram a prisão do senador Delcídio do Amaral (PT) e protestaram contra a condenação de Eduardo Azeredo (PSDB), ex-governador de Minas Gerais, e contra as denúncias de corrupção contra Renan Calheiros, Jader Barbalho e Romero Juca. Afirmam que o STF carregou a mão na votação sobre o rito de impeachment quando só deveria se meter em violações flagrantes da Constituição.

O povo, timidamente comemora o final de 2015, ano que, segundo o Horóscopo Chinês, foi regido pela Cabra e deveria ter sido muito tranquilo e produtivo. Começou em 19 de fevereiro e irá até sete de fevereiro de 2016. Foi um período de muitas atribulações e tristezas para o país descoberto por Cabral. Um poema de autor anônimo enaltece a cabra dizendo: “Eu sou um espectador passivo / Eu esqueço o passado / Bondade me traz sorte / Eu acredito na raça humana / Eu entendo o significado de dar / Meu copo nunca está vazio / Eu sou leal, justo e confio nos outros / Eu sou a cabra”.

Mas no Brasil não foi tão calmo assim. Foi um ano político e economicamente perdido. Para tanto, basta recordar as Operações Sangue Negro, Lava Jato, Passe Livre e Catilinária, citando apenas as mais significativas. O estelionato eleitoral de 2014 (ano do cavalo) repercutiu duramente no governo de Dilma Rousseff, culminando com a aprovação de uma proposta de impeachment aceita na Câmara dos Deputados presidida pelo impoluto manipulador Eduardo Cunha (PMDB), também enrolado em um processo de cassação de mandato. O senador Delcídio do Amaral (PT), líder do governo, foi outra grande surpresa ao ser preso no exercício de um mandato parlamentar, contrariando preceitos constitucionais. Empresários de “grosso calibre” e donos de bilionários patrimônios também foram conhecer o xilindró, ao lado de ex-diretores da maior empresa estatal brasileira e de muitos poderosos políticos. Constatou-se fraude nos Fundos de Pensão e financiamentos “subvencionados” foram concedidos pelo BNDES para os amigos dos governantes.

Os senadores Jader Barbalho e Romero Jucá foram citados na delação premiada de Nestor Cerveró como recebedores de propina; e José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Lula, fez declarações perigosas; Eduardo Azeredo, ex-governador de Minas Gerais foi o primeiro condenado do Mensalão do PSDB. Enfim, a “tempestade perfeita”, onde tudo o que pode dar errado acontece, aconteceu.

Agora vem o “Ano do Macaco de Fogo”, que se inicia em oito de fevereiro de 2016, o mês do carnaval brasileiro. Se a fundação do primeiro reino da civilização chinesa fosse utilizada como referência, este seria o ano 4.714. O triste é que tudo indica que este ano promete não ser tranquilo, isto porque o “macaco” é um símbolo de ambição e este tema estará presente no decorrer de 2016. As pessoas serão impulsionadas por fortes motivações financeiras e poderão se lançar mais ferozmente em busca de seus objetivos pessoais. O espírito de luta em busca do poder e da fama estará pairando no ar.

O macaco, nono signo na astrologia chinesa, está associado a características como ambição, atividade, esperteza, malícia e aventura. Já o Macaco de Fogo acrescenta a esses atributos charme, agressividade, ímpeto e ambição que levarão ao sucesso e à fortuna, custe o que custar. É um ano que poderá trazer muito sucesso para os empreendimentos escusos (como a repatriação de dinheiro sem origem depositado no exterior) e facilidade para resolução de antigos problemas com a justiça. Mas, cuidado! Se você iniciar um novo projeto este ano, certifique-se de que está se associando aos parceiros corretos. O Macaco é impulsivo e pode se deixar levar pelas aparências.

O “Macaco de Fogo” oferecerá, portanto, a capacidade de encontrar soluções não convencionais para problemas antigos porque é estrategista, oportunista e nem sempre confiável, e a fidelidade não é o forte de seu caráter. Tal qual ao comportamento de alguns brasileiros no ano da “pacífica cabra”.

Não se pode esquecer que o povo brasileiro está saturado de tantos desmandos, descaramentos e escárnios descarregados pelos donos do poder econômico. Seria bom relembrar que em dezembro a Polícia Federal batizou de “Operação Catilina” a uma ação operacional de busca e apreensão onde importantes políticos foram envolvidos, incluindo Eduardo Cunha, presidente da Câmara, queimando as barbas de Renan Calheiros, presidente do Senado. Marco Túlio Cícero, cônsul, orador e filósofo romano, fez quatro históricos discursos (As Catilinárias) contra Lúcio Sergio Catilina, senador, filho de família nobre que se aliara a comparsas para derrubar o governo republicano e obter poder e, consequentemente, riquezas. O primeiro discurso começava com a frase ontológica: “Até quando, Catilina, abusarás de nossa paciência?”.

A paciência do passivo povo está se esgotando, junto com o ano da Cabra, sem que ele tenha percebido. O perigo é que nesse contexto de vilanias e descalabros, surja um “caudilho salvador da pátria”, nos moldes de Getúlio Vargas ou de Castelo Branco; ou pior ainda, apareça um “maluco caçador de marajás”, como o irônico Fernando Collor de Mello. Nada é impossível nesta “Pátria Educadora” que destruiu a credibilidade do sistema político e está destruindo a educação pública.

Se Castro Alves passasse em frente à Esplanada dos Três Poderes e visse aquela bela bandeira tremulando, talvez repetisse envergonhado: ”Meu Deus, meu Deus, mas que bandeira é esta, / que, impudente, na gávea tripudia? / Silêncio, Musa, chora e chora tanto, / que o pavilhão se lave no teu pranto!...”. Um pouco de poesia não faz mal a ninguém nestes tempos de desarmonia.

Consta que no final dos anos 50 do século XX a medíocre cronista social Nuria Dassin (pseudônimo de um ex-membro da Polícia Especial comandada por Filinto Muller no primeiro governo de Getúlio Vargas) preconizou que aqueles que vivessem no Brasil do ano 2000 desfrutariam de um país regenerado, feliz e sem desigualdades sociais. Ao que parece a profecia da cronista não se concretizou.

Agora, depois da saída de Joaquim Levy (representante dos banqueiros no governo) e ascensão do petista Nelson Barbosa no ministério da Fazenda, como é que o tal mercado se comportará?

LANDES PEREIRA. Economista com mestrado e doutorado. É professor de Economia Política

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Landes Pereira

Economista e Professor Universitário. Ex-Secretário de Planejamento da Prefeitura de Campo Grande. Ex-Diretor Financeiro e Comercial da SANESUL. Ex-Diretor Geral do DERSUL (Departamento Estadual de Estradas de Rodagem). Ex-Diretor Presidente da MSGÁS. Ex-Diretor Administrativo-Financeiro e de Relações com os Investidores da SANASA.

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