Papa Francisco cria tribunal para julgar bispos que encobriram padres pedófilos

Entidades de vítimas responsabilizam os religiosos acusados por mais de 100 mil abusos.

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O papa aprovou esta quarta-feira a criação no Vaticano de um tribunal encarregado de julgar os bispos em casos em que tenham encoberto abusos sexuais cometidos por padres das suas dioceses. 

Os bispos poderão ser julgados por "renúncia ao dever profissional" por esta "nova instância judiciária no interior da Congregação para a Doutrina da Fé". 

As associações de antigas vítimas de padres pedófilos exigiam há muito que fosse reconhecido como um crime e punido pelo Vaticano o fato de um bispo ter encoberto os abusos contra os menores por padres da sua diocese. A impunidade dos clérigos era a principal crítica de associações de vítimas e ativistas de direitos humanos.

A decisão do papa responde a acusações de impunidade e inação no alto clero e tenta aplacar crise interna na Igreja Católica e retomar a confiança dos fiéis.

A instauração da corte é a mais importante medida tomada pelo Vaticano para responsabilizar líderes de dioceses. 

Em nota, o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, disse que o tribunal foi sugerido pela comissão consultiva criada pelo Vaticano para avaliar os casos de pedofilia.

A nova seção judicial especial ficará dentro da Congregação para a Doutrina da Fé, que desde o ano passado avalia todos as acusações e casos de padres pedófilos.

Segundo o Vaticano, o plano para criar a corte foi apresentado nesta semana a Francisco pelo arcebispo de Boston, Sean O'Malley, que integra o grupo de oito cardeais que aconselham o pontífice.

Do grupo, o americano é o que tem mais conhecimento do assunto. Ele foi o sucessor do cardeal Bernard Law, que renunciou ao cargo em 2002 por encobrir abusos sexuais cometidos por padres da cidade durante os anos 1990.

Entidades de vítimas responsabilizam os religiosos acusados por mais de 100 mil abusos. Um ano depois de assumir, O'Malley determinou o pagamento de US$ 85 milhões em indenização.

O valor foi obtido com a venda de imóveis pertencentes à igreja. Em 2011, ele revelou o nome de 159 dos 250 padres citados no escândalo.

A criação do tribunal e a escolha de O'Malley como assessor mostram a intenção de Francisco de querer dar uma resposta aos casos de pedofilia, que tiveram pouca atenção de seus antecessores, Bento 16 e João Paulo 2º.

da Redação Ler comentários e comentar