São Paulo e o dilema da cidade sem estacionamento

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Pode existir cidade com carro sem estacionamento? Fisicamente é impossível, pois um carro é um bem físico que ocupa um espaço. Esse espaço pode ser uma via pública, um espaço dentro da propriedade do detentor do veículo ou numa garagem com serviços remunerados de estacionamento. 

Pode ocorrer o inverso? Sim. Cidades menores podem ter poucos carros, muitos espaços abertos disponíveis para estacionar. O que não terão são estacionamentos fechados, pagos, uma vez que não haverá demanda. Sem demanda não há receita e não há negócio.

As cidades com carro precisam de estacionamento. São cidades com carro e com estacionamento. Os carros são solução, mas a partir de certo ponto viram problemas. 

Para minimizar ou eliminar o problema alguns urbanistas propõem a solução simples e .... errada. Acabar com os estacionamentos, na suposição de que sem vagas para colocar o seu carro os motoristas desistirão de ter o seu carro.

Isso pode ocorrer se ele tiver boa alternativa para se locomover, com qualidade, conforto, economia e mais rapidamente. 

A suposição (esperança ou desejo) é que isso possa ser oferecido pelo transporte coletivo. Nunca ocorre de forma generalizada, pelas limitações naturais dos sistemas coletivos. Os quais precisam atender pela média. E os usuários de carros estão também nas pontas.

As pessoas nas cidades precisam se locomover entre dois pontos, por razões diversas, e uma das principais condições de qualidade desejadas é a menor distância a pé entre o local de ingresso ou desembarque no veículo ou até o ponto de origem ou destino. Qualidade na locomoção urbana é a minimização dos trajetos a pé, quando associados a transporte por veículo. 

A alternativa para o motorista de carro particular não é o transporte coletivo, mas o automóvel compartilhado. Seja na forma de taxi regular, como de serviços de particulares, acionados por aplicativos.

Elevado custo comparativo e dificuldade de acesso ao prestador dos serviços de condução, limitavam o seu uso. A tecnologia tem contribuído para mitigar as duas limitações. Os custos para os usuários estão menores, em função, de estratégias de dumping do Uber, para dominar o mercado.  A tecnologia dos aplicativos, associada à disseminação do uso da telefonia celular, facilitam a chamada.

É uma mudança irreversível que afeta a estrutura e funcionamento da mobilidade urbana. A posse dos carros será menor, mas isso não significará a redução da circulação dos carros. A tendência é de aumento, com transferência do uso coletivo para o particular.

O volume de carros em circulação será cada vez maior. A alternativa para melhoria da mobilidade urbana não será o transporte coletivo, mas a maior aproximação das funções urbanas para as pessoas, facultando a ampliação da locomoção a pé ou de bicicleta. 

E também a maior integração entre o carro e o transporte coletivo de qualidade, entenda-se - em São Paulo - o metrô.

Jorge Hori

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Jorge Hori

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