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Conviver, respeitar, amar - para quem é capaz

Chape e Atlético Nacional não mais precisam de troféus. Já são campeões

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Os estádios Atanasio Girardot, em Medelin, e a Arena Condá, em Chapecó, deixam de ser apenas praças de futebol - para que Colômbia e Brasil deixem de ser apenas dois países. E sejam, estádios e cidades, desfronterizados os corações e as convicções, a síntese do que deveria ser o planeta e do que podem ser as pessoas: capazes de conviver!

Nunca perdi - e renovo agora, ainda mais forte - a certeza de que o esporte é um dos meios mais efetivos e eficientes para a promoção humana e a afirmação do humanismo. 

Vencer um jogo ou um campeonato traz a alegria estanque de uma glória localizada na individualização de uma preferência ou de uma paixão.

Vencer a si mesmo, quebrar seus próprios tabus, rever-se nas fraquezas e no egocentrismo para renascer a qualquer quadra da existência onde o gesto de coragem seja abraçar o próximo, estas sim são as grandes e perenes vitórias.

...COMO SE NÃO HOUVESSE ONTEM, NEM AMANHÃ...

Os colombianos deram à Terra uma grande lição nesta quarta-feira (30). No palco onde deveria ser travada uma guerra futebolística em disputa pela Copa Sulamericana, havia flores, crianças, pombas, jogadores do Atletico Nacional. Nas arquibancada, de roupas brancas, em vez de torcedores com gritos inflamados de incentivo ao time da casa, havia uma multidão de seres humanos reverenciando seres humanos, pouco ou nada se importando com o destino do troféu em disputa, nada preocupada com a tradução de línguas diferentes, feliz - sim, multidão feliz - pela oportunidade de verter lágrimas de flagrante compromisso de humanismo, de convivência, de amor ao próximo!

A Colômbia presenteou o Natal do planeta com um tonitroante silêncio pela paz e por tudo que represente a consciência dos mortais quanto às suas possibilidades de ir além do amor oferecido como uma moeda de troca e elevar-se ao clímax da grandeza de simplesmente amar, amar, amar.

O presidente colombiano Juan Santos ganhou o Prêmio Nobel da Paz 2016 pelo seu empenho na conciliação nacional, que dependia (e ainda depende) da adesão total dos renitentes integrantes da guerrilha das Farc. O que interessa é que a paz está desenhada num cenário que já foi tradução de beligerância, de conflagração entre irmãos. Que a paz venha com a justiça. Se ambas não consigam chegar juntas, que aquela preceda esta, como peças de uma única engrenagem: a pacificação do povo colombiano.

A tragédia com o time da Chapecoense e demais passageiros e tripulantes da aeronave causou de um lado a hecatombe violenta da dor e do desespero sobre uma nação de 200 milhões de almas. Porém, de outro lado, impotentes diante das fatalidades e sujeitas aos erros de falíveis seres humanos, estas 200 milhões de almas têm no gigantesco abraço que recebe dos colombianos a prova cabal e inquestionável de que amar vale a pena!

É por amor que se perdoa, que se corrige, que se abraça, que se tolera, que se convive. É por amor que se fideliza o viver da terra ao viver dos céus, o destino do Homem à promessa de Deus. É por amor que se respeita, que se valoriza a liberdade, que se sublima o Ser, para que se tenha o antídoto contra o egoísmo, a vaidade, a intolerância, a soberba e a ganância - estas, sim, as maiores e mais destrutivas tragédias humanas.

Chape e Atletico Nacional não mais precisam de troféus. Já são campeões. A América Latina escancarou seu coração e soltou sua voz ao mundo. Para abrir-se aos que tem boa-vontade e para gritar, a plenos pulmões, que moramos todos debaixo do mesmo céu e que não basta tolerância - é preciso amar, como se não houvesse ontem, nem amanhã. Amar é amor que se dá agora. Amor se dá a qualquer tempo.

Edson Moraes

da Redação Ler comentários e comentar