desktop_cabecalho

Mijômetros funcionando

Lutando contra a fúria impostífera do Poder Público, os pobres e remediados resistem como as antas do Pantanal

Ler na área do assinante

De primeiro de janeiro deste ano a hora que escrevo este texto, 25 de junho de 2015, os brasileiros pagaram mais de 882,2 bilhões de Reais de imposto (todos os impostos), segundo o site Impostômetro (http://goo.gl/7cmTp). É a fúria escorchante do Estado Brasileiro contra o cidadão cada vez mais exacerbada. O brasileiro é bombardeado com impostos e taxas de todos os âmbitos, municipal, estadual, federal. Em 2015, a previsão é de que cada brasileiro vai trabalhar mais de 150 dias apenas pra pagar imposto.

Pelo passo da cavalgadura, não vai demorar muito e os governantes vão querer cobrar o Imposto Respiração.  O cidadão terá direito aí a uns 4,5 litros de ar por respirada (o que é o normal). Se passar disso, vai pagar importo pelo ar em excesso inspirado e expirado. 

E são os pobres e os remediados os que, proporcionalmente, mais pagam. Basta manifestar o desejo de comprar um sanduíche de mortadela, uma motocicleta, uma latinha de cerveja ou o Hipoglós do bebê e lá vem o facão do Governo, com sua degoladora lâmina, sempre afiada e inexorável. Consumir é sempre incentivado pelas autoridades, porque esta é melhor forma de arrancar mais do bolso do cidadão.

Mas o que se há de fazer? Lutando contra a fúria impostífera do Poder Público, os pobres e remediados resistem como as antas do Pantanal: sobrevivem até os próximos incêndio, inundação ou, pior ainda, ganância do ser humano seu vizinho. O governo tem obrigação de retribuir essa volúpia arrecadadora com muitas realizações. Mas não é assim que acontece: boa parte do é arrecadado some pelos labirínticos esgotos da corrupção.

Não mais existe no Brasil aquela inflação galopante de vinte anos atrás que fazia os preços subirem de hora em hora. As tarifas e preços não mais são reajustados todos os dias. Na verdade, um dos sucessos do Plano Real, que nasceu no Governo do professor Cardoso, na década de 1990, que deu origem à moeda atual do Brasil, o Real, é a ausência dos aumentos de preços em ritmo de britadeira.

O empresário brasileiro, que também diz odiar os impostos, nessa hora fica do lado do Estado. No pode ver o dinheiro pesando nas algibeiras da patuleia: logo quer redesenhar os códigos de barra que identificam os preços das mercadorias que mercadejam. E sempre pra mais.

Um exemplo disso é a cerveja. É um ancestral costume do brasileiro concluir seu dia com uma rodada de cerveja ou chopp. Falando especificamente sobre a cerveja, a carga tributária incidente na bebida é quase obscena: 56%. Ou seja, numa latinha que custa em média R$3,00, R$ 1,68 (mais da metade) fica com o Governo. Num país que produz 12 bilhões de litros e que consome 54,3 litros per capita, do the math.

Tudo é taxado com impostos escorchantes: compare a tributação incidente em outras mercadorias: energia elétrica (45,81%), televisor (43,64%), móveis (30,57%), tijolo (34,82%), tintas (45%), telefonia (47,87%), arroz (18%), feijão (18%), açúcar (40,40%), café (36,52%), sal (29,48%), carne (18,63%), peixe (18,20%), margarina (37%), frango (17,90%), papel higiênico (40,50%), cachaça (83,07%), refrigerante (47%), leite (33,63%), biscoitos (38,50%), calçados (37,37%), cigarro (81,68%), brinquedos (41,90%), creme dental (42%).

Mas voltemos à cerveja. O trabalhador, que pega no pesado, é sempre o primeiro a reduzir ou a correr pra bebidas mais pesadas, por absoluta falta de fundos. Já o hedonista, que põe a bunda na cadeira do botequim e levanta o copo, este enfrenta tudo: ágio, especulação, usura, agiota, imposto, taxa, pacote, o diabo, mas mantêm o nível da espuma. Este tipo de freguês está sempre a postos para sorver a sua cevada e, eventualmente, pra protestar contra as autoridades, só pelo prazer de atucanar a segunda mãe mais poderosa do mundo.

Tem até zitolibador e bebedor da antiquíssima mistura de malte, lúpulo e cevada pensando em organizar passeata com novos aumentos de tributos sobre a bebida dos deuses. Pode-se até imaginar que durante uma esfuziante assembleia os participantes decidindo se o boicote se dará pelo barulho, pelo constrangimento das  autoridades ou dos cervejeiros. Nunca pela abstinência, ainda que os governantes peçam para que se consuma com moderação.

Nos cartazes e faixas os manifestantes veicularão os números de uma suposta e catastrófica redução do consumo e slogans capciosos: mais cerveja, menos corruptos; queremos cachoeiras de cerveja; exigimos torres, mas de chopp.

Se as autoridades desejam mesmo inibir o consumo da cerveja, não será com frases do tipo "beba com moderação". Precisará mesmo é taxar a urinação. Isso mesmo. O cidadão só poderá mijar meio litro por dia. Cada mililitro acima dessa quantidade pagará pesados impostos. O único problema será a mensuração. Ninguém vai se permitir ser medido pelos mijômetros das autoridades ditas constituídas. 

Luca Maribondo

da Redação Ler comentários e comentar