Eike Batista é criatura do petismo?

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Os antipetistas exacerbados estão propagando nas redes sociais que o bilionário, e agora presidiário, Eike Batista “é cria do petismo” apadrinhado de Lula e de Dilma; dizem que sua fortuna saiu dos cofres públicos porque ele repartia o butim com a facção criminosa que atuava no Rio de Janeiro. Será que isso é a pura verdade ou tem coisas que a Rede Globo ainda esconde do grande público? Analisem-se alguns fatos acontecidos ao longo da história política de Pindorama.

Eliezer Batista da Silva é um engenheiro civil formado pela Universidade Federal do Paraná em 1948. No ano seguinte foi contratado como “engenheiro ferroviário” pela então inexpressiva Companhia Vale do Rio Doce. Casou-se com Jutta Furken, alemã natural de Hamburgo, e desse casamento nasceram sete filhos, dentre eles Eike Batista.

Em 1961 foi nomeado pelo presidente Jânio Quadros para presidir a Vale, ficando no cargo até 1964. Voltou a presidi-la em 1979 (governo militar), ficando no cargo até 1986 (governo José Sarney), transformando-a em uma das maiores mineradoras do mundo. Foi responsável pelo Programa Grande Carajás que explorou as riquezas da província mineral dos Carajás (áreas do Pará até o Xingu, Goiás e Maranhão).

Eliezer Batista era detentor de altíssima sensibilidade empresarial e poliglota autodidata: aprendeu sozinho russo, inglês, alemão, francês, italiano e espanhol (tinha as noções básicas de grego e japonês). Em suas pesquisas e observações econômicas, percebeu que o Japão precisava expandir seu parque siderúrgico danificado pela Segunda Guerra Mundial. Estruturou, então, um sistema inédito de logística (que chamou de “distância econômica”) o qual permitiu que a Vale entregasse minério de ferro, através do Porto de Tubarão ao País do Sol Nascente, no outro lado do mundo, a preços competitivos com o das minas da Austrália (sua vizinha).

Em 1962 (governo João Goulart) a Vale assinou contratos de exportação com 11 siderúrgicas japonesas, válidos por 15 anos, em um total de cinco milhões de toneladas/ano, mais do que o dobro da produção da empresa, que era de dois milhões de toneladas/ano. Isso lhe valeu a fama de “engenheiro ferroviário que ligou a Vale ao mundo” e lhe rendeu a segunda mais alta condecoração feita pelo governo do Japão, a “Ordem do Sol Nascente”, entregue pessoalmente pelo imperador Hiroíto.

Eliezer foi ministro de Minas e Energia no governo do presidente João Goulart, quando implementou o projeto do Porto de Tubarão, comandando sua construção com o irrestrito apoio de San Tiago Dantas, ministro da Fazenda. Como ministro acumulou a presidência da Vale, o cargo de Presidente do Conselho Nacional de Minas e Energia e a presidência da Comissão de Exportação de Materiais Estratégicos. Era um político de muitos poderes e bajulado por todos.

Em 1964, protegido pelo general Castelo Branco, primeiro presidente da República dos governos militares, assumiu os cargos de diretor-presidente da empresa Minerações Brasileiras Reunidas S.A. (resultado da fusão da Caemi com a Bethehem Steel) com sede no Rio de Janeiro, e o cargo de vice-presidente da Itabira Internacional Company, com sede em Nova Iorque. Em 1968 assumiu, cumulativamente, a diretoria da Itabira Eisenerz GmbH, em Dusseldorf (Alemanha Ocidental). Em 1974 assumiu a presidência da empresa Rio Doce Internacional S.A., subsidiária da Vale em Bruxelas. Em 1979, a convite do general João Figueiredo, então presidente da República, voltou à presidência da Companhia Vale do Rio Doce, cargo que exerceu até 1986, no governo de José Sarney, quando retornou à Rio Doce Internacional.

A Caemi Mineração foi criada em 1942 com o nome de Icominas e, em 1950, foi transformada em holding para explorar jazidas de manganês na Serra do Navio, no Amapá, tornando-se a maior empresa privada do ramo de mineração. Nos anos 1960 foi criada a empresa Minerações Brasileiras Reunidas S.A. (fusão da Caemi com a Bethlehem Steel, grupo norte-americano de mineração). Em 1996 a MBR liderou um consórcio que venceu o leilão de privatização da Malha Sudeste da Rede Ferroviária Federal, formando a MRS Logística S.A.

Em 1982 Eliezer Batista e Antônio Dias Leite Junior (engenheiro, economista, político, ministro de Minas e Energia entre 1969 e 1974, ex-presidente da Vale, ex-secretário de política econômica do Ministério da Fazenda) fundaram a Companhia de Mineração e Participações (CMP), em nome de Eike Batista e do filho de Dias Leite. John Aoki, empresário japonês que tinha negócios com a Vale foi acionado para financiar a nova empresa.

Eike Batista se beneficiou da enorme rede de influência de seu pai. Eliezer, inclusive, foi acusado de ter entregado ao filho um mapa com as minas que a Vale descartara para que ele as explorasse sem qualquer custo de pesquisas ou prospecções. Dias Leite e Eliezer, dois poderosos articuladores do setor de mineração, abriram as portas do “mundo político” e do “mundo econômico” agendando reuniões com governadores, políticos, parlamentares e grandes investidores internacionais para seus filhos.

O presidente Fernando Collor de Melo, em 1990, convidou Eliezer Batista para um ministério. Inicialmente ele não aceitou, mas em 1992 assumiu a Secretaria de Assuntos Estratégicos, direcionando a atuação do órgão para os problemas ligados ao desenvolvimento econômico do país, principalmente para a crise do setor elétrico. Em 1997 deixou a Rio Doce Internacional e assumiu uma cadeira no Conselho Coordenador de Ações Federais do Rio de Janeiro. No mesmo ano participou da Fundação do Conselho Empresarial Brasileiro de Desenvolvimento Sustentado. Em 1998, no segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, foi membro do Conselho Coordenador das Ações Federais no Rio de Janeiro, órgão ligado à presidência da República, onde mantinha status de ministro.

Nos treze anos de governo petista Eike Furken Batista da Silva apenas expandiu seus negócios que já estavam consolidados. Portanto, “ele não é cria do lulo-petismo” nem da “privataria tucana”. Eike Batista é consequência da corrupção que grassa em Pindorama desde o pós-Segunda Guerra Mundial.

LANDES PEREIRA. Economista com mestrado e doutorado. É professor de Economia Política.

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