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Professor Valdivino Sousa concede entrevista sobre o ensino de Matemática

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Valdivino Alves de Sousa é Professor, Matemático, Contador, Bacharel em Direito e Escritor. Autor de dez livros e vários artigos, é pesquisador sobre Educação no Ensino Aprendizagem de Matemática. Linhas(s) de Pesquisa / Área de Interesse: Engenharia Didática em Matemática; Modelagem, Construção do Conhecimento em Matemática;   Modelos Matemáticos e suas Aplicações.  Seu trabalho é reconhecido com Medalha de Mérito como docente pelo Instituto Matematics. Docente nos cursos de Matemática, Pedagogia, Ciências Contábeis, Administração e Engenharia.

O professor concedeu entrevista para o jornal Ciência,  na qual ele fala sobre  as dificuldades acerca do ensino de Ciências e Matemática no Brasil. Veja na íntegra:

Jornal Ciência — O senhor  teve dois artigos premiados e também recebeu troféu sobre seu mérito pelo seu empenho no ensino de Matemática. Conte um pouco sobre os objetivos de cada um deles e quais suas principais conclusões. Qual a realidade do ensino nessas duas áreas que você atua hoje no Brasil? 

Valdivino Sousa — Eu atuo em duas áreas como professor de matemática e professor de contabilidade, na contabilidade por atuar na área há mais de 15 anos ai juntei uma com a outra. Quanto a ensino de Matemática, falta profissionais qualificado com uma didática apropriada para tal. Existem pessoas em sala de aula que não tem formação na área e estão lecionando. Se não for implementada uma política científica e educacional adequada, possivelmente o Brasil passará por séries crises econômicas nas próxima décadas. Quanto ao ser premiado para mim foi uma alegria e satisfação imensa, acho que qualquer profissional ser reconhecido ficaria feliz.

Jornal Ciência — Quais os motivos do declínio do ensino de ciências e da matemática? Esse é um problema só da escola pública ou se também se reflete na rede particular?

Valdivino Sousa —  O problema tem como principal causa o ensino de ciências e matemática da educação básica, a criança não é estimulada no sentido de vincular o conteúdo destas disciplinas com seu cotidiano. Isto gera um alto grau de desinteresse por parte do aluno, pois para ele de nada serve este tipo de conhecimento. Como consequência, o aluno cursa o ensino médio ainda mantendo aquela visão errônea adquirida quando iniciou seus estudos no ensino fundamental, dificultando a tarefa do professor do ensino médio em aplicar um processo de ensino-aprendizagem que leve o estudante a compreender não somente a importância da ciência, como também o estado da arte que se “esconde” por traz destas áreas do conhecimento. Na rede particular, excetuando-se uma pequena parcela, tal deficiência também encontra-se presente, até mesmo aqueles colégios que conseguem fazer com que seus ex-alunos consigam uma vaga em universidades altamente concorridas, pois estes estudantes são preparados para passar no vestibular, o que não significa necessariamente que sua compreensão a cerca dos conceitos que envolvem a ciência e a matemática foram de fato concebidos por parte destes alunos.

Jornal Ciência —  A que o senhor atribui o desinteresse por essas disciplinas? Os professores estão preparados para transmissão desses conhecimentos? Que análise o senhor faz das práticas pedagógicas hoje desenvolvidas no Brasil? Elas atendem às necessidades dos estudantes? 

Valdivino Sousa —   Os jovens egressos do ensino médio, não possuem o conhecimento adequado para optar por estas carreiras pelos mesmos motivos que citei anteriormente. Isto explica a segunda questão, pois a baixa procura por cursos de licenciaturas em ciências e matemática gera pouca oferta por parte das instituições de ensino superior promovendo cursos de baixa qualidade. Quanto às necessidades dos estudantes, voltamos novamente à questão motivacional que deveria ser praticada já na pré-escola e a baixa qualidade dos cursos de graduação formadores de professores.

Jornal Ciência —  Em sua opinião quais os reflexos práticos da deficiência do ensino nessas áreas ? De que forma o senhor considera que isso influência na vida dos indivíduos e da sociedade?

Valdivino Sousa — Em longo prazo de tempo, tal deficiência pode desencadear uma crise econômica em âmbito nacional e decréscimo da qualidade de vida da nação como um todo. A compreensão da ciência e da matemática em qualquer faixa etária, faz com que o cidadão adquira certas habilidades e competências que o permite conceber com maior facilidade diversas situações de seu cotidiano, aumentando suas chances de tomar a decisão correta, até mesmo aquelas que em princípio não tenham qualquer correlação com a ciência e matemática.

Jornal Ciência — O que falta para que as ciências e a matemática despertem o interesse dos estudantes. Quais as perspectivas para essas disciplinas no Brasil?

Valdivino Sousa — Em 2006, a Organização das Nações Unidas ONU, declarou o ano de 2009 como o Ano Internacional da Astronomia. Este programa teve a adesão de mais de 130 países do mundo que se uniram pela mesma causa, Despertar nos Jovens o Interesse pelas ciências. A abrangência deste programa internacional já é por si só um fato histórico, pois praticamente todas as nações do mundo uniram-se pela mesma causa. O Brasil encontra-se à frente de todos os países ricos participantes, como a União Européia, EUA e Japão, quanto a quantidade de pessoas atendidas pelo programa, ou seja pela primeira vez na história do mundo, um país em desenvolvimento lidera um programa mundial de escopo cultural, educacional e de divulgação científica. Além disto, algumas ações educacionais e científicas em âmbito federal já estão sendo implementadas, visando a melhoria da educação e o melhor aproveitamento para o Brasil das pesquisas realizadas por cientistas Brasileiros.

 Jornal Ciência — Como o conhecimento sobre gestão pode auxiliar diretores a melhorar a qualidade do ensino?

Valdivino Sousa — Dirigir uma escola é uma atividade extremamente complexa. Envolve não só gerir recursos físicos e financeiros, mas pessoas. Também tem uma dimensão importante de relação com as famílias e a comunidade. O dia a dia da escola requer trabalho em equipe e criatividade, em um ambiente onde o professor tem uma autonomia considerável na sala de aula, quando comparada a outras profissões. O diretor de escola precisa ser uma liderança pedagógica capaz de inspirar, mobilizar e apoiar professores e funcionários em prol do aprendizado de todos os seus alunos. Não se pode, portanto, exigir que um diretor já chegue pronto, dominando todas essas competências. É papel do sistema educacional qualificar esses profissionais para que possam ter êxito em seu trabalho.

Jornal Ciência  — Como a senhora enxerga a posição da educação brasileira hoje em relação a outros países?

Valdivino Sousa — O Brasil tem conseguido obter avanços significativos em um curto espaço de tempo, se considerarmos que a ampliação do acesso ao Ensino Básico é um fato recente em nossa história. Há ainda muito a avançar e, ao mesmo tempo, já podemos observar experiências com êxito de redes públicas daqui. Os sistemas educacionais de maior desempenho no mundo, incluindo os que têm conseguido maior evolução nas últimas duas décadas, são aqueles que combinam qualidade com equidade. Ou seja, desenvolvem políticas públicas focadas em promover o sucesso escolar para todas as crianças e jovens, independentemente da sua posição socioeconômica. Além disso, esses países evitam políticas que conduzam à repetência e ao abandono escolar. A questão é se perguntar em quais áreas são feitos os investimentos, e como se avalia sua eficácia na aprendizagem.

Jornal Ciência  — Atualmente, parte dos diretores das escolas não tem formação focada na gestão. Existem iniciativas que podem auxiliar nesse aspecto?

Valdivino Sousa — Já podemos observar uma busca por estratégias de certificação de candidatos a diretores, que envolve a formação. Ou seja, já há um reconhecimento de que o processo de seleção — seja ele nomeação, concurso ou eleição — por si só não garante as condições necessárias para que o gestor escolar tenha um bom desempenho em sua função. Ainda precisamos avançar mais em conteúdos e estratégias de formação inicial e continuada que instrumentalizem e apoiem gestores escolares para lidar com a complexidade do cotidiano escolar. Estratégias como tutoria e residência para diretores — acompanhamento prático de alguém mais experiente, no próprio cotidiano da escola — são ainda pouco conhecidas no Brasil como as áreas de política pública. Nós, adultos, aprendemos observando, dialogando, colocando em prática, aprendendo com nossos erros e tendo alguém para nos auxiliar nesse processo.

Jornal Ciência   — O que é importante para a formação de diretores?

Valdivino Sousa  — A formação de diretores precisa estar articulada a elementos relevantes da gestão. Podemos elencar alguns:

1) Perfil, atribuições e competências de um gestor escolar para que sua atuação tenha foco na melhoria da aprendizagem dos alunos.

2) Critérios, instrumentos e processos de recrutamento e seleção eficazes, transparentes e consistentes na avaliação de candidatos.

3) Oportunidades de liderança entre professores e outros membros da equipe escolar (grupos de trabalho inter e intraescolares, forças-tarefa, mentores, redes colaborativas), a fim de identificar e desenvolver futuros gestores e diretores em potencial.

4) Plano de carreira atrativo que reconheça o desempenho dos profissionais e possua maior flexibilidade e mobilidade.

Valdivino Sousa é Professor, Matemático, Contador, Bacharel em Direito e Escritor.  Pesquisador sobre Engenharia Didática em Matemática; Modelagem; Construção do Conhecimento em Matemática;   Modelos Matemáticos e suas Aplicações.  Site: http://www.valdivinosousa.mat.br

Fonte: Jornal Ciência

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