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O escárnio da Medalha Farroupilha a Jean Wyllys

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Na esteira de turbulência provocada pelo magnífico texto do Dr. Milton S. Pires, publicado em 29.03.17, que levou o título  ‘Uma data que vai entrar para a História da infâmia do Rio Grande do Sul’ (veja aqui), e que trata sobre a questionável outorga  da MEDALHA FARROUPILHA ao Deputado Federal JEAN WYLLYS, acontecida em 28.03.2017, por iniciativa da  Deputada  Estadual  Manoela D’Ávila, submetida  à Mesa Diretora da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, que aprovou e concedeu essa honraria, permito-me acrescentar aos argumentos  irrebatíveis do autor dessa crítica, alguns  outros elementos que me surgiram.

Como sabido, o parlamentar homenageado se trata de uma cria ‘exótica’ da Rede Globo, oriundo do conhecido programa de baixo nível que ela apresenta na televisão, denominado ‘Big Brother Brasil-BBB’, e que procura acima de tudo rebaixar a cultura e os costumes dos brasileiros ao que existe de mais decadente na sociedade, notadamente em termos morais.

Sem dúvida esse programa pode ser considerado um ‘vencedor’. Um vencedor ‘às avessas’, mas sem deixar de ser  um vencedor.

Conseguiu erguer à condição de ‘herói’ nacional, conduzindo-o até uma cadeira na Câmara Federal, uma ‘bichona’ que não possui qualquer outra ‘virtude’  que não aquela que mais o caracteriza, e que  ele assume publicamente, a de ‘cuspir’ no rosto de colegas do parlamento. Porém o perfil desse Deputado, apesar de ser diferente dos outros, não destoa muito do perfil moral da maioria deles. Todos são egressos de uma falsa democracia, de uma democracia avacalhada, que por ser falsa, evidentemente não é democracia, e sim a sua contrária, a oclocracia, que em última análise é o sistema de escolha política onde os piores são os eleitos.

Mas a oclocracia não afeta somente os parlamentos. Ela também dá presença no Poder Executivo, onde Prefeitos, Governadores e Presidentes da República são eleitos sob as suas ‘luzes’. Essa realidade contamina também, porém indiretamente, o próprio Poder Judiciário, através dos seus Tribunais, quando e onde os seus membros são escolhidos pelos Chefes do Poder Executivo. Essa pode ser considerada a ‘quadrilha’ dos Três Poderes, protegendo-se reciprocamente dos crimes praticados por seus membros.

Pessoalmente participo do projeto Independentista do Sul desde a década de1980, época em que lancei, em 1986, ‘Independência do Sul’, pela Martins Livreiro Editor, onde propus o início de uma  discussão sobre a eventual vantagem de construir-se  um ‘Sul Independente’, formado pela união dos 3 Estados Meridionais do Brasil (PR, SC e RS), e também sugerindo estender essa discussão aos povos de outras regiões eventualmente interessadas nesse tipo de proposta. 

Hoje essa ‘expansão’ tornou-se uma realidade.

O Brasil está ‘pipocando’, em vias de fragmentar-se. É natural num ‘país que não deu certo’.                                                          

Mais tarde, já em 1990 (31 de maio), participei da fundação do PARTIDO DA REPÚBLICA FARROUPILHA-PRF, ocorrida em Assembleia Geral Constituinte, no Plenarinho do Legislativo RS, onde fui eleito seu primeiro Presidente.

Mas apesar de preenchidos todos os requisitos legais para constituição de um partido político como pessoa jurídica, que seria o primeiro passo nos termos da legislação dos partidos políticos, o registro foi negado pela Justiça(TJRGS), por razões absolutamente estúpidas, voto vencido do Eminente Desembargador Sérgio Pilla da Silva. Mas o PRF não morreu. Ideias ninguém consegue matar. Nem a Justiça.   Mas ‘eles’ não sabem disso. Hoje as ideias do partido rejeitado estão mais vivas do que nunca, apesar de formalmente ter sido um projeto frustrado pelas autoridades brasileiras.

A bandeira dessa causa é levada com muita garra e competência pelo MOVIMENTO O SUL É O MEU PAÍS, que tem obtido inúmeras vitórias junto à opinião pública sulista, numa das quais, o PLEBISUL de 2016, obteve cerca de 95% de aprovação dos que compareceram às urnas, apesar do permanente boicote e vigília das autoridades brasileiras, que inclusive se negam a permitir uma consulta plebiscitária oficial a respeito.

Portanto, escrevo com a autoridade de quem tem forte ligação moral com a causa FARROUPILHA, para criticar a outorga dessa medalha a um impostor egresso da oclocracia tupiniquim, que nada teve, tem ou terá com o Rio Grande, numa iniciativa de total desmoralização ao verdadeiro espírito FARROUPILHA.

Esses deputados e outras autoridades de ‘merda’ confundem a causa farroupilha, de ontem e de hoje, com as festanças que acontecem na Semana Farroupilha, com as suas ‘fanfarronices’, com os ‘farroupilhas de festim’. Muitos deles até se ‘pilcham” e têm a ousadia de subir nos palanques oficiais, apesar do rechaço que fazem a tudo que se relacione à retomada do projeto farroupilha, como fizeram com pessoal do MSMP.

Mas a concepção ‘farroupilha’ equivocada dos parlamentares gaúchos, estaduais e federais, tem precedentes ainda piores do que o deboche da simples outorga dessa medalha a Jean Wyllys. Em novembro de 2015, após agendadas audiências com essas autoridades, uma grande comitiva de Independentistas dos três Estados do Sul , integrantes do ‘Movimento o Sul é Meu País’, compareceu primeiro ao Palácio Piratini para entregar ao Governador Sartori um documento em que se buscava reforço para a realização de um plebiscito autodeterminista  oficial . Mas o Governador não estava lá na hora ‘h’. Tinha ‘fugido’, apesar de marcada a audiência. Em seguida a caravana se dirigiu a Assembleia Legislativa e  ali foi recebida na porta de entrada  do prédio  pelo Presidente da Assembleia, Deputado Edson Brum, que nem teve a gentileza de mandar entrar na ‘Casa do Povo’. Toda a caravana ficou na rua.

Em vista de tais acontecimentos, a exemplo do que escreveu o Dr. Milton Pires, minha condição de gaúcho também ficou envergonhada com a estupidez da entrega dessa medalha ao parlamentar agraciado. E não pense a autora dessa iniciativa, a Deputada Manoela, e a ‘curriola’ dos seus fanáticos seguidores, que essa honraria tenha aprovação do Povo do Rio Grande.

Não vai tardar, e ‘terá volta’.

Sérgio Alves de Oliveira

Advogado e Sociólogo

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