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Negócio sujo e perigoso

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Hipocrisia e desinformação certamente são palavras mais que adequadas para definir fatos e mais fatos da história de um negócio sujo e perigoso: no Brasil, o comércio de agrotóxicos rende algo em torno de cinco bilhões de dólares anuais aos fabricantes de herbicidas, pesticidas, inseticidas e outros cidas (que mata, que fere) menos votados. Dizem que o Brasil é o quinto maior consumidor do mundo. 

Mas quanto o País consome de agrotóxicos? Quantas pessoas são contaminadas no campo e na cidade todos os anos? Quantas pessoas ficam doentes ou morrem devido ao manuseio ou ingestão desses venenos? Qual é a quantidade de pesticidas presentes nos alimentos que chegam à mesa do cidadão todos os dias? Ninguém responde a estas perguntas – nem governo, nem fabricantes, nem políticos, nem ongs. Há cerca de 50 anos – quando começou o que passou a chamar-se revolução verde – que se usam produtos químicos na agropecuária e as autoridades desconhecem a realidade brasileira.

No campo, os agricultores são constantemente contaminados devido ao manuseio e ingestão, adquirem problemas de saúde os mais diversos por causa dos pesticidas: dores de cabeça constantes, diarréia, doenças neurológicas, enjôos, fraqueza, morrendo com freqüência assustadora. Mas não se associam esses problemas de contaminação aos agrotóxicos. Na cidade, as pessoas nada sabem sobre a qualidade dos alimentos que estão consumindo. Por isso, há cada seis meses, há um assombro no País quando a imprensa toca no assunto.

No Brasil e em vários países do mundo os organoclorados são proibidos. Mas aqui são usados até por horticultores. No campo, é obrigatório o uso dos equipamentos de proteção individual (epis) —fabricantes de agrotóxicos, Governo, extensão rural e estabelecimentos de ensino, todos são unânimes em recomendar o seu uso, mas ninguém o faz. Mas cada vez que a mídia toca no assunto o Governo faz ouvidos moucos e prefere jogar a culpa no trabalhador rural. Na opinião de quem está nos gabinetes e dos fabricantes, o agricultor é um suicida, porque nada faz para se proteger dos venenos.

Existem leis as mais variadas para proteger o trabalhador rural. É o caso do receituário agronômico (a receita emitida pelo agrônomo), que é exigido na compra agrotóxicos, como acontece com as receitas médicas. Só que ninguém dá bola para o papelucho —qualquer um compra veneno agrícola no armazém da esquina. A falta de controle no comércio e a bagunça no uso de agrotóxicos, é ótima para os fabricantes: sem informações e dados concretos e confiáveis, o cidadão não tem como questionar.

Enquanto isso, continuamos sendo envenenados todas os dias, quando degustamos a nossa saladinha diária, a feijoada de todos os sábados, o cheese-salad das horas de pressa, a caipirinha do happy hour, provando mais uma vez que não é que o crime não compense —quando compensa, muda de nome. Um deles é produção de agrotóxicos.

Luca Maribondo

Kerobokan I Bali I Indonésia

LucaMaribondo@gmail.com

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