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Na contramão da história MPF proíbe fazenda de fazer encenação sobre escravidão

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Uma fazenda no Vale do Paraíba foi proibida de proporcionar uma visita guiada que era uma imersão nos tempos dos senhores do café (veja aqui notícia sobre o assunto).

O motivo: racismo. 

Onde estava o racismo: no fato de os visitantes serem servidos por atores negros, vestidos como escravos.

Não, não havia pelourinho.

Nem chibatadas.

Nem abusos.

Nem ofensas raciais.

Era uma espécie de viagem no tempo: não se visitava apenas a fazenda, mas o tempo em que a fazenda viveu seu apogeu.

Era uma encenação. Era teatro.

Como o que se faz na Serra Gaúcha com a imigração italiana, a cada Festa da Uva.

Aguarda-se que a qualquer momento o Ministério Público proíba também as novelas de época, os filmes que tratem do período da escravidão. 

E destrua as gravuras de Debret e Rugendas. 

E mande rasgar os livros de Machado de Assis (em "Dom Casmurro", há páginas hediondas em que Bentinho manda "um preto" dar um recado, compra cocadas de uma escrava para dar a Capitu, e ele próprio vive do trabalho de negros adquiridos para tal finalidade).

E, claro, não se esqueça de banir também as encenações da Paixão de Cristo - porque assim deixam de existir o domínio romano, a perseguição aos judeus, as execuções na cruz.

Como em "1984", já está criado (informalmente) o "Ministério da Verdade", para reescrever a História.

Sem escravos, que deixam oficialmente de existir.

Eduardo Affonso

Foto de Eduardo Affonso

Eduardo Affonso

É arquiteto no Rio de Janeiro.

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