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A desgraça em que se transformou o Rio de Janeiro e todo o Brasil

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‘Meu sentimento é de muita revolta. Estou me sentindo abandonado pelas autoridades. Não tem ninguém dando suporte. Quem está com a gente são os amigos. São eles que estão dando força, nos ajudando a tomar providências’. Este é o desabafo de Leandro Monteiro de Matos, de 39 anos, pai de Vanessa Vitória dos Santos, de 10 anos, morta com um tiro na cabeça na terça-feira (4) durante um confronto entre policiais militares e bandidos no Complexo do Lins, Rio de Janeiro.

A outrora Cidade Maravilhosa e todo o país estão completamente perdidos e o povo brasileiro ao desamparo. As chamadas ‘autoridades’ não passam de patifes-corruptos no cargo. Mas a Lei do Carma será implacável com todos eles. É apenas questão de tempo. Aqui se faz, aqui se paga.  Nenhum deles chora por sua filha, Leandro. Nenhum deles procurou você e sua família e nem vai procurá-los. Nem a Igreja. Cadê o Cardeal Tempesta?. Cadê o prefeito do Rio?. Cadê o governador do Estado do Rio?. Cadê o presidente do Brasil?.

Essa gente não se sensibiliza com a tragédia, mesmo sendo responsáveis e culpados. O prefeito chegou dias atrás da Holanda e já voltou para a França, vizinha à Holanda. O presidente vai hoje para a Alemanha. O governador...bom, o governador nem se sabe onde anda, ou se ainda consegue andar.

Pafifes. Mencionei o cardeal porque ele, ao menos para o catolicismo, é a maior autoridade eclesiástica desta metrópole sanguinária e sangrenta que é o Rio de Janeiro. Mas nada é novidade.

Anos atrás a menina Adrielly foi atingida com um tiro na cabeça no Méier, subúrbio do Rio. Levada para o Hospital Municipal Salgado Filho, não pôde ser operada porque o cirurgião doutor Adão faltou. Não estava no plantão.

Transferida para o Hospital Municipal Souza Aguiar, a menina agonizou 11 dias no CTI e seus pais, também por 11 dias, permaneceram na porta do hospital. Quando chovia, se abrigavam na parte coberta. Todos os dias os noticiários das televisões mostravam os dois sentadinhos na mureta do Souza Aguiar. Definharam, de tanto chorar. E ninguém foi até eles para levar carinho, amor e sustentação para suportar tamanha dor. No 11º dia Adrielly morreu. Também nenhuma autoridade foi ao enterro.

Enquanto tantas mortes, tanto sofrimento acontecem, o presidente Temer está comprando votos na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados para que a denúncia do Procurador-Geral Rodrigo Janot não seja aprovada. Comprar votos não é crime eleitoral?. Não importa se em pleitos eleitorais ou em escrutínios entre os já eleitos, empossados e no exercício do cargo. Tudo, enfim, é pleito, é votação. Ou se não for crime eleitoral, não é corrupção ativa?. Não é concussão ("exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida")?. Não é obstrução da Justiça?

Afinal, esta primeira denúncia do dr. Janot contra Temer é denúncia pela prática de crime comum. Foge do âmbito legislativo e é da competência do Judiciário, a ser julgado por sua expressão maior, que é a Suprema Corte, o STF. 

Chora, Leandro!. Choram muitos e muitos outros pais e mães pelas mortes de seus pequenos filhos. Chora, Claudinéia! A bala atingiu você e se alojou bebê ainda dentro do seu ventre. Nem ainda tinha nascido, e já foi baleado! Chora o Rio, chora todo o povo brasileiro. É um choro de dor e de ódio. Os chamados governantes são bisonhos. Mais que isso, são covardes. Mais que isso, são boçais. Mais que isso, são corruptos. E tudo isso junto.  

Jorge Béja - Advogado no Rio de Janeiro e especialista em Responsabilidade Civil, Pública e Privada

(UFRJ e Universidade de Paris, Sorbonne). Membro Efetivo do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB)

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Jorge Béja

Advogado no Rio de Janeiro e especialista em Responsabilidade Civil, Pública e Privada (UFRJ e Universidade de Paris, Sorbonne). Membro Efetivo do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB)

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