Roberto Medina, o ricaço que ameaça deixar o Brasil e seu povo

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Tudo o que vai escrito neste artigo, se for injusto ou improcedente, o articulista desde logo pede desculpas e garante o direito de resposta, de esclarecimento, pleno e irretocável, neste mesmo espaço e tamanho.

O carnaval é festa secular do povo. Já o Rock in Rio, que começa hoje, sexta-feira (15) e só termina no domingo (24), não é festa popular. E o lucro que gera vai para a conta de seu idealizador, Roberto Medina.

Nada contra o empreendimento e o lucro. Somos país capitalista em que a competição e a livre iniciativa são suas marcas. Mas não se pode concordar, nem admitir, com o que disse o milionário empresário, referindo-se ao povo brasileiro e principalmente aos cariocas:

"Nós estamos com uma sensação de 'vira-lata' maior do que o que está acontecendo aqui no Rio de Janeiro" (G1, de 12.9.2017).

Não, seu Medina. Nem o povo brasileiro nem os cariocas se sentem "vira-latas". O que todos nós sentimos é dor, revolta, indignação, abandono. Nos somos vítimas da violência urbana e da corrupção, que atingem corpo e atingem na alma. E quem sente tudo isso, e de uma só vez (o que é muito pior), não pode ser qualificado de "vira-lata". Isso é ofensivo, seu Medina.

Aos repórteres Daniel Teich e Sofia Cerqueira, da Veja-Rio, o senhor demostrou irritação com o "imobilismo e a falta de reação dos cariocas". Declarou o senhor, textualmente:

"O que me incomoda é a apatia da sociedade como um todo, e aí incluo os políticos, empresários e o cidadão comum. Quantas mortes mais serão necessárias para que as autoridades daqui acordem e tomem providência na área de segurança? Agora podemos resolver com bom-senso e equilíbrio. Mais tarde essa situação será solucionada pelas ruas, e as consequências serão muito piores".

Não, seu Medina. O povo brasileiro e os cariocas não estão nem são apáticos. O que sentimos é medo. Medo, descrença e ódio.  O povo está exprimido numa prensa, ajustada e pressionada ao máximo por anões boçais, que querem ver o povo sofrer e morrer. 

Indagado pelos referidos jornalistas da Veja-Rio, disse o senhor:

"Vou dizer uma coisa que nunca disse a ninguém: se nada mudar neste pais, esse será o meu último Rock in Rio. Não faz sentido ficar aqui. E não é para ir para Portugal, é para sair daqui. Não consigo conviver com tanta incompetência e falta de cidadania".

Bravo, seu Medina!. O milionário empresário quer deixar seu povo, sua gente, sua pátria, comendo o pão que o diabo amassou e quer cair fora. E de vez, para nunca mais voltar. Isso é que é falta de cidadania, seu Medina. O senhor que tanto lucrou à custa do povo com o seu Rock in Rio, ameaça deixar este povo entregue à própria sorte.

Não pense assim, não, seu Medina. Seu pai foi um respeitado e próspero comerciante de eletrodomésticos que jamais diria o que o filho está dizendo. Quando eu era menino, eu ia tocar Mozart, Chopin, Liszt, e outros clássicos nos pianos do "Rei da Voz" no centro da cidade. Era para atrair o povo que passava pela calçada. E a porta da loja ficava cheia. E seu pai, que era o dono da loja e da rede, ao meu lado. O que ganhei com isso? Um presentão, que foi a amizade e o carinho de seu saudoso pai. Era tudo o que queria.

A propósito: o senhor que ameaça cair fora do Brasil e ir morar em outro país, pergunto: qual ou quais os gestos concretos de benemerência que o senhor já praticou em favor dos menos favorecidos, dos pobres, dos vitimados, dos sem vez, sem voz e sem visibilidade? Conte-nos. O que fez e faz com tanto dinheiro, mormente com as edições do Rock in Rio, aqui e em outros países?

Ora veja só, ler que o senhor pretende deixar seu país e seu povo, francamente, causa náusea. No lugar desta desastrosa e agressiva ameaça, pergunto se o senhor estaria disposto a doar parte do lucro, não de todos, mas desse Rock in Rio/2017 e que começa hoje (15) para amparar as 102 famílias dos policiais militares do Rio que foram assassinados. Para as famílias e para a própria corporação, que anda desfalcada de armamentos e equipamentos adequados para combater a criminalidade.

Por que o senhor não dedica parte da dinheirama com o lucro do Rock in Rio/2017 para ajudar os funcionários e aposentados do Estado que estão sem receber seus salários e proventos?

Seu Medina, pegue seu carro e vá até o Abrigo Cristo Redentor. Veja a penúria em que vivem idosos e os sem-ninguém que estão lá. Tudo está caindo de podre. E o senhor ainda tem a petulância de dizer que vai cair fora, e certamente com malas e caixas cheias de dinheiro?

Sim, sabemos que não é o dinheiro do Geddel. Que seu dinheiro é limpo. Mas é dando que se recebe. E a vida não foi cruel com o senhor. Pelo contrário, bonísssima.

Todos nós gostaríamos de ouvir falar no senhor e sobre o senhor no espaço de tempo entre um Rock in Rio e outro. Ouvir e saber de seu trabalho do seu empenho em favor do Rio e sem interesse financeiro. Nada de lucro monetário. O lucro seria para toda a sociedade desvalidada. Pena que o senhor só aparece nas ocasiões do Rock in Rio.     

Foto de Jorge Béja

Jorge Béja

Advogado no Rio de Janeiro e especialista em Responsabilidade Civil, Pública e Privada (UFRJ e Universidade de Paris, Sorbonne). Membro Efetivo do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB)

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