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Um museu especial

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Durante recente palestra do prof. Gilson Rodolfo Martins no IHGMS, lembrei-me da inauguração do Museu de Arqueologia da UFMS, que representou um salto de qualidade às atividades culturais e educacionais de Campo Grande. A sua vitrine, como assim é chamada a parte visível da instituição, de fácil acesso ao público, é apenas uma parcela de um grande acervo de peças, documentos, fontes bibliográficas e laboratórios, acessíveis a estudantes e pesquisadores.

O MuArq desmistifica a impressão de que um museu é sempre um repositório de coisas velhas, empoeiradas e estáticas. A sua concepção (idealizada pelos museólogos da USP, Maria Cristina Bruno e Maurício Cândido da Silva, e capitaneado pelos doutores Gilson Martins e Emília Mariko Kashimoto), reuniu peças arqueológicas dos povos antepassados de nossa região, de incalculável valor, com um projeto moderno que permite ao visitante interagir com um passado mais remoto. É uma aula sobre as nossas raízes que jamais se esquece. Além disso, antes do espaço onde estão localizadas as peças, o visitante passa  por um aconchegante auditório, onde é apresentado um vídeo de 30 minutos com explicações didáticas sobre a história arqueológica do estado de Mato Grosso do Sul. É um espetáculo fascinante.

Isto tudo, porém, só foi possível pelos esforços de um grupo de pesquisadores da UFMS, liderado e coordenado pelo professor Gilson, com a participação dos também especialistas nesse campo de saber, Emilia Kashimoto e José Luís Santos Peixoto. Assim, o farto material coletado nos mais diversos pontos da grande região mesopotâmica, limitada pelas bacias dos rios Paraná e do Paraguai, foi resultado de um exaustivo trabalho desses professores e pesquisadores na área da Arqueologia. Esta história iniciada em 1987, a partir do Laboratório de Pesquisas Arqueológicas do Campus de Aquidauana/UFMS, conseguiu reunir, segundo Gilson Martins, “um extenso e representativo acervo composto por mais de oitenta mil peças ou vestígios arqueológicos”, localizado nos campi de Campo Grande, Aquidauana e Corumbá.

Depois, parte desse acervo original, em constantes incorporações, ficou num exíguo e inadequado espaço embaixo do Estádio Pedro Pedrossian. Posteriormente, com a dimensão então adquirida pelo MuArq, seu significado e importância extrapolaram os limites da UFMS, e seu fortalecimento ocorreu com novas parcerias. Contando com o apoio da Petrobras Cultural, do Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (Iphan) e da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, o MuArq passou a ter uma nova cara em sua definitiva morada no Memorial da Cultura e Cidadania Apolônio de Carvalho, sede da própria Fundação de Cultura, do Arquivo Público do Estado e da Biblioteca Estadual. Este belo prédio, por suas funções culturais, sem dúvida está no roteiro turístico de Campo Grande.

É interessante notar que a nova instalação do MuArq coincidiu com o Ano Ibero-Americano de Museus, comemorado no seu Dia Internacional e que teve como tema “museus como agentes de mudança social e desenvolvimento”. Não tenho dúvida de que o “nosso” museu tem contribuído em muito com o desenvolvimento da capital e do estado.     Assim, a concepção deste museu sul-mato-grossense atende à Política Nacional de Museus que, segundo direção dos Museus e Centros Culturais do Iphan, “tem em sua gênese um caráter democrático e participativo, rompendo com a lógica de barões e vassalos, ampliando os interlocutores, e continua recebendo diversas contribuições que chegam de toda a parte para aperfeiçoar esse processo colocado em marcha ao longo desses anos”.

Foto de Valmir Batista Corrêa

Valmir Batista Corrêa

É professor titular aposentado de História do Brasil da UFMS, com mestrado e doutorado pela USP. Pesquisador de História Regional, tem uma vasta produção historiográfica. É sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de MT, sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de MS e membro da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras.

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