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O fim do projeto de poder, mas não do projeto conceitual do PT

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A nova prisão de José Dirceu, sem receber a solidariedade dos companheiros, deu margem aos seus adversários de tripudiar e decretar o fim do projeto petista.

Ledo engano.

A prisão de JD, efetivamente, decreta o fim do projeto de poder do PT, iniciado em municípios paulistas, quando o PT ainda com base apenas na sua militância e propostas sociais conseguiu eleger alguns Prefeitos. 

Esse projeto concebido por ou sob coordenação de José Dirceu, propiciou a eleição de Lula e depois a sua reeleição e as duas eleições de Dilma Rousseff.

Não foi uma formulação e organização de Lula, ou de qualquer outro dirigente do  PT. Foi de Dirceu, que dentro da concepção de que os fins justificam os meios, passou a utilizar os mesmos meios dos seus adversários: extorquir os fornecedores ou dependentes de regulação estatal, que na sequência gerava os mecanismos de superfaturamento para cobrir as contribuições.  Era a forma de formar caixa para as campanhas. 

Essa montagem, inicialmente primária e amadora foi sendo aperfeiçoada pela mente inteligente e estratégica de José Dirceu. Não de Lula que foi o beneficiário do mesmo e trampolim para os objetivos maiores de JD, frustrada com a defecção de Roberto Jefferson, um dos seus principais parceiros no "mensalão".

Já o projeto ideológico do PT foi fruto da prática de Lula, como líder sindical. Percebendo a insatisfação dos companheiros que trabalhavam nas fábricas, produzindo carros, geladeiras, fogões e outros eletrodomésticos mas não ganhavam o suficiente para poder adquiri-los, Lula os mobilizou para melhorar a sua renda.  

Com objetivos microeconômicos Lula conseguiu mobilizar milhares de trabalhadores e adeptos, em plena ditadura militar e emergiu como o líder dos trabalhadores. Sem contestar diretamente o regime militar. As contestações eram feitas pelos seus adeptos, comunistas, socialistas, esquerdistas em geral contra a ditadura. Essas facções ou correntes viram em Lula o novo grande líder da esquerda brasileira, com potencial para viabilizar o projeto socialista, que sempre teve como base a melhor distribuição de renda entre os brasileiros.

Diferentemente dos comunistas, Lula não tinha a inspiração marxista, tampouco de qualquer outro teórico ou combatente. O seu projeto era legitimamente nacional. Não vinha de orientação soviética, chinesa ou qualquer outra. Não seguia nenhuma cartilha ou livrinho. 

Ele liderava os operários que queriam melhorar a sua capacidade de consumo e viver uma vida de classe média. O que gerou a resistência da classe média tradicional e da elite que não gostava dessa ascensão. E Lula sempre usou esse desgosto para explicar e contestar a oposição a ele e ao PT.

E também tinha a resistência das esquerdas autênticas, pois Lula, comandando o PT não queria confronto com a classe média, com a burguesia, mas ingressar e participar dela. E recusava os fundamentos teóricos e doutrinários. O que levou muitas das autênticas lideranças de esquerda, o abandonarem. Lula e o PT sempre foram uma esquerda pragmática, não uma esquerda ideológica. 

O projeto dele e do PT, que ajudou a fundar sempre foi o das ascensão econômica dos pobres, para alcançarem a classe média e ele via, também e sempre, como adversários a classe média tradicional e a elite. Que se sentiam contrariados em ter que conviver com os emergentes. 

Esse projeto por si só não foi o suficiente para levar Lula e o PT ao poder, embora tenha emergido como uma força política e a principal alternativa da esquerda. 

Depois de 3 sucessivas derrotas na disputa presidencial, com o suporte no projeto de poder, engendrado por José Dirceu, chegaram ao poder.

E, no poder, José Dirceu ampliou e consolidou o esquema que fora antecipado já na campanha eleitoral. 

O "mensalão" foi um "plano B", diante das dificuldades de repatriar recursos recursos guardados no exterior.

O que fora montado para alcançar o poder foi ampliado para garantir a governabilidade, sem sustos, formando uma maioria confortável dentro do Congresso.

O modelo baseado, inicialmente, em verbas de publicidade, principalmente dos bancos oficiais, gerenciado por um ex-operador do PSDB, em Minas Gerais, foi posteriormente levado às outras estatais. Principalmente para a Petrobras.

O esquema inicial, foi descoberto em função de uma dissensão de José Dirceu com Roberto Jefferson, e obrigou aquele a deixar a Chefia da Casa Civil.

Mas José Dirceu, mesmo formalmente fora do poder continuou atuando no comando do esquema, que podemos denominar de PETEZÃO, com ramificações por diversas estatais.

Em função de uma "ponta solta", a lavagem do dinheiro, através de doleiro, a Operação Lava Jato, liderada por um Juiz Federal regional de primeira instância - mais distante das fontes de pressão política - foi puxando o fio de uma grande e extensa rede, trazendo "peixes grandes".

Até chegar aos mentores principais, do lado empresarial e ao mentor chefe do lado político. Como JD está sem cargo público político, não tem foro privilegiado e pôde ser preso por decisão da Justiça de primeira instância. Ao contrário de outros mentores políticos ainda protegidos pelo foro privilegiado.

A prisão de José Dirceu consagra o fim do projeto de poder do PT baseada numa promíscua parceria entre o Governo e os fornecedores do Estado. Embora nem tudo ainda tenha sido desvendado, acabaram as condições para sua continuidade em grande escala. Ainda há pequenos focos. 

O fim do projeto de poder do PT abala o projeto conceitual (porque não é ideológico.mas tem uma concepção) de transformar o Brasil num país de classe média com a quase totalidade da população brasileira com condições de uma vida burguesa. Ainda que pequena burguesa.

Embora não anime os comunistas e socialistas, que continuem se opondo à burguesia e ao capitalismo, o projeto petista é ainda sedutor e continuará ganhando corações e mentes, principalmente dos mais jovens que sonham em acabar com a desigualdade social. 

Passada uma transição de depuração, com a separação do projeto de poder, totalmente vinculada à corrupção, com  o projeto conceitual, este voltará a ser uma proposta forte.

Por volta de 2022 ou, pelo menos, em 2026 o PT voltará com uma forte base eleitoral. A menos que outro partido assuma o projeto, com inovações que o diferencie da proposta petista. Mas com o mesmo objetivo básico: promover a ascensão econômica dos integrantes das ditas classes D e E e a consolidação da ascensão alcançada pela classe C. Ora em risco, com a crise.

Jorge Hori

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