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O que Lula não confessou ao nosso Juiz Moro

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O senhor quer se confessar? – o padre perguntou ao ex-presidente, enquanto entrava no local onde ele vinha sendo mantido preso.

O outro, desconfiado, logo reagiu:

- Confessar? Confessar o que? Eu não fiz nada.

- Eu me referi à confissão tradicional usada pelos católicos. O senhor pediu para falar com um padre e eu achei que ... - o padre tentava explicar.

Sempre alerta, o ex-presidente interrompeu:

- Não tenho nada para confessar. Sou uma vítima de tantas mentiras sobre mim, como o senhor deve saber.

O padre, que sabia que as coisas não eram bem assim, aguardava.

- É que eu ando tendo uns pesadelos... com quem que me mandou pra cá...– o ex-presidente informou, em voz baixa.

- Ah, sim, o senhor está se referindo ao nosso Juiz. – o padre falou.

A reação do ex-presidente foi imediata:

- “Nosso”? Não! Só se for daqueles que vivem batendo palmas pra ele! E pode apostar que esse juiz ainda vai sentir remorso por ter condenado um inocente!

O padre não se conteve e aproveitou para perguntar:

- E o senhor? Sente algum remorso?

- Remorso é para aqueles que não reconhecem o que eu fiz por este país. – o ex-presidente respondeu com ar solene.

Levado pela ousadia, o padre arriscou dizer:

- Aceita um conselho? E se o senhor pedisse desculpas ao povo?

O ex-presidente não esperava por aquilo.

- Pedir desculpas? Isso é o mesmo que confessar que eu agi errado! Espero que o senhor não esteja entre aqueles que me julgam mal, só porque esse juiz mandou me prender.

O padre permanecia inteligentemente calado.

- Mas, pensando bem, - o ex-presidente falou, coçando o queixo, - não é má ideia fazer uma confissão já que o senhor está por perto.

O que o padre escutou, depois, veio num fôlego só:

- Confesso que o “poder” me seduziu e me fez ficar “dependente dele”. Esse tal de poder é como a boa e velha cachaça. Irresistível, sabe? Quanto mais a gente bebe mais tem vontade de beber. Fazer o que? – o ex-presidente disse, culpando o “poder” pela sua trajetória política de “mal feitos”.

O padre, então, falou sem rodeios:

- Para ser sincero, não era exatamente isso que eu esperava ouvir do senhor.

O ex-presidente ficou irritadíssimo.

- Ah, entendi! O senhor esperava que eu confessasse “culpas graves” que eu não tenho, não é? Bem que eu desconfiei! Afinal, com quem estou falando? Com um enviado do Ministério Público? Da Lava Jato? Daquele juiz?

- E porque a nossa Justiça e o juiz, a quem o senhor se refere, me enviariam até o senhor? – o padre questionou.

O outro estava transtornado.

- E porque não? Esse juiz faria qualquer coisa, só pra conseguir o que ele quer! - ele dizia, sem perceber que descrevia a sua própria maneira de ser.

O ex-presidente olhava fixamente para o padre, quando acrescentou:

- Aliás, sabe que o senhor se parece com ele? Até no jeito de falar?

- Não será porque eu também sou do Paraná, de Maringá, e falo como os que são de lá? - o padre perguntou, sem disfarçar uma ponta de ironia.

O ex-presidente esbravejou:

- O senhor e esse juiz são do mesmo lugar? É demais! Desisto! Vocês dois jamais vão me entender!

Aquela “obsessão” não tinha fim.

- Quer saber? - ele continuou. Se o senhor continuar desmerecendo a minha confissão e tentando me convencer a “pedir desculpas ao povo”, eu vou entrar com uma ação contra a sua igreja! Contra o Vaticano! Contra o Papa!

O padre, calmamente, não deixou por menos.

- O Papa está do lado dos brasileiros no combate à corrupção. A mídia já noticiou isso.

- Mais um do lado desse tal juiz! - o ex-presidente disse.

Com uma habilidade simplesmente brilhante, o padre argumentou:

- Nosso Papa só está com a Justiça. E, certamente, o senhor também está com a nossa população e com o que é justo, não está?

Aquela pergunta inesperada deixou o ex-presidente visivelmente sem jeito.

- Claro... Sem dúvida ... – ele falou, pigarreando e tropeçando nas palavras.

Deliberadamente, o padre insistiu:

- Até porque o senhor sabe como os nossos cidadãos vêm sofrendo com tantos atos corruptos, não sabe?

A voz do ex-presidente soou, então, como se ele estivesse em campanha.

- É por isso que eu quero ter a chance de consertar o Brasil, sendo presidente outra vez!

O olhar de incredulidade do padre, em meio ao seu silêncio, fez o ex-presidente se descontrolar por completo.

- Ora, vejam só! Não é que eu estou falando com um “padre politizado” e pronto a me levar a “confessar o que eu não fiz”? E ainda por cima, é parecido com o juiz que detonou com a minha liberdade! Era só o que me faltava!

A exasperação dele não tinha limites.

- Vamos, confesse! Quem mandou o senhor falar comigo? Foi o juiz que me colocou aqui? Foi ele, não foi? Confesse, padre! Confesse!

Foto de L. Oliver

L. Oliver

Redatora e escritora, com diversos prêmios literários, e autora de projetos de conscientização para o aumento da qualidade das sociedades brasileira e global. Participa do grupo Empresários Associados Brasil, que identifica empresas e profissionais em busca da excelência em produtos e serviços no país e no Exterior. Criou e administra o grupo “Você tem poder para mudar o Brasil e o mundo”, de incentivo à população no combate à corrupção. https://www.facebook.com/groups/1639067269500775/?ref=aymt_homepage_panel

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