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A multidão que aplaude o seu coroamento é a mesma que aplaude a sua decapitação

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O povo é historicamente uma contradição. Quando perguntado 'Cristo ou Barrabás?', escolheu Barrabás - aconteceria de novo, não tenho dúvidas. O mesmo povo lotava arenas para assistir a gladiadores lutarem com leões, na esperança de os ver dilacerados, numa torcida voraz a favor dos leões, mas quando o gladiador invertia a situação e dominava o animal, a platéia vibrava com a agonia do bicho e a glória do lutador. Vai entender...

Pesquisas revelam que uma novela sem um vilão frio e cruel não faz sucesso e os americanos definem uma boa manchete de jornal dizendo que "if it bleeds, it leads" (se sangrar, lidera), ou seja, quanto mais tragédias, mais um jornal vende.

O povo gosta de briga, guerra, tortura, dor, pimenta nos olhos alheios, maldade, sarcasmo, sangue, muito sangue. Finge ser bom, mas em seu íntimo, quer saber dos detalhes das mazelas de seus amigos (porque isso alivia sua mediocridade), espalha fake news e fofocas para ver o circo dos outros pegar fogo, se diz "indignado" com injustiças, mas é incapaz de agir efetivamente a favor do que acredita ser o certo - especialmente porque desconhece o que é certo.

Compartinha vídeos de atos cruéis contra animais não por empatia e indignação, mas pela certeza de que as imagens provocam choque e desconforto - uma delícia para seu inconsciente doente, pois ele mesmo passa por animais em sofrimento perto de onde vive e nada faz.

A incoerência do povo ajuda quem está no poder, pois este grupo sabe o quão fácil é manipular quem se contenta com pão e circo - um povo que lida com a maldade com a mesma habilidade de quem o governa.

O governo é um reflexo de quem vota nele. Um país é o seu povo. A culpa não é "deles", de outros. É nossa, porque se o inferno são os outros, nós somos os "outros dos outros"...

(Texto de Sheila Maria Prates)

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