Enquanto certo jornalismo não compreender que o mundo mudou, perderá credibilidade e audiência

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Se a internet traz males, traz também boas informações.

O cidadão de hoje, já não mais sendo refém da TV, busca outras mídias, se informa e se liberta e por mais que se tente (de)formar sua opinião televisivamente, já se encontrará a resistência de uma realidade que não mais nasce pela só voz exclusivista e quantas vezes prepotente de um só aparelho midiático.

Ora, um governador recém-eleito diz pretender engajar atiradores para abater delinquentes com fuzis, metralhadoras, armas de uso exclusivo do exército. Questione-se até com superioridade intelectual a ideia - se isto for possível! - mas, para desacreditar o porta-voz de uma necessidade, no qual o povo tributa a esperança de mudança, já não bastarão perguntas tontinhas.

Se um “sniper” se confundiria e atiraria em um homem que “poderia estar com um guarda-chuva” e não um fuzil?

Ora, ora...primeiro, em regra não, é profissional, não se confundiria; segundo, se isto ocorresse, pertenceria ao risco inerente à qualquer atividade humana (médicos erram e matam, pilotos de avião, motoristas no trânsito, etc.), destas que, quando necessário, as fazemos tomando as cautelas malgrado o risco.

Quem deixa de “voar”, “dirigir”, “operar”, quando preciso?

Portanto, argumentar-se com a necessidade, embora sem razão, se poderia, mas em “risco de erro” com "chuva de guarda-chuva”? Uma gota de água salgada adoça os vagalhões imensos do oceano?

Pretender continuar no novo Brasil o que se fez até agora é continuar merecendo o que até agora “merecemos”: o aumento cruel do crime; o desespero sanguinário imposto por hordas criminais; o país tomado de assalto por bandidos.

Ao fuzil na mão do marginal, sem reação à altura pelo Estado organizado e eficaz, se seguirá a hipócrita flor que se costuma dar aos órfãozinhos de tantas vítimas cujas vidas foram ceifadas pela delinquência e pelo cínico discurso de certa “intelectualidade”.

P.S. Com mais um pouco de “choque de realidade” alguns jornalistas passarão por uma necessária reciclagem profissional. E com eles também patrões e partidos políticos.

Foi assim na Europa. Será assim no Brasil

(Texto do jurista Edilson Mougenot Bonfim. Procurador de Justiça do Estado de São Paulo)

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