A esperteza sórdida do COAF

09/12/2018 às 13:15 Ler na área do assinante

Eis que o COAF decidiu vencer as trevas onde foi mantido durante os 15 anos da Era PT para fazer uma primeira denúncia: um ex-assessor do filho do presidente eleito, Flávio Bolsonaro, também eleito senador pelo Rio de Janeiro por mais de 4 milhões de votos, movimentou em sua conta bancária pouco mais de um milhão de reais, valor incompatível com sua renda...

Antes que me acusem de proteger ladrões, digo que cabe ao jornalista denunciar qualquer tipo de irregularidade em qualquer tempo, atinja quem atingir, mas não dá para escrever sobre esse caso sem mencionar o que ele contém de sordidez.

Ao aceitar o convite para o super Ministério da Justiça, o juiz Sergio Moro reivindicou – e Bolsonaro aprovou imediatamente – que o Coaf migrasse da Fazenda para a Justiça.

Houve reações destemperadas contra, é claro...

ESTE É O COAF

Pra quem não sabe, o Coaf – Conselho de Controle de Atividades Financeiras foi criado no último ano do governo de Fernando Henrique Cardoso (2003) sob inspiração das leis italianas de combate à corrupção...

Foi feito para funcionar assim: o sistema bancário identifica movimentações suspeitas – aqueles depósitos, por exemplo, de dinheiro graúdo por pessoas aparentemente sem renda ou nada que os justifiquem – e avisa o Coaf...Este recebe as denúncias, analisa e decide se investiga a origem do dinheiro ou não...

Na Itália, é sabido que o combate à corrupção ganhou corpo e eficácia após o funcionamento do Coaf...

NO LIMBO

No Brasil, espertamente, ambos os governos do PT dependuraram o Coaf no Ministério da Fazenda, primeiro sob as asas de Antônio Palocci Filho e depois sob as asas de Guido Mantega, ou seja, deixaram duas raposas tomando conta do galinheiro...

Ainda durante o governo Lula foram divulgados alguns balanços das atividades do Coaf: o volume de denúncias realizadas aqui durante um ano da atividade correspondia ao volume de algumas horas de funcionamento do Coaf italiano...

SORDIDEZ

O sórdido da história está no fato de um organismo que se manteve em estado de dormência durante 15 anos e enquanto se desenvolvia o período da corrupção mais ampla, deslavada e escancarada da história da República, desperta para revelar, com alarde, um caso suspeito de movimentação financeira...

E o faz quebrando todas as regras que estabelecem seu funcionamento: primeiro receber a denúncia; depois analisar cuidadosamente se é ou não o caso de ser investigada; depois investigar; por último, relatar ao ministro competente que, em nome da transparência, deve divulgá-la...

Três objetivos escusos só podem estar por trás dessa denúncia:

1) - trazer embaraços ao novo governo ainda em formação...
2) - desgastar o presidente eleito e sua família
3) - abortar a transferência do Coaf para a Justiça...

Pelo andar da carruagem, o Brasil não corre nenhum risco de dar certo!

(Texto de Dirceu Pio. Publicado originalmente no site Re-união)

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