Se não der certo, os generais voltarão

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Segundo Nelson Rodrigues, “há um momento, na vida dos povos, em que o país tem de ser anunciado, promovido e profetizado”. Ao escrever esta frase, o genial escritor não imaginava como seria anunciar, promover e profetizar o Brasil depois de quinze anos de governo petista.

Para um partido que pregava o socialismo como um sistema de organização de sociedade que substituiria o capitalismo e controlaria a produção e a distribuição dos bens de forma igualitária e cooperativa, fica difícil entender a radical mudança para um sistema cuja ideologia foi a corrupção como meio de financiar seu projeto de poder.

E o pior é que a blindagem dos envolvidos não foi apenas para os seus filiados e dirigentes, mas sim para todos os políticos, pois, só assim, poder-se-ia evitar oposição. A CPI da Petrobrás demonstrou isso.

Depois de longos debates previamente ensaiados e dirigidos para a plateia, a conclusão dessa comissão sobre o propinoduto que sangrou a estatal foi no sentido de poupar todos os políticos e parlamentares envolvidos.

A única CPI que pelo menos deu em algo foi a dos Fundos de Pensão. Nesta conseguiu-se provar a participação de João Vaccari Neto e do ex-chefe da Casa Civil de Lula, José Dirceu (ambos condenados na Operação Lava Jato), no esquema.

De acordo com o deputado Efraim Filho (DEM-PB), o modus operandi usado nos escândalos do mensalão e do petróleo foi repetido nos recursos destinados a aposentados e pensionistas, de maneira que “o que a gente identifica é que há uma máquina de corrupção do PT para financiar um projeto de poder”.

Ao pipocar os escândalos, o ex-presidente Lula, em vez de condenar os métodos de atuação dos companheiros e de alguns dos membros de sua própria família no processo de enriquecimento ilícito, partiu para o ataque, acusando a oposição de golpe, principalmente quando percebeu que não havia outro caminho diante de tantas evidências e provas incontestáveis. O resultado foi a sua prisão e a sua total desmoralização perante a história.

Diante dessa calamidade, não havia outra saída senão derrotar o governo através de eleições, pois, do contrário, os militares poderiam atender ao apelo popular e tomar o poder pela força. E o autor da proeza foi justamente um deputado federal e capitão reformado do exército, que, captando os anseios populares por mais segurança, menos pobreza, contra a impunidade e a corrupção, montou uma plataforma política prometendo acabar com tudo isso e anunciando, promovendo e profetizando um novo Brasil. Com essas promessas, terminou sendo eleito com mais de 57 milhões à frente do seu adversário.

Para completar, sua vitória representou o triunfo de uma série de candidatos que, nas eleições estaduais, procuraram ligar seus nomes ao seu. Isso significa que o novo presidente está amparado não só por maciço respaldo popular, mas também pelo confortável suporte de uma quantidade apreciável de deputados, senadores e governadores.

O recado dado pela maioria dos eleitores foi claro e objetivo: o Brasil que saiu das urnas é outro; é um país sedento por autoridade, conservador, defensor da família e anticorrupção.

Mesmo assim, o candidato vitorioso sabe que uma grande parte dos que votaram nele o fizeram para não ter o PT no governo, o que significa que seu capital político não está vinculado necessariamente ao seu nome, mas sim ao antipetismo.

Realmente, a herança maldita deixada pelo PT não podia ser pior. A pobreza aumentou três vezes durante seu governo, enquanto a extrema pobreza aumentou 13 vezes, sendo que, na base da distribuição, esse aumento chegou a 33% por cento nos últimos três anos. Em números de pobres, o aumento foi de mais 6,3 milhões.

Diante dessa calamidade, fica difícil prever qual será o nosso futuro. A posse do novo presidente renovou as esperanças perdidas. Temos tudo para manter nossa democracia. Vamos torcer para que o novo governo dê certo, pois, do contrário, os generais - mesmo não querendo -, poderão atender ao apelo popular.

Foto de Luiz Holanda

Luiz Holanda

Advogado e professor universitário

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