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O mito do Lula pobre

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O poder totalitário sempre precisou de mitos para se sustentar. Sem eles a verdade aflora e as colunas que o sustentam ruem. O poder da esquerda no Brasil foi construído em torno do mito do Lula pobre. E mesmo que essa mentira seja tão evidente quanto um elefante rosa com bolinhas verdes urinando na sala de estar, a esquerda não tem outro mito para colocar em seu lugar. Por isso, é preciso insistir ridiculamente nessa ficção envelhecida e encarquilhada.

Lula foi pobre algum dia, mas provavelmente foram bem poucos dias. Com 30 anos ele já era presidente de sindicato e a partir daí as rendas provenientes de seus cargos só podiam aumentar.

Seu patrimônio hoje (sem contar parentes e laranjas) beira os 8 milhões. Um abismo imensurável entre ele e qualquer pobre. Falar errado, ter retórica de botequim e não ter continuado os estudos não fazem dele um membro da classe proletária.

Como ele mesmo disse em famoso vídeo que rola nas redes sociais, sua base de apoio foi a igreja católica e os estudantes, dois grupos de grande influência em qualquer cultura. A teologia da libertação, esse monstro marxista que não é teologia e nem libertação, precisava de um “Moisés” e o encontrou em Lula. E os “intelectuais ungidos” das universidades, aqueles que se identificam com o proletariado enquanto andam de Mercedes e curtem férias em Miami, acharam seu messias.

Como o mito do “bom selvagem”, criado por Rousseau, o mito do bom proletário, criado por Marx e Engels, também distorceu e muito a compreensão da realidade no Brasil. Foi dessa forma que nosso Macunaíma se tornou um Aquiles, através de teologia e educação doutrinantes e não instrutoras.

Marx tinha descrito o proletariado como a classe social que com seus sofrimentos faria a redenção completa da humanidade e Engels dissera que a missão do proletariado moderno era a redenção do mundo. Dessa forma, o mito não precisava de um grande caráter. Bastava ter sido proletário e ter perdido um dedo.

Eis o mito perfeito.

Entretanto, como escreveu Alain Besançon:

“não é o proletariado que faz guerra ao capitalismo, é a seita ideológica que fala e age em seu nome”.

E seita, com seu Messias, estava pronta para o domínio.

De fato, um mito é um mito, é um mito, é um mito. A abertura dos arquivos de Moscou que revelaram os expurgos de Stálin e fizeram desmoronar, pelo menos para alguns, a divindade dos condutores da URSS. E mesmo assim, milhões continuaram a reverenciá-la e apresenta-la como modelo de perfeição por muitos anos.

Por mais que o mito seja uma mentira, ele é sustentado por aqueles que são sustentados por ele, sejam membros da burocracia, sejam membros de uma pseudo imprensa. Os donos da pena (ou será uma Montblanc?) vão morrer (ou se mudar para Paris) jurando que Lula é pobre e que esse é o único motivo de sua prisão.

É enojante ver jornalistas de todos os calibres usando o poder da palavra de que dispõem para alimentar o mito fundador da cleptocracia brasileira dos últimos anos. É deprimente pensar que pessoas de tanta cultura conseguem descer tão baixo. Edificaram sua fama (e patrimônio?) sobre uma mentira indefensável e agora precisam ir até o fim com ela nos lábios. É apavorante.

Vou ter que citar Besançon novamente (prometo que é a última).

“Ninguém consegue ser inteligente sob a ideologia”.

Principalmente se essa ideologia lhe garante o caviar nosso de cada dia.

(Texto de Eguinaldo Hélio Souza. Pastor, jornalista, professor de história e teologia, poeta, escritor e palestrante em várias áreas)

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