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Tratamento multidisciplinar: como educar o paciente a nova realidade em saúde?

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Parece simples a idéia de que a soma de conhecimentos para um eficaz diagnóstico e tratamento possa ajudar mais a um paciente que o já ultrapassado método individualista e restrito de doença/cura, e que claro isto se introjetaria à consciência das pessoas com lógica e adesão favoráveis.

Claro que não funciona dessa forma. As décadas fizeram da saúde uma razão sensível a disciplinaridade de um profissional especialista. A população assimilou que um diagnóstico é definitivo e que a opinião e competência unilateral é a que vale.

Encaminhar um paciente na nova realidade multiprofissional é compreendido como uma ode da “máfia do jaleco branco”

e não como uma tentativa abrangente de tratamento. Claro, que o contexto socioeconômico influencia muito o ponto de vista do paciente. Nem todos os exames se fazem pelo SUS e nem todos os exames que se consegue agendar pelo SUS são feitos com a urgência que merecem o que faz com que as pessoas recorram à rede particular, a qual nem sempre é compatível financeiramente com a realidade do paciente.

Mas será que é algo restrito a essa condição socioeconômica? 

No campo do saber, ainda há mesmo com o novo modelo de saúde (não é tão novo assim) uma resistência narcísica a olhar o ser humano além da dicotomia construída a partir do positivismo; não há somente o psico (mente) como nem tanto o soma (corpo), não posso eu psicólogo viver de uma razão vencida de que o ser humano só será compreendido neste meu campo do saber por suas funções psicológicas.

Uma analogia a isso, por exemplo, num caso de perturbação grave de humor, por causas hormonais por algum tipo de alteração do funcionamento da tireóide de um (a) paciente, ignorada pelo psicoterapeuta claro, este passa a tratar por sintomatologia invariável e incompleta um Transtorno Afetivo Bipolar –, um erro de diagnóstico, um prejuízo ao paciente por um tratamento infundado.

O que tento narrar nessa analogia é o perigo que se corre ao se valer e fechar o ser humano ao aspecto limitado da patologia, e assim, trazer prejuízo a este. 

Recordo-me da narração de um capítulo do livro “Tratado Geral Sobre os Males da Alma” da escritora e médica Flávia Brito

“O engolidor de sonhos” em que a autora fala de um caso de um paciente que dizia ter “engolido” um sonho - “desses que a gente sonha” como dizia este, era uma coisa que dava “uma coisa no peito”; recusando-se a seguir a lógica clinica, a médica após constatar que não havia nada de errado com organismo, até pensou em prescrever antipisicótico, mas...

Angústia! Nada mais e nada menos, e uma conversa com seu paciente fora suficiente para que este voltasse para casa são e salvo.

Não é à toa como seres biológico, psicológicos e sociais não podermos ser resumidos em um aspecto, mas sermos traduzidos em nossa condição multifacetada. E como assim sendo, a responsabilidade clínica se estende e se amplia na rede de amparo, e a população precisa começar a entender esse novo (nem tanto) paradigma.

Desde a queda do mal elaborado ato médico, a multiprofissionalidade se tornou oficialmente a prática a ser exercido pelo melhor serviço em saúde, um serviço mais ético, da saúde para pessoas e não mais para patologias.

Cabe aos profissionais de saúde passar primeiro a entender este paradigma e corrigir-se, e depois educar seus pacientes sobre a sua importância. É informar! Explicar ao paciente (que é inteligente) a dinâmica do seu tratamento, o porquê de uma medicação, ou de uma proposta psicoterapêutica, falar da importância de se verificar todas as possibilidades de um diagnóstico (diferenciar) e o que de vantagens isso acarreta as pessoas e a sua saúde. É preciso romper com a barreira da desconfiança e abrir os olhos da população para a mais eficiente contribuição que se pode dar a sua saúde.

Robson Belo

Psícólogo Esp. Psicopatologia Clínica

e-mail: robbello@ig.com.br

http://psibelo.webnode.com

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BRITO, FLÁVIA. Tratado geral sobre os males da alma. Guaratinguetá, SP: Penalux, 2013.

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Robson Belo

Psicólogo

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