Jovem magistrada expõe com clareza o alcance da atitude de Bolsonaro ao expor o vídeo

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A exposição nua e crua do estado de degradação moral de um povo é meio legítimo e eficiente de elevação do nível de consciência coletiva, na medida em que escancara as entranhas carcomidas do ambiente cultural em que estamos inseridos.

Nos processos judiciais, a prova documental (vídeos, gravações, etc.) tem muito maior poder persuasivo do que a mera prova testemunhal. A oitiva de uma testemunha leva o juiz para a cena do crime de forma indireta, enquanto um vídeo é capaz de transportá-lo diretamente para lá.

Expor a realidade ao grande público pela via visual faz com que haja um deslocamento da posição estratégica do povo no processo de tomada de consciência de sua condição histórica: de mero receptor inerte de discursos políticos ou morais, passa a ser testemunha ocular dos fatos.

É possível despir-se de discursos ideológicos, mas não do ambiente, imagens e influências estéticas a que se é exposto todo o tempo. Os engodos progressistas sobrevivem assim, pois não se trata da adesão racional a uma DOUTRINA, mas da atuação afetiva e profunda em uma CULTURA.

Nesse processo, evidencia-se correta a afirmação de Olavo de Carvalho quando diz que a guerra não é ideológica, mas sim, cultural. O processo de simples persuasão racional, ou seja, o simples discurso ideológico é absolutamente impotente para lidar com tais fenômenos.

Lutar contra o estado de coisas tem menos a ver com convicções e crenças do que com a linguagem, não somente a verbal, mas também a pictórica - a comunicação através de imagens - que domina sonhos e imaginação. Nessa esfera profunda do imaginário atua a guerra cultural.

Por isso, torna-se essencial deslocar a questão do campo da guerra ideológica (persuasão racional ou argumentativa), para o da guerra cultural, mostrando cabalmente a realidade nua e crua, sem tarjas, em vez de apenas discursar sobre ela de forma elegante, polida e aristocrática.

(Texto de Ludmila Lins Grilo. Juíza de Direito)

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