Desabafo viraliza: “Minha experiência num ambiente hostil e antidemocrático: a UFF Campos"

03/05/2019 às 07:04 Ler na área do assinante

Uma estudante universitária da Universidade Federal Fluminense de Campos (RJ) resolveu expor a sua ‘traumática’ experiência nas redes sociais.

Com o esclarecimento de detalhes sórdidos, hostilidades e arbitrariedades, a postagem viralizou.

Abaixo, a íntegra do chocantes texto postado por Letícia Gonçalves de Mattos:

“Entrei na UFF Campos no primeiro semestre de 2017 no curso de licenciatura em Ciências Sociais.
Já no primeiro período eu me deparei com um professor de Ciências Políticas que não tinha qualquer responsabilidade com os conceitos, chamando Sócrates de conservador e enfiando Lênin nas aulas de Grécia Antiga (isso numa turma de primeiro período), e lançando frases ridículas como “pobre de direita” e etc. (vejam o nível dessa nobre universidade).
No segundo período eu tive que lidar com uma professora substituta que ficava discutindo como PSDB era de direita e que a qualquer momento uma bomba explodiria nesses “tempos difíceis” (isso não é sobre posicionamento político, é sobre má qualidade mesmo, pois nem os alunos de esquerda suportavam aquela porcaria).

Também tive outro professor de Ciências Políticas que reclamou dos meus questionamentos dizendo que eu só “jogava casca de banana”, este traçou a bibliografia do curso da seguinte forma: primeira parte do curso - democracia liberal (com autores como Tocqueville, Montesquieu e os Federalistas) na segunda parte do curso - democracia marxista.

Até aí tudo bem, o engraçado é que para a prova nós tínhamos que relacionar tais bibliografias com outros artigos, que eram TODOS críticos a primeira bibliografia aqui citada, ou seja, na prova deveríamos criticar a democracia liberal, visto que não tínhamos artigos que faziam uma boa avaliação desta perspectiva.

No terceiro período eu tive que lidar com um professor de Sociologia que chegava às 18:30 (ou mais) e liberava a turma umas 20:00h, 20:30 (nunca às 22h). Este professor teve a arrogância de chamar o Roberto Damatta de merda, simplesmente, porque, segundo ele, o Damatta agora era “liberal”.

E o pior ainda está por vir, ele ainda completou dizendo que o referido antropólogo sequer deveria ter ido a UFF, que ele procurou o diretor do polo para dizer que o Damatta sequer deveria entrar ali, e etc.

Resumindo, o cara acha que comprou a Universidade e que lá só entra quem ele autoriza.

Tive que suportar também uma professora associar o Mulheres Ricas - um programa de algum canal que eu não sei ao certo qual é - ao conservadorismo. A mesma, no semestre anterior chamou o bandido que sequestrou o ônibus 174 de “menino”, acredito que ela o chamou assim pois não era a filha dela sendo feita de refém por ele.

No quarto período, tolerei durante um semestre uma outra professora substituta de Ciências Políticas que não era formada na área e assumiu que não tinha competência para lecionar em tal disciplina, bem, ao longo do período ela mostrou que estava sendo sincera quando disse isso.

Depois da visita do TRE a UFF (que eu narrarei daqui a pouco), esta mesma professora em sala de aula começou a escrever no quadro as “críticas” feitas ao PT, usando a falácia do espantalho, após isso ela ainda ironizou “agora vocês tirem foto e mandem ao TRE”.

Além disto, em uma aula, ela ainda chegou a chamar o Bolsonaro de fascista, dizendo que estava torcendo muito para que o Haddad ganhasse.

Também tive que lidar com uma professora de sociologia que chegava às 19:00h e liberava às 20:30. Em uma de suas aulas, esta mesma professora começou a argumentar que no país dela a polícia ou algo análogo ao TRE não entrava nas universidades (etnocêntrica, né?). Argumentou ainda (não me lembro se foi nessa mesma aula) que a guarda da UFF Campos é uma guarda patrimonial, e, portanto, não poderia impedir os alunos de usar droga dentro do Campus.

No dia 13 de setembro o TRE vai à UFF e apreende 470 panfletos da Jandira Feghali e Walkiria Nictheroy dentro de um dos prédios da UFF (não entrarei em pormenores, deixo isso para outra oportunidade), a partir daí a minha vida virou um inferno, visto que, numa universidade com mais ou menos 3.000 alunos, quem mais poderia ter denunciado senão o casal de direita de ciências sociais?

Foi isso que nossos amigos ouviram antes mesmo de chegarmos à UFF para a aula que estava marcada para às 18h.

Neste mesmo dia o Eraldo [esposo de Letícia] foi ridicularizado por um professor da instituição na frente de toda a comunidade acadêmica, ocasião esta em que algum esquerdista gritou para ele “preto só passa vergonha” (isso mesmo, estes que lutam contra o racismo). No dia seguinte nosso orientador que não é da UFF, foi procurado por uma professora do curso de geografia (nem do meu curso essa sujeita é) pedindo uma reunião para discutir a bolsa dele, afirmando que ele era “o rapaz envolvido na denúncia”.

O resultado disso foi a nossa articulação e a nossa partida para o enfrentamento, há dois meses criamos a página UFF Livre Campos dos Goytacazes e estamos mostrando à sociedade campista o que ocorre na UFF Campos.

Vale ressaltar que nós nunca fomos articulados, nosso objetivo era apenas nos formar, mas no semestre passado um professor nos contou que desde o primeiro período os professores deste digníssimo curso nos identificavam como “diferentes” e comentavam isso nos bastidores. Ou seja, nós já fomos fichados desde o primeiro período simplesmente por não sermos de esquerda, e fizeram da nossa vida um inferno na primeira oportunidade.

Hoje eu estou no quinto período e agradeço a UFF e especialmente aos professores do curso que faço pela péssima experiência de graduação.
Peço a quem estiver lendo essa mensagem que sigam nossa página UFF Livre Campos dos Goytacazes, curtam e compartilhem os podres da UFF Campos.
Sigam também a UFF Livre para saber o que acontece em Niterói."

(Texto de Letícia Gonçalves de Mattos)

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