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A conta chegou e todos precisam aprender a viver com menos dinheiro

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O Editorial deste domingo (05) da Folha de S.Paulo revela o óbvio: acabou o dinheiro! No entanto, ataca suas consequências e não rende uma única palavra às suas causas. Ok. Vamos falar de futuro então...

Após 30 anos de gastança desenfreada e muitos roubos e mordomias aos amigos da corte candanga, nossos "intelectuais" exigem que o Governo Bolsonaro — em especial o ministro Paulo Guedes — resolva a desgraceira imediatamente, como num passe de mágica.

Fico imaginando como são as casas dessas pessoas, como elas fazem a gestão de suas finanças pessoais. Deve ser uma marafunda. Senão, vejamos...

Na casa de qualquer cidadão, quem gasta mais do que ganha fica endividado. Esse endividamento tem limite, que, quando alcançado, exige medidas de austeridade fiscal até que o cidadão aprenda a viver como pode exclusivamente daquilo que ganha.

A conta é simples, mas o processo é duríssimo.

Cortam-se, primeiro, as mordomias e futilidades. Se não for suficiente — quase nunca é —, a tesoura precisará alcançar as despesas maiores: vender o carro e passar a andar de ônibus, trocar o plano de telefonia de pós-pago para pré-pago, reduzir a velocidade de internet, limar a pizza e a cerveja do final de semana, churrasco nem pensar e por aí vai...

Se nada disso ainda for suficiente para equilibrar as contas, será necessário o corte mais dramático: nas despesas básicas de custeio. Reduzir tempo de banho, lavar e passar roupa uma vez por semana, trocar carnes por linguiça e ovos, substituir o arroz e feijão pelo macarrão, porque enche a barriga e é infinitamente mais barato, chegando à tesourada no plano de saúde e noutras necessidades imediatas. Isso para ficar nos exemplos mais comezinhos.

É economia doméstica, pura e simples... e, na maioria das vezes, muito dolorosa.

No Brasil, acostumamo-nos a achar que o Tesouro Nacional é um saco sem fundo, um cartão de crédito ilimitado que você pode gastar sem medo e jamais pagar sequer o mínimo do rotativo. É uma farra!

Mas, a conta chegou e o dinheiro acabou.

A Reforma da Previdência vai doer? Vai sim, mas é necessária. As universidades públicas vão ter que aprender a viver com menos dinheiro? Vão sim e é melhor aceitar que dói menos. Vai ter dinheiro para continuar subsidiando diversos setores? Não, esse tempo acabou. Agora, é cada um por si.

De certa forma, o Povo Brasileiro parece já ter entendido o que está acontecendo e, à esquerda, à direita, ao centro ou de ladinho, a expressiva maioria compreendeu que precisamos pagar a conta dos anos de festas nababescas e roubos estratosféricos.

Em maré contrária, a Câmara dos Deputados, o Senado Federal, o Supremo Tribunal Federal, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) e as demais Cortes e o Ministério Público Federal - MPF parecem não compreender a gravidade da situação. Continuam acreditando que é possível almoçar medalhão de lagosta ao molho de manteiga queimada e jantar arroz de pato com salmão e caviar, regados ao vinho premiado envelhecido em barril de carvalho francês. Tudo às expensas desse Povo que está trocando arroz e feijão por macarrão.

Registre-se: a continuar assim, os mais violentos choques serão inevitáveis e o ambiente social alcançará um grau de conflagração jamais visto na História do Brasil.

Como último suspiro, nossos nababos de colarinho-branco e nossos intelectuais de crachá estão tentando vender uma divisão bruta, de rede social, meramente entre esquerda e direita, o excelso "nós contra eles" criado pelo presidiário gastador de dinheiro alheio.

É um erro. O buraco é maior e mais embaixo. A ruptura tende a ser mais severa, porque o preço do passado é muito mais caro do que qualquer um de nós poderia imaginar e, mesmo se alcançarmos o caminho do equilíbrio, o futuro melhor só virá daqui uns 20 ou 30 anos e muitos não viverão para ver.

É triste? É sim. Mas, é a nossa dolorosa verdade. Aceite-a e ajude a construir um país melhor para seus descendentes. Negue-a e condene seus filhos e netos ao descalabro e à miséria.

É hora de ver quem tem caráter, dignidade e fé na Terra de Santa Cruz.

Foto de Helder Caldeira

Helder Caldeira

Escritor, Colunista Político, Palestrante e Conferencista
*Autor dos livros “Águas Turvas” e “A 1ª Presidenta”, entre outras obras.

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