desktop_cabecalho

Empresário suicida é vítima de país que há décadas não favorece a iniciativa privada

Ler na área do assinante

Analisando as informações disponíveis acerca do que pode ter motivado o empresário Sadi Gitz, de 70 anos, a ter cometido suicídio em um evento com o Ministro de Minas e Energia e o Governador de Sergipe, o que fica mais claro é que o empresário estava extremamente abalado com as dificuldades de se ter empresa no Brasil e ter ido a falência.

O empresário dono da Cerâmica Escurial, dedicada a fabricação de pisos e revestimentos em Aracaju (SE), havia declarado falência em sua empresa no dia 15 de maio, o que afetou 600 trabalhadores diretos e indiretos. Em nota, a diretoria da empresa atribuiu sua falência ao preço do gás no estado de Sergipe, que apesar de ser o terceiro maior produtor de gás do Brasil, teve alta de 1.200% no preço do gás entre o período de 2000 e 2018, um período que registrou inflação geral (IPCA) de 209%.

Sua indústria consome muito gás para a produção de cerâmicas e o uso de equipamentos antigos agrava a situação, já que geram maior consumo de gás. Especialistas do setor avaliam que a modernização de sua indústria era uma necessidade, não isso foi possível.

O empresário dedicou-se a empresas por anos e tinha lá elevadíssimo investimento, segundo informações, ele vinha protestando contra o aumento do gás há algum tempo.

Narrativas da esquerda e culpa de governos anteriores.

Como não poderia ser diferente, a oposição ao governo Bolsonaro está tentando de alguma maneira imputar ao novo governo a culpa por essa história triste. Todavia, nenhuma empresa vai a falência de uma hora para a outra e as informações confirmam que trata-se de situação que veio se agravando ao longo de muitos anos. Desde o início da incrível alta de 1.200% no custo do gás em Sergipe, o estado teve como governadores Albano Franci (PSDB), João Alves Filho (PFL), Marcelo Déda (PT), Jackson Barreto (PMBD) e o atual governador Belivaldo Chagas (PSD), que presenciou o suicídio. Em âmbito federal, esse período compreende o final da gestão PSDB de Fernando Henrique Cardoso, bem como todo período de gestão de Lula (PT) a e Dilma (PT).

Empresários vítimas de um estado aversivo ao empreendedor

Por ter tido experiência no setor, posso lhes dizer com segurança que essa situação sub-humana vêm de longa data. Empresas do ramo cerâmico sofrem com alta carga tributária e o mercado consumidor não é capaz de absorver todos os custos inerentes a produção e manutenção de uma empresa cumprindo todas as obrigações. Um dos resultados disso é que as empresas que colocam na planilha todos os impostos e despesas, acabam tendo um preço de venda dos produtos bem acima do mercado e uma margem de lucro menor que a dos concorrentes, por consequência, muitas empresas passam a sonegar um pouco de impostos na venda e ainda assim têm margens de lucro incapazes de manter a empresa nas oscilações do mercado, muito menos com capacidade para renovar equipamentos.

Quase todos sonegam, mas ninguém consegue ganhar dinheiro

Em alguns setores como o cerâmico, a depender do nicho, posso afirmar que a situação é tão grave nas últimas décadas que mesmo sonegando impostos, ainda não se tem margem de lucro e segurança para trabalhar. Praticamente todos sonegam alguma coisa e ainda vivem quebrando. Empresas fecham a todo momento.

O setor pode estar entre os que têm as menores margens de lucro na economia, com agravante de atuarem com produto pesado e quebradiço, portanto, não é raro haver pequenos imprevistos que culminam em perda de material na produção, armazenamento e no transporte. Com as baixas margens de lucro, qualquer desaceleração econômica, processo trabalhista, falha na produção perda de mercadoria ou alta de algum insumo, coloca toda a sustentabilidade do negócio em xeque. E as oscilações na economia para esse setor são extremamente fortes desde o início da década de 1990, portanto, esse empresário simboliza sim um problema sistêmico no Brasil, mas não é um problema gerado por uma gestão recente.

Trata-se de um problema estrutural que vem de décadas. Na equação entram muitos fatores que o novo governo promete tentar resolver. Entre os fatores estão: absurda burocracia do setor público contra o empresário, alta carga tributária, encargos trabalhistas, sistema viário baseado em rodovias, pedágios, custo do Diesel (PeTrolão também afetou forte aqui), encargos trabalhistas (Sindicatos também têm seus méritos), alto custo de financiamento para investimentos, entre outros.

É de se espantar que não aconteçam mais casos como esse entre empresários do setor. A proposta de um liberalismo econômico parece ser a única esperança que poderá fazer com que o empresário brasileiro tenha um pouco de tranquilidade e capacidade de investir. A esquerda sempre pensa políticas públicas imaginando que o empresário é o dono da Chevrolet ou Ambev, um mega empresário, mas nossa economia é feita de pequenos guerreiros que literalmente, ao empreenderem, lutam contra o estado, que é seu sócio. Conheço empresas enquadradas no regime de tributação "Super Simples", que seria onde se paga menos impostos, mas o dono ganha metade do que paga de imposto ao mês. Ou seja, o estado é o sócio majoritário e o dono da empresa, que luta diariamente assumindo os mais variados riscos, tem que ficar feliz com o que sobra.

Foto de Marlon Derosa

Marlon Derosa

Co-fundador do site e da Revista Estudos Nacionais. Pesquisador atualmente dedicado em temas como bioética, saúde pública, direitos humanos e geopolítica. É pós-graduado em administração e gestão de projetos. Organizador e coautor do livro Precisamos falar sobre aborto: mitos e verdades (2018).

Ler comentários e comentar