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Piloto conta os detalhes do "pouso forçado" e diz que não se acha "herói"

"Houve choro, houve gritos", contou ele, dizendo que "foi um milagre" todos terem saído bem após o acidente.

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O piloto do avião que fez um pouso forçado no Mato Grosso do Sul no domingo (24) afirmou que a aeronave sofreu uma falha na bomba de combustível.

O avião partiu de Estância Caimam em Miranda por volta das 10h (horário de Brasília). O comandante do voo explicou que a falha aconteceu quando sobrevoava a Serra de Maracaju, quando faltava cerca de 10 minutos para chegar em Campo Grande, o destino final.

"Houve choro, houve gritos", contou ele, dizendo que "foi um milagre" todos terem saído bem após o acidente.

Osmar Fratini fez o que considera a aterrissagem mais difícil da carreira. "Tive sorte".

Vejam o seu relato sobre a aterrisagem na integra: 

"Quando aconteceu, eu já estava negociando com o controle de tráfego aéreo o procedimento de aproximação para pouso em Campo Grande, a uns 10 minutos para chegar. Era por volta de 9h40.

O painel do avião tem alguns alarmes e acusou uma pane, um entupimento no filtro de combustível. Acendeu a luz do filtro primeiro no motor esquerdo e depois no direito. O motor esquerdo perdia potência. Estava abaixo da velocidade recomendada.

Fiquei então voando com o motor direito, mas comecei a perder altitude e potência - e eu já tinha passado dos aeroportos para os quais podia alternar. Não ia dar para chegar a Campo Grande. Já havia caído para 3.200 pés [975 metros] e estava perdendo velocidade.

Ficamos olhando para fora para encontrar um lugar. Decidi então planar e pousar numa fazenda. Eu trabalho há 15 anos nessa empresa e conheço bem a região. E isso ajudou.

O Luciano [Huck] é dono de avião, ele percebeu o que havia. No início da situação ele chegou em mim e falou: "Comandante, estamos em monomotor, não?".

Então, a Angélica começou a gritar: "Ai, meu Deus, os nossos filhos. A gente não pode perder nossos filhos". Foi um grito de desespero. O Luciano foi um paizão, porque pegou essa parte que eu e o copiloto teríamos que fazer - acalmar os passageiros. Ajudou muito, porque eu me concentrei em fazer meu papel, de voar o avião.

Eu estava quase impotente, sem saber o que ia acontecer. Na verdade eu já tinha feito tudo o que era para ser feito. O avião não tinha potência segura para voar mais. Íamos chegar um momento em que atingiríamos a velocidade mínima de controle, o nome já diz, depois dali o avião estola e cai igual uma pedra.

Não podia deixar acontecer isso aí, fui obrigado a pousar o avião na fazenda, aproveitando o resto de velocidade que a aeronave tinha, cortei os motores, não abaixei o trem de pouso para não capotar.

Pedi ao pessoal para tirar os óculos, porque podia machucar, e colocar o cinto. As três crianças estavam sentadas, como os outros passageiros. Quando vim para pouso, já estava baixo e vi um lote de gado. Pulei o gado e o avião deslizou uns 400 metros.

Mas aí tinha uma curva de nível na fazenda, como se fosse lombada, uma terra arada colocada em elevação para evitar erosão. O avião bateu e subiu uns cinco metros, virando 90 graus para esquerda.

Todo mundo atrás estava gritando. Puxei o manche para o lado e não sei como ele obedeceu, foi voltando ao normal, caiu no chão, andou uns 30 metros e parou.

Os passageiros gritavam o tempo todo, assustados, e eu e meu copiloto fazendo a nossa parte, graças a Deus. Nunca tinha passado por nada parecido. Tenho que agradecer ao Luciano, ele foi 100%.

Não me acho herói de forma nenhuma. Não fiz isso sozinho. Teve o José Flávio [copiloto]. Se não fosse ele, não teria conseguido a sorte de salvar todo mundo. Nós temos essa experiência, a gente procura fazer aquilo que aprendeu com o tempo. O importante foi salvar essas vidas."

da Redação Ler comentários e comentar