Quer ter um milhão?

Saiba como assegurar a produtividade no milharal por meio do controle de doenças foliares que já foram consideradas epidemias

04/12/2015 às 01:41 Ler na área do assinante

A importância da cultura do milho tem crescido no cenário brasileiro de produção de grãos, pela sua adaptabilidade em praticamente todas as regiões produtoras do país, da rentabilidade financeira ao produtor e pelo permanente crescimento na produtividade. A produção de milho no Brasil foi de 84,7 milhões de toneladas na safra 2014/2015 (Conab, 2015) e há previsão de que atinja números similares a este na próxima safra. Na mesma medida em que a produtividade das áreas de produção de milho tem aumentado ano a ano, as doenças têm sido cada vez mais frequentes e com maior intensidade e severidade, tornando-se uma grande preocupação e atenção para os técnicos e produtores envolvidos na cadeia produtiva.

Relatos de perdas na produtividade devido ao ataque de patógenos têm sido frequentes nas principais regiões produtoras do país. Nesse contexto, vale destacar epidemias de cercosporiose ocorridas no estado de Goiás em meados de 2000, nas quais foram registradas perdas significativas na produtividade, e epidemias de ferrugem no estado do Paraná. 

É importante entendermos que a evolução das doenças do milho está estreitamente relacionada à evolução do sistema de produção desta cultura do Brasil. Modificações benéficas ocorridas no sistema de produção, que resultaram no aumento da produtividade da cultura, foram, também, responsáveis pelo aumento da incidência e da severidade das doenças. Desse modo, a expansão da fronteira agrícola, a ampliação das épocas de plantio (safra e safrinha), a adoção do sistema de plantio direto, o aumento do uso de sistemas de irrigação, a ausência de rotação de cultura e o uso de materiais mais produtivos, porém mais suscetíveis, têm promovido modificações importantes na dinâmica populacional dos patógenos (Costa ET AL, 2009).

As doenças do milho, principalmente aquelas causadas por fungos, podem comprometer o potencial de rendimento da cultura (White, 1999). Diversas doenças foliares e de colmo são associadas ao milho. As doenças foliares causam redução do índice de área foliar, interceptação da radiação solar e consequente redução da atividade fotossintática da planta e conversão em fotoassimilados, morte precoce de plantas, aumento da predisposição para doenças de colmo e como consequência causam redução na produtividade da cultura (Casa, ET AL, 2009).

Dentre as doenças foliares, destacam-se as ferrugens (ferrugem comum e ferrugem polissora), a cercosporiose ou mancha cinzenta e a helmintosporiose comum.

Identificando as doenças

A cercosporiose é uma das doenças com maior aumento na ocorrência e severidade nos últimos anos na cultura do milho. É causada pelo fungo Cercospora zeae-maydis, e os sintomas são manchas de formato retangular nas folhas da cultura, que tornam-se necróticas. Inicialmente possuem 1-3 mm de comprimento, de coloração amarelada, evoluindo ao longo do tempo para coloração cinzenta, de tamanho até 1-7 cm de comprimento. A infecção inicial principal provém de restos culturais infectados, porém os conídios do fungo também podem ser transportados pelo vento. Prefere temperaturas médias a quente (22-30º C), e longos períodos de molhamento, para infecção ideal. O uso de híbridos com resistência genética é uma das medidas de controle, bem como a rotação de culturas, densidade de plantas adequada (evitando superpopulação), e o controle químico. O uso de fungicidas possui alto desempenho, e fungicidas do grupo dos triazóis e estrobilurinas são os mais recomendados para o controle desta doença.

A ferrugem comum e a ferrugem polissora podem apresentar sintomas em qualquer tecido verde das plantas, porém os mesmos geralmente concentram-se nas folhas. A ferrugem comum é causada pelo fungo Puccinia sorghi, que pode sobreviver na entre safra em plantas voluntárias de milho, e os uredosporos podem ser dispersos pelo vento a longas distâncias, até o atingimento da cultura. O molhamento contínuo e temperaturas amenas (entre 17 – 25 ºC) favorecem o processo de infecção. Os sintomas são muito característicos, do tipo pústula, que podem ser circulares ou alongadas, de interior de coloração pardo-canela a pardo-negras. Em ataques severos pode causar necrose do tecido foliar. O controle é realizado com uso de híbridos com resistência genética a cultura e uso de fungicidas. O uso de fungicidas apresenta alta eficiência de controle e é medida acertada em híbridos suscetíveis e em condições favoráveis à doença.

A ferrugem polissora é causada pelo fungo Puccinia polysora e difere da ferrugem comum na sintomatologia e pela preferência por temperaturas mais elevadas: 23-28ºC favorecem a germinação de uredoesporos. Os sintomas também são pústulas, geralmente nas folhas do milho, porém, são de tamanho pequeno (0,2 – 2,0 mm de diâmetro), ocorrem de forma numerosa e possuem coloração laranja-avermelhadas. O controle da doença também possui o componente resistência genética, e o uso de fungicidas apresenta alta eficiência de controle. O uso de fungicidas possui alto desempenho tanto na ferrugem comum, quanto na ferrugem polissora. Fungicidas do grupo dos triazóis e estrobilurinas possuem boa eficácia, porém a associação de triazóis e estrobilurinas são a estratégia mais recomendada para o controle destas doenças.

A helmintosporiose comum, causada pelo fungo Exerohilum turcicum, também chamada comumente de mancha de turcicum, é uma doença com ocorrência crescente, que apresenta sintomas de grande visibilidade e tem chamado a atenção por parte dos produtores ano após ano, principalmente nos cultivos de safrinha – que também tem aumentado em proporção ao cultivo de safra. As lesões foliares possuem formato elíptico e alongado (2,5 – 15,0 cm) de cor verde-acinzentadas ou pardas. Em infecções severas, pode levar a queda prematura de folhas (principalmente do baixeiro) e até a morte da planta. Temperaturas amenas (em torno de 20ºC), molhamento foliar prolongado e noites com orvalho contínuo são favoráveis à infecção e desenvolvimento da doença. O controle da helmintosporiose demanda estratégias que envolvem o uso de híbridos resistentes, rotação de culturas, uso de população de plantas adequado, evitando excesso de molhamento foliar e o controle químico. Fungicidas dos grupos químicos dos triazóis e estrobilurinas são os mais recomendados para o controle desta doença, e tem mostrados melhores resultados de controle.

Recomendação

De acordo com a Embrapa Milho as principais medidas recomendadas para o manejo de doenças na cultura do milho são:

1) Utilizar cultivares resistentes;

2) Realizar o plantio em época adequada, de modo a evitar que os períodos críticos para a cultura coincidam com condições ambientais mais favoráveis ao desenvolvimento da doença;

3) Utilizar sementes de boa qualidade e tratadas com fungicidas; 

4) Utilizar rotação com culturas não suscetíveis; 

5) Rotação de cultivares; 

6) Manejo adequado da lavoura – adubação equilibrada (N e K), população de plantas adequada, controle de pragas e de invasoras e colheita na época correta.

O controle químico é parte chave no controle destas doenças do milho. Além do uso do produto correto, o uso de corretas medidas de tecnologia de aplicação são fundamentais no sucesso do controle: uso de volume de calda recomendado, aplicação em horários adequados, pulverização no momento correto (preventivo à ocorrência das doenças), uso de equipamento adequado (atentar para evitar danos devido à altura da cultura) e a correta cobertura da planta pela calda de pulverização. Estes fatores contribuem para que o fungicida empregado possa expressar seu potencial e o controle das doenças do milho seja realizado, contribuindo para a manutenção do alto potencial produtivo da cultura e consequente rentabilidade do produtor.

Alisson Celmer e Reginaldo Sene, engenheiros agrônomos 

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