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Janot, cale a boca, jogue este seu livro no lixo e não desgrace ainda mais a nação

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O relato de Rodrigo Janot, ex-procurador-geral da República, de que entrou armado no Supremo Tribunal Federal em 2017 para matar o ministro Gilmar Mendes e em seguida cometer o suicídio, sendo ou não verdadeiro, o relato já fez um estrago gravemente danoso e incomensurável para toda a sociedade brasileira.

O gesto tresloucado, agora contado por Janot, gera um parâmetro, um estímulo, um exemplo a ser seguido por outros e só serve para o recrudescimento da violência.

Se uma das mais altas autoridades da República decidiu assassinar um ministro da Suprema Corte de Justiça do país, ainda que no momento de apertar o gatilho recuou, o que não dirão, o que não farão, o que não pensarão os que não ostentam tão elevados cargos e estão em permanente desespero neste Brasil de 14 milhões de desempregados, de milicianos, de assassinos de aluguel, de famintos, de traficantes, de sem vez e sem voz?

Anos atrás falava-se na "Lista de Janot". Agora, entra o "Relato de Janot". Dramático e criminoso relato que leva a múltiplas e inimagináveis consequências.

Indaga-se: o que levou Janot a tornar pública e do conhecimento de todos, a sua ação criminosa, iniciada, mas não efetivada, não concretizada, não executada?

Teria sido para que o ministro passasse a ter, para o resto da vida, o sentimento, o pensamento, a reflexão de que "eu hoje poderia estar morto"?

Ou, "estou vivo graças ao Janot, que não me matou"?

Teria sido para fazer nascer no ministro o temor de ser assassinado por decisões e votos seus?

Teria sido para chamar a atenção de um tal livro que Janot em breve vai lançar à venda?

Se por um, por uns ou por todos estes motivos, nada mais torpe. Nada mais desgraçado para o país, para os jovens deste país, para todos nós, brasileiros.

Mas uma coisa é certa. Gilmar Mendes e Rodrigo Janot entram para a História com uma triste e lamentabilíssima referência: Gilmar Mendes, o ministro do STF que quase foi assassinado. Rodrigo Janot, o Procurador-Geral da República que entrou no STF para matar o ministro Gilmar Mendes e na hora "H" desistiu.

É dessa forma que as pessoas que se projetam no meio social passam a ser referidas, quando na vida cometem ou tentam cometer desatinos de tamanha gravidade.

Foi e é assim com o padre Hosaná, que matou o Bispo de Garanhuns, Dom Francisco Expedito Lopes; com o escritor Euclides da Cunha, assassinado com 3 tiros no coração, pelo suposto amante de sua esposa, Tenente Dilermano de Assis, quando Euclides o enfrentou para matá-lo; com Doca Street, que matou Ângela Diniz; com Ronaldo Guilherme Castro e Cássio Murilo, que mataram a jovem Aída Curi em Copacabana; com Guilherme de Padua e Paula Thomaz, que mataram Daniella Perez; com Neyde Maria Lopes, que matou com um tiro e depois queimou o corpo da pequena Taninha.

São estigmas que passam a personificar e identificar malignamente tais pessoas.

E com o ministro Gilmar Mendes e com o ex-procurador-Geral da República não será diferente.

No futuro, quando neles se falar, a eles se mencionar, o fato relatado agora por Janot sempre será acrescido à identificação, à lembrança de cada um deles.

Janot, cale a boca. Jogue este seu livro fora. Não desgrace ainda mais esta Nação, que tenta se levantar, progredir e alcançar a Paz geral.

Foto de Jorge Béja

Jorge Béja

Advogado no Rio de Janeiro e especialista em Responsabilidade Civil, Pública e Privada (UFRJ e Universidade de Paris, Sorbonne). Membro Efetivo do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB)

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