Cristãos decapitados no Natal: O Ocidente vira para o outro lado e dorme

09/01/2020 às 11:15 Ler na área do assinante

Até que ponto terá que chegar essa guerra contra os cristãos para que o Ocidente a considere "genocídio" e tome as devidas providências preventivas?

No dia seguinte à decapitação dos cristãos nigerianos, o Papa Francisco repreendeu a sociedade ocidental. Em relação aos cristãos decapitados? Não. "Desliguem os celulares, conversem durante as refeições", salientou o papa. Nem um pio sobre a dantesca execução de seus irmãos cristãos. Poucos dias antes, o Papa Francisco pregou na parede uma cruz vestida com um colete salva-vidas em homenagem aos migrantes que perderam a vida no Mar Mediterrâneo. Ele não homenageou os cristãos assassinados por extremistas islâmicos, nem uma palavrinha.

A chanceler alemã Angela Merkel assinalou que a sua prioridade é combater as mudanças climáticas. Ela não disse nada em relação aos cristãos perseguidos. Enquanto isso a revista The Economist adiantou que o primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán, apaixonado defensor dos cristãos perseguidos, "tira proveito" político do problema.

Martha Bulus, uma católica nigeriana estava a caminho da sua festa de casamento quando foi sequestrada por extremistas islâmicos do Boko Haram. Martha e suas acompanhantes foram decapitadas, a decapitação foi gravada. O vídeo dos brutais assassinatos desses 11 cristãos foi divulgado em 26 de dezembro para coincidir com as festas natalinas. É uma reminiscência das imagens de outros cristãos vestidos com macacões laranja ajoelhados em uma praia, cada cristão nas mãos de um jihadista mascarado, vestido de preto, com uma faca próxima da garganta da vítima. Seus corpos foram descobertos em uma vala comum na Líbia.

Pelos padrões de perseguição de cristãos na Nigéria, Martha teve menos sorte do que outra menina sequestrada, de nome Leah Sharibu, que se encontra em cativeiro há quase dois anos e acaba de passar o segundo Natal nas mãos do Boko Haram. O motivo? Leah se recusou a se converter ao Islã e negar o cristianismo. Os líderes cristãos nigerianos também estão protestando o "contínuo sequestro de meninas cristãs menores de idade por jovens muçulmanos..." Essas meninas "são convertidas à força ao Islã e obrigadas a se casarem sem o consentimento dos pais".

A Nigéria está passando por uma guerra islâmica de extermínio de cristãos. Até agora 900 igrejas foram destruídas no norte da Nigéria pelo Boko Haram. O Presidente dos Estados Unidos, Donald J. Trump, foi informado de que pelo menos 16 mil cristãos foram assassinados no país desde 2015. Na única diocese católica nigeriana, Maiduguri, 5 mil cristãos foram assassinados. Até que ponto terá que chegar essa guerra contra os cristãos para que o Ocidente a considere "genocídio" e tome as devidas providências preventivas?

No dia seguinte à decapitação dos cristãos nigerianos, o Papa Francisco repreendeu a sociedade ocidental. Em relação aos cristãos decapitados? Não. "Desliguem os celulares, conversem durante as refeições", salientou o papa. Nem um pio sobre a dantesca execução de seus irmãos cristãos. Poucos dias antes, o Papa Francisco pregou na parede uma cruz vestida com um colete salva-vidas em homenagem aos migrantes que perderam a vida no Mar Mediterrâneo. Em setembro passado, o Papa descerrou um monumento aos migrantes na Praça de São Pedro, contudo não homenageou os cristãos assassinados por extremistas islâmicos, nem uma palavrinha.

O cardeal Robert Sarah, um dos pouquíssimos líderes da Igreja Católica que mencionou o caráter islâmico desse massacre, escreveu: "na Nigéria, o assassinato de 11 cristãos por islamistas malucos é um lembrete de quantos de meus irmãos em Cristo africanos vivem a fé arriscando a própria vida".

Não é só o Vaticano que está calado. Nenhum governo ocidental teve tempo para expressar horror e indignação diante da decapitação dos cristãos. "Onde está a aversão moral a esta tragédia?", perguntou o bispo nigeriano Matthew Kukah após o massacre do Natal. "Isso faz parte de um drama muito mais amplo com o qual temos que conviver diariamente".

Os líderes europeus devem seguir o exemplo do primeiro-ministro britânico Boris Johnson que, em sua primeira mensagem de Natal à nação ressaltou:

"hoje, exatamente nesse dia, quero que lembremos os cristãos ao redor do mundo que estão diante da perseguição. Para eles o Dia de Natal será comemorado às escondidas, em segredo, talvez até em uma cela".

A chanceler alemã Angela Merkel assinalou que a sua prioridade é combater as mudanças climáticas. Ela não disse nada em relação aos cristãos perseguidos. O presidente francês Emmanuel Macron em seu discurso de solstício de inverno sequer conseguiu dizer "Feliz Natal"

Enquanto isso a revista The Economist adiantou que o primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán, apaixonado defensor dos cristãos perseguidos, "tira proveito" político do problema.

Os líderes da Europa erraram ao não condenarem a bárbara execução de cristãos no Natal: a correção política está corroendo por dentro a sociedade ocidental.

No início de dezembro, outro bispo africano, Justin Kientega de Burkina Faso, salientou: "ninguém nos dá ouvidos. Obviamente o Ocidente está mais preocupado com seus próprios interesses".

"Por que o mundo está calado enquanto cristãos são assassinados no Oriente Médio e na África?", escreveu Ronald S. Lauder, presidente do Congresso Judaico Mundial.

"Na Europa e nos Estados Unidos testemunhamos manifestações de protesto pelas trágicas mortes de palestinos usados como escudos humanos pelo Hamas, organização terrorista que controla a Faixa de Gaza. As Nações Unidas realizaram investigações e concentram sua fúria contra Israel por este se defender daquela mesma organização terrorista. Mas o massacre bárbaro de milhares e milhares de cristãos é tratado com relativa indiferença".

Onde estavam os governos ocidentais quando milhares de jovens muçulmanos entraram na Síria e no Iraque para caçar e assassinar cristãos e destruir igrejas e comunidades? O Ocidente não fez nada e pagou por não reagir. Os islamistas começaram com os cristãos no Oriente e continuaram com os "pós-cristãos" no Ocidente. Nas palavras do medievalista francês Rémi Brague: "as forças que querem expulsar os cristãos de suas terras ancestrais se perguntarão: por que não continuar no Ocidente uma causa que deu tão certo no Oriente?".

Não houve nenhuma indignação no Ocidente quanto às decapitações de cristãos, somente silêncio, interrompido por "Allahu Akbar", tiros e bombas. Os livros de história do futuro não verão com bons olhos essa traição do Ocidente, dependendo de quem os irá escrever. O fim dos cristãos do Oriente será um desastre para a Igreja do Ocidente. Não haverá mais ninguém no berço da sua própria civilização.

O que iríamos ler se, por exemplo, terroristas cristãos parassem um ônibus, separassem os passageiros segundo a fé de cada um, ordenassem aos muçulmanos a se converterem ao cristianismo e depois assassinassem onze? O oposto aconteceu no Quênia. O que lemos? Nada. Em 10 de dezembro, o grupo terrorista islâmico Al Shabaab parou um ônibus no norte do Quênia, assassinou somente os que não eram muçulmanos. Nós ocidentais, via de regra nos sensibilizamos quando da perseguição dessa ou daquela minoria, por que nunca pelos nossos cristãos?

A cristianofobia dos extremistas muçulmanos que massacram cristãos no Oriente Médio e na África está no cerne de uma ideologia totalitária cujo objetivo é unir os muçulmanos da ummah (nação muçulmana) em um califado, isso depois de destruir as fronteiras dos estados nacionais e liquidar com os "infiéis": judeus, cristãos e demais minorias, bem como com os "apóstatas muçulmanos". A Nigéria se encontra na dianteira desse drama.

"A Nigéria é hoje o lugar mais letal do planeta para os cristãos", observou o advogado cristão Emmanuel Ogebe.

"Estamos diante de um genocídio. Eles estão tentando expulsar os cristãos, eles estão tentando se apossar de suas terras e estão tentando impor sua religião aos assim chamados infiéis e pagãos, que segundo eles são os cristãos".

O Ocidente vira para o outro lado e dorme. "O Ocidente abriu suas fronteiras sem hesitar para os refugiados de países muçulmanos que fogem da guerra", escreveu a economista Nathalie Elgrably-Lévy. "Essa solidariedade ocidental aparentemente virtuosa é, no entanto, seletiva e discriminatória". Os cristãos perseguidos foram abandonados pelos governos ocidentais e pelo cenário público.

O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, foi recentemente cercado por muçulmanos que protestavam contra uma nova lei que dará cidadania aos não muçulmanos de países vizinhos que fogem da perseguição. Tarek Fatah explicou no Toronto Sun que a indignação muçulmana com respeito à nova lei indiana se origina do medo "segundo o qual dar cidadania a cristãos, hindus e siques paquistaneses perseguidos, aumentará a população não muçulmana do país diluindo assim seu poder de veto, o que eles vêm exercendo na Índia nos últimos 70 anos".

Onde estão as praças lotadas de londrinos e nova-iorquinos em nome dos refugiados cristãos discriminados pelo Ocidente? Nas regiões da Síria ocupadas pelos islamistas, os cristãos passaram apenas um "Natal especial" sem sinos nem luzes e com muitas de suas igrejas transformadas em estábulos.

Khabour, região da Síria onde os cristãos assírios viviam, agora é chamada de "vale da morte". O ex-arcebispo de Canterbury, George Carey, escreveu recentemente:

"a guerra na Síria recomeçou. Mais uma vez os refugiados lotam as estradas necessitando da nossa compaixão. No entanto, aqueles da 'fé errada' não a terão do governo britânico. O reassentamento do Reino Unido de 16 mil refugiados do conflito anterior não incluiu praticamente ninguém das minorias mais brutalizadas para que elas pudessem alcançar a segurança do nosso país. Dos refugiados que vieram para cá em 2015 sob a égide do Vulnerable Persons Scheme, somente 1,6% eram cristãos. Isso apesar do grupo contar com 10% da população síria".

Os muçulmanos lotam as praças do Ocidente em nome de seus patrícios, mas para os nossos irmãos cristãos perseguidos, essas praças permanecem vazias.

(Texto de Giulio Meotti. Editor Cultural do diário Il Foglio, é jornalista e escritor italiano)

Publicado originalmente no site Gatestone Institute

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