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Morre o algoz de Collor, o homem que conduziu o primeiro processo de impeachment das Américas

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Faleceu nesta sexta-feira (24), no Rio Grande do Sul, o deputado Ibsen Pinheiro (MDB-RS), responsável por conduzir a Câmara dos Deputados em um dos períodos mais turbulentos da República após a redemocratização. Aos 84 anos, Ibsen sofreu uma parada cardiorrespiratória, enquanto era atendido no Hospital Dom Vicente Scherer, em Porto Alegre.

Como deputado, Ibsen percorreu a longa caminhada do Brasil rumo à democracia, sendo o responsável por abrir o processo de impeachment que destituiu Fernando Collor de Mello da presidência da República, em 1997.

Para os que não se lembram, no dia 17 de outubro de 1989, o carioca Fernando Collor foi eleito o 36º presidente do Brasil, cem anos depois de Deodoro da Fonseca ter derrubado a monarquia. Collor teve 35 milhões de votos. Três milhões a mais do que o seu adversário no segundo turno, Lula da Silva, que, nessas eleições, só venceu no Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Pernambuco e Distrito Federal.

Collor, antes, foi prefeito biônico de Maceió indicado pelo general Geisel e um deputado federal bastante medíocre da ARENA. No Colégio Eleitoral de 1985, já no PDS, votou em Paulo Maluf contra Tancredo Neves. Logo em seguida passou para o então PMDB, partido pelo qual foi eleito governador de Alagoas.

Faixa preta de caratê, pai de dois filhos, divorciado de uma milionária carioca e casado com Rosane Collor (de quem veio a separar-se depois do impeachment), subiu como um foguete e caiu como uma flecha. Seu algoz foi justamente Ibsen Pinheiro.

Formado como jornalista, Ibsen também fez carreira na área do Direito como advogado, procurador de Justiça e promotor. Na política, foi vereador, deputado estadual e deputado federal constituinte. Na presidência da Câmara exerceu, interinamente, a Presidência da República, em ao menos duas ocasiões.

Em 1994, teve seu mandato cassado pela CPI que investigou as irregularidades do orçamento da União por participação no Escândalo dos Anões do Orçamento, um esquema que desviou milhões de reais dos cofres públicos. Na época nossa moeda era o cruzeiro. Em 2002, o Supremo Tribunal Federal (STF) arquivou o processo em que ele era acusado de sonegação fiscal.

Depois que recuperou seus direitos políticos, tentou se eleger deputado federal, mas foi derrotado. Em 2004, retornou à política, elegendo-se vereador em Porto Alegre, e, em 2006, foi eleito novamente deputado federal.

Ibsen ficou na história por presidir o primeiro processo de impeachment das Américas, cujo procedimento foi necessário ajustar a Lei 1097, de 1950, à nova Constituição e ao Regimento Interno da Câmara dos Deputados. Antes de Collor, só no início do segundo reinado, em 1840, na crise da maioridade, o Legislativo arbitrou.

Ao ser denunciado pela imprensa como recebedor de dólares suspeitos, foi impichado pela Câmara. Uma reportagem da Veja, intitulada 'Até tu, Ibsen? Um baluarte do Congresso naufraga em dólares suspeitos', foi decisiva para influenciar na sua cassação. A reportagem dizia que Ibsen tinha movimentado um milhão de dólares, mas a CPI, criada para apurar o fato, apontou números diferentes, embora afirmando que ele tinha movimentado alguns milhares de dólares, ou seja, US$ 230 mil.

Segundo sua companheira, a jornalista Jussara Oliveira da Silva, Ibsen teve três paradas cardíacas. “Ele foi um grande homem, um grande companheiro, meu grande parceiro de vida”, disse ela, e que o havia conhecido no Jornal Zero Hora, de Porto Alegre.

Disse também que os dois planejavam se casar quando ele saísse do hospital. Seja como for, Ibsen entrou para a história como o deputado que presidiu a Câmara durante o impeachment de Collor e por ter pronunciado a frase que lhe deu muita notoriedade na época: “O que o povo quer, esta casa acaba querendo”.

Foto de Luiz Holanda

Luiz Holanda

Advogado e professor universitário

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