Mulheres derrubando preconceitos

08/03/2020 às 06:49 Ler na área do assinante

Num único dia deste março de 2020, ocorreram dois casos em Porto Alegre que derrubam ideias consagradas e desafiam a compreensão.

No primeiro, um homem, que não aceita a separação de uma mulher por vontade dela, mandou espancar a ex-companheira e sua filha de 17 anos. E quem fez o trabalho sujo? Aí está o mais chocante: o espancamento foi realizado por um grupo de mulheres.

No segundo, uma mulher de 21 anos estabeleceu um relacionamento com um homem de 27, assumindo as duas filhas dele, que foram abandonadas pela mãe, que sumiu no mundo. Transcorridos dois anos, a desaparecida voltou e quis levar as crianças, que estão sob a guarda formal do pai. E, junto com outras duas mulheres, espancou a "madrasta".

Nos dois casos, os agentes da violência são mulheres, vitimando outras mulheres. Pior, isso nada tem de extraordinário, mas ocorre todos os dias. E derruba um preconceito maniqueísta: o de que homens são agressivos e maus e mulheres são frágeis e boas.

Vale um silogismo: o ser humano propende ao abuso; a mulher é um ser humano; logo, a mulher propende ao abuso.

Para quem tem honestidade intelectual parece óbvio. Num ato abusivo, há duas partes em condições que podem ser meramente circunstanciais ou permanentes. Uma é a que está em posição de vantagem e abusa. A outra é a que está em posição de inferioridade e sofre o abuso.

Figurar em qualquer dos polos da relação abusiva não depende de sexo, idade, religião, condição econômica, opção política ou grau de instrução. Assim, uma mulher, que é o tema aqui, pode ser abusiva com um homem, uma criança, um idoso e até com outra mulher.

Mas, dá para negar que há mais mulheres vitimadas por homens que homens vitimados por mulheres? É inegável! E a diferença radica na vantagem física, basicamente, o que deu causa, no curso da história, a uma condição de subalternidade de direitos e de funções sociais da mulher.

Mas é fato que, para o bem de todos, houve profundas mudanças sobretudo nos últimos 70 anos. Há mulheres, hoje, brilhando no mundo empresarial e atuando com destaque no ambiente jurídico, acadêmico e político. E não foi usando uma carteirinha de vítima para receber tutela estatal que elas chegaram lá, mas tendo coragem, iniciativa e dedicação.

Claro, subsistem ainda aquelas que, sem perceber como se apequenam as suas vidas, buscam "ganho secundário" no vitimismo, deixando-se seduzir por um discurso que só valoriza a vítima e lhe promete um estatuto e, no mesmo pacote, promete uma tutela especial.

E quem articula esse discurso? Ora, quem conhece os ditos "movimentos sociais" ou famigerados "coletivos" compreende-o muito bem. A agenda social da mulher foi roubada para fins ideológicos que não atendem os seus genuínos interesses, mas estão a serviço de um projeto de poder.

Como tática de manipulação, esse direcionamento ideológico explora o egoísmo próprio da condição humana, isentando de responsabilidade pessoas do sexo feminino, outorgando-lhes certo "direito de abuso": é o que chamam de "empoderamento da mulher".

E um caos planejado não se deu só porque são muitas as mulheres que, nada tendo de tontas, não se deixaram arrebanhar por pastores ideológicos. Aliás, é delas que se espera uma reação ativa em defesa do feminino e de repúdio ao referido discurso, entre cujos efeitos está a crescente participação de mulheres em atos violentos.

Que elas digam aquilo que "feminazis" e degenerados em geral querem ignorar, ou seja, que é pela convivência harmônica entre o masculino e o feminino que a sociedade pode alcançar o desejável bem estar, somente possível com liberdade, abundância, disciplina e respeito.

Renato Sant'Ana

Advogado e psicólogo. E-mail do autor: sentinela.rs@uol.com.br

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