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A sinistra relação entre marxismo e satanismo

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A ligação que existe entre o marxismo e o satanismo está muito bem documentada; na verdade, é impossível não perceber as similaridades entre ambas as filosofias, e o tratamento hostil que dispensam a tradição judaico-cristã.

No entanto, são poucas as pessoas que fazem a devida conexão entre um e outro.

A frase “a religião é o ópio do povo” é frequentemente atribuída a Karl Marx; não obstante, ao menos o trecho "ópio do povo" é uma expressão inspirada em sentença proferida pelo poeta e erudito alemão Christian Johann Heinrich Heine.

Como um teórico do socialismo científico, Marx sabia perfeitamente que a religião organizada — em especial o cristianismo — era um enorme obstáculo para o estabelecimento do estado como o soberano máximo de uma sociedade; um conceito inerente à doutrina política que Marx ajudara a desenvolver. Como defensor ferrenho da centralização de todas as questões políticas e econômicas de uma sociedade no estado, para a derradeira implementação de um estado onipotente, era fundamental sabotar e corroer a autonomia e a independência das pessoas, o que tornava primordial erradicar a crença em uma divindade superior.

Assim, quando o Deus verdadeiro fosse eliminado da equação, o estado se tornaria deus. Esse é o mandamento máximo do socialismo. Não é necessário ir muito longe para percebê-lo. O estado como soberano absoluto é um dos princípios fundamentais do marxismo.

Desde sua juventude, no entanto, Karl Marx não escondia o seu enorme ressentimento com relação ao cristianismo e a religião organizada; posteriormente, em sua fase adulta, Marx condenaria todas as manifestações religiosas como superstições burguesas, argumentando que para o estado socialista tornar-se uma possibilidade viável, era fundamental erradicar de forma completa e sistemática a religião, bem como todos e quaisquer vestígios de religiosidade da sociedade e da consciência humana.

Algo que a China está fazendo atualmente — com todo o rigor da brutalidade e da tirania de um governo totalitário —, ao passo que torna compulsório o ateísmo marxista-leninista como a política oficial de estado. Certamente, eles aprenderam a lição proferida por Karl Marx: quando o verdadeiro Deus é removido da equação, o estado torna-se deus.

No socialismo marxista-leninista, o Criador é substituído pelo estado, e seu filho unigênito Cristo Jesus é substituído pelo ditador.

A verdade é que Karl Marx nunca escondeu o seu satanismo, bastião simbólico de sua irascível aversão à religião, e de todo o seu conteúdo político. Em sua juventude, Marx também escrevia poemas, e muitos deles tinham inegável viés satânico, como os versos abaixo efetivamente demonstram:

"Os vapores infernais elevam-se
E preenchem o meu cérebro
Até eu enlouquecer e meu coração
Se transformar dramaticamente.
Vê esta espada?
O príncipe das trevas
Vendeu-a para mim."

Karl Marx era um satanista, completamente devotado à destruição do cristianismo. Richard Wumbrand, pastor protestante romeno — que morreu aos 91 anos de idade, em 2001 —, foi brutalmente torturado em 1948 pelo governo comunista do seu país, depois que declarou publicamente que o cristianismo e o comunismo eram incompatíveis.

Ele próprio um ex-comunista, Wumbrand converteu-se ao cristianismo em 1938, e tornou-se um ferrenho opositor do marxismo, quando entendeu que esta filosofia essencialmente materialista e dialética — que rejeita categoricamente tudo aquilo que é de natureza espiritual — não passa de uma versão repaginada do satanismo. Autor de inúmeros livros, um dos títulos de maior sucesso de Wumbrand é a obra "Marx, um Satanista?", sendo seu título "Marx & Satan", no original.

A obsessão de Karl Marx em obliterar completamente a espiritualidade da sociedade humana não possuía limites, e ele fez questão de enfatizar que este era um elemento fundamental para o estabelecimento de uma sociedade socialista.

Sem a religião, não há Deus. Sem Deus, o estado não terá que competir com uma autoridade superior; sem uma autoridade superior competindo com o estado, o estado torna-se deus. E assim, todos obedecerão ao supremo deus máximo, que é o estado onipotente.

Esta abominável e autoritária imposição política deixou uma herança de milhões de mortos, nos quatro cantos do globo terrestre.

Não é sem motivo ou razão que pessoas religiosas são brutalmente perseguidas em regimes socialistas.

A erradicação da espiritualidade humana é um elemento fundamental do socialismo. Como escreveu Cláudio Tsuyoshi Suenaga, para Marx, "o que importa é destituir Deus, apagando indelevelmente todos os traços de semelhanças divinas existentes na sociedade humana, em suas instituições e costumes. De fato, todas as expressões concretas do comunismo se ocuparam menos de instaurar um novo sistema político, social ou econômico ideal do que de combater a religiosidade e a ideia de transcendência divina."

Ele ainda complementa: "A construção de uma sociedade sem classes igualitária, a distribuição equitativa dos bens, a melhoria das condições gerais dos trabalhadores, o aperfeiçoamento das instituições, o humanismo, eram apenas fachada, ornamentos, pretextos, iscas para induzir proletários e intelectuais a aceitarem e realizarem esse intento demoníaco. Tanto é que onde o povo não luta por ideais socialistas, os marxistas acabam explorando as lutas raciais e o choque de gerações, bem como instigando e fomentando a criminalidade, o consumo de drogas e os movimentos ecológicos, feministas, abortistas, gayzistas, etc."

Tudo faz parte de uma insólita agenda para eliminar o Criador, Cristo Jesus, a Bíblia, com o insólito objetivo de erradicar completamente toda a espiritualidade da sociedade humana.

Nas inúmeras ditaduras socialistas que existiram por todo o século 20, o combate ferrenho à religião está muito bem documentado. Na verdade, a intolerância e a perseguição religiosa foram os mais consistentes legados de Karl Marx. E isso pode ser verificado no estudo histórico de qualquer ditadura socialista.

Como Richard Overy escreveu no livro "Os ditadores — A Rússia de Stálin e a Alemanha de Hitler":

"As escrituras foram submetidas a uma obscena desconstrução (...)". O panfleto de Petr Pavelkine "Existe um Deus?" contestava os fundamentos da fé.

Agitadores antirreligiosos eram incitados a fazer perguntas incômodas em reuniões:

"É possível a ressurreição dos mortos?"

A questão da imortalidade chegou a ser submetida a experiência científica. Na esperança de demonstrar que a ciência, e não a religião, podia oferecer a vida eterna, alguns biólogos soviéticos começaram a buscar meios de deter o processo de envelhecimento "revitalizando" órgãos humanos. O trabalho no Departamento da Matéria Viva do Instituto de Medicina Experimental concentrou-se em isolar os elementos bioquímicos que impediriam a decomposição.

Um dos destacados "Construtores de Deus", Alexander Bogdanov, morreu em 1928 durante uma transfusão de sangue realizada para tentar assegurar sua imortalidade física.

Ao mesmo tempo, o regime soviético procurou meios para obrigar as igrejas a aceitarem a existência da nova ordem e reconhecerem sua subordinação política a ela. Em 1922, o governo encontrou uma questão para testar o equilíbrio de forças entre os dois sistemas, o que aumentou dramaticamente as apostas entre os dois lados e tornou quase inevitável um desfecho violento. Ordenou-se que as igrejas entregassem todos os seus tesouros sagrados, incluindo os cálices e vestes usados para o santo sacramento.

O objetivo ostensivo era vender os bens e levantar dinheiro para vítimas da fome soviética, mas a questão era mais evidentemente sobre a relação entre Igreja e Estado. Relutante, o patriarca Tikhon ordenou submissão, a não ser para os objetos sacramentais. O Estado então se apoderou dos objetos à força. No decorrer da expropriação, mais de 8 mil clérigos foram mortos e houve mais de 1.400 violentos choques com paroquianos revoltados.

O regime encenou 55 julgamentos de clérigos recalcitrantes de todas as seitas e executou vários ilustres, entre eles Benjamin da Igreja Metropolitana de Leningrado, clérigo popular e modesto, famoso pela lealdade aos mais pobres da congregação. O próprio Patriarca foi preso por um breve período pela polícia secreta por atividade contrarrevolucionária, mas saiu da prisão depois de concordar em assinar uma confissão a ser publicada no jornal do governo Isvestiia:

"Declaro pelo presente às autoridades soviéticas que, de hoje em diante, não sou mais um inimigo do governo soviético."

Enquanto Tikhon estava na prisão, um grupo de clérigos radicais, que queria uma igreja mais de acordo com a época moderna, ocupou os escritórios patriarcais e declarou um cisma da Ortodoxia. Fundaram, com a aprovação oficial do governo, a Igreja Renovacionista, ou "Viva", declararam que o cristianismo era, afinal, compatível com os objetivos morais do socialismo ("todo cristão honrado deve... usar todos os meios para realizar em vida os grandes princípios da Revolução de Outubro"), e introduziram uma liturgia modernizada e procedimentos democráticos.

Embora em 1925 a Igreja Viva tivesse 12.593 paróquias e 192 bispos, seu cristianismo renascido atraiu poucos fiéis, e o governo retirou o apoio. Dois anos depois, em 1927, o metropolita Sergei Stragorodsky, o sacerdote superior do prelado após a morte de Tikhon em 1925, foi reconhecido como o chefe em exercício da Igreja Ortodoxa Russa depois de também sofrer os rigores do encarceramento e confissão. Em 29 de julho de 1927, o metropolita transmitiu uma declaração pública de que a Igreja reconhecia a União Soviética como a sua "pátria civil", cujas "alegrias e sucessos são nossas alegrias e sucessos". Centenas de clérigos recusaram-se dar a César o que era de César; em 1930, cerca de um quinto de todos os encarcerados no complexo de campos de trabalho de Soloki, no extremo-norte, era de vítimas clericais de perseguição religiosa.

Em fins da década de 1920, a religião abdicara de qualquer luta política com o comunismo, mas a religiosidade de grande parte da população soviética era extensamente evidente. Diziam que Stálin era mantido informado do "milagre" da Virgem chorando e da efusão de entusiasmo religioso que provocou. No Décimo Sexto Congresso do Partido em 1930, ele anunciou ameaçadoramente que a religião era "um freio à construção do socialismo", mas o Comitê Central já decidira no ano anterior que a não erradicação da religião por argumento exigia uma completa revisão da campanha antirreligiosa.

Sob Stálin, a vida cultural e institucional de todas as religiões da União Soviética foi cruelmente castrada, e milhares de clérigos, assassinados ou exilados. De 1929 em diante, intensificou-se a guerra ideológica contra a religião usando-se slogans de grosseira inspiração: "Bata na cabeça da religião todos os dias de sua vida". A religião era vista como um dos principais obstáculos à modernização da sociedade soviética e à construção de uma economia comunista, e as comunidades religiosas foram tratadas como se fossem partidários políticos de um capitalismo residual.

O ataque físico à religião significou o fechamento ou confisco de igrejas, capelas, mesquitas, sinagogas e mosteiros. Começando em 1928 com o fechamento de modestos 532 templos religiosos, por volta de 1940 a maioria fora dinamitada, fechada ou ocupada por autoridades civis para uma ampla variedade de outros fins.

O famoso mosteiro de Strastnoi no centro de Moscou transformou-se no museu antirreligioso nacional, onde cartazes e artefatos repisavam a mensagem de que toda religião se originava de uma fonte antiga de superstição primitiva; exposições menores de ateísmo — Museus de Ateísmo Científico — proliferaram em toda a União Soviética. Os fechamentos atingiram todas as seitas. A Igreja Ortodoxa russa tinha 46.457 igrejas e 1.028 mosteiros na época da revolução; em 1939, estimativas variavam de cem a menos de mil ainda funcionando. Em Moscou havia seiscentas comunidades religiosas de todos os tipos em 1917, mas apenas vinte sobreviviam em 1939. Nem sequer a pró-comunista "Igreja Viva" foi poupada.

Em Leningrado, onde fora mais bem-sucedida em angariar adeptos da ortodoxia tradicional, havia apenas uma igreja ainda funcionando em 1940. O número de clérigos em atividade também declinou; dos 290 bispos ortodoxos e quatrocentos renovadores consagrados nas décadas de 1920 e 1930, apenas dez de cada ramificação ainda ocupava o cargo em 1941. Alguns haviam morrido em campos de trabalho, outros executados por contrarrevolução, um número desconhecido se escondia. A população de padres paroquianos caiu de cerca de 40 mil em fins da década de 1920 para cerca de 4 mil em 1940. Milhares de clérigos católicos, batistas, judeus e muçulmanos sofreram o mesmo destino.

Stálin também foi a força motriz por trás da intensificação da campanha antirreligiosa. O ponto de partida foi uma nova lei sobre organizações religiosas que entrou em vigor em 8 de abril de 1929.

A legislação transformou o status residual permitido à religião nos acordos constitucionais de 1918. Não mais se permitia a nenhuma religião envolver-se no que se chamava livremente de propaganda religiosa; todos os grupos de estudo e círculos da Bíblia, movimentos religiosos de jovens e mulheres, salas de leitura e bibliotecas eclesiásticas, todas as formas de educação religiosa e proselitismo formal foram proibidos. Os clérigos podiam apenas realizar o serviço divino, nada mais. Os serviços tinham de ser realizados em designadas casas religiosas por padres residentes na área imediata, e livro nenhum além dos de liturgia podia ser exposto nem guardado nas igrejas.

Aumentaram-se os níveis de imposto sobre todo o clero a um ponto em que pagavam para o Estado tudo o que ganhavam — 80 por cento de imposto de renda, e um adicional de 20 por cento pela recusa de não servir às Forças Armadas. As regras sobre direitos de residência clerical foram alteradas, o que deixou a maioria dos clérigos obrigada a viver da generosidade daqueles na congregação que podiam oferecer um quarto privado e um suprimento regular de doações de comida. Os sacerdotes que tentavam comprar comida nas lojas do Estado eram obrigados a pagar um depósito especial antes de poder fazê-lo. Uma lei subsidiária de 5 de agosto de 1929 assegurou que clérigos indigentes não se tornassem um fardo financeiro para o Estado, retirando-lhes todos os direitos a bem-estar, pensões ou seguros de saúde.

A nova lei endossava especificamente o direito de propaganda antirreligiosa, e a União Soviética foi inundada por uma maré de atividade ateia durante a década de 1930. O Comitê Central criou o que ficou conhecido como a "Comissão de Culto" no mesmo dia que a nova lei sobre organização religiosa, cuja tarefa era supervisionar a liquidação gradual da religião organizada.

A responsabilidade pelo trabalho de educação foi dada à Liga dos Ateus, que em 1929 manifestou seu maior apetite pela luta resultante contra a fé religiosa, mudando o nome para Liga dos Militantes Ateus. Os 465 mil membros de 1929 transformaram-se em 1932 num movimento de massa de 5,6 milhões.

A agitação antirreligiosa — "companheira dos agitadores" — foi transmitida pelo aparato de propaganda central do Estado para ser usada em reuniões regulares feitas pela Liga em toda aldeia, fábrica e escritório. "Sua tarefa", dizia uma ambiciosa circular do partido em 1937, "é explicar às grandes massas o caráter de classe reacionário da Páscoa e festas religiosas em geral e da religião como um todo." Em 1920, o partido organizara apenas 230 conferências antirreligiosas; em 1940, fizeram-se 239 mil conferências para um público estimado de 11 milhões.

O materialismo científico era promovido como o verdadeiro caminho. Rebatizou-se o Dia de Natal como Dia da Industrialização. Os camponeses aprenderam "meteorologia ateia" e granjas coletivas criaram "hectares ateus" para demonstrar aos aldeãos céticos ou supersticiosos que a ciência produzia colheitas mais ricas do que as preces. Em 1929, introduziu-se a "semana de trabalho contínuo" para impedir a ida à igreja; a quatro dias de trabalho seguia-se um de folga, e a maioria dos domingos tornou-se apenas outro dia de trabalho.

A nova onda de educação ateia e repressão religiosa teve consequências contraditórias. As igrejas sobreviveram pela improvisação no limitado espaço a elas distribuído. Um teólogo holandês de visita a Moscou em 1930 viu-se num hotel defronte a uma pequena capela. Observou que os transeuntes davam uma discreta espichada da cabeça ou do tronco ao se aproximar do nível da capela. Quando ele atravessou a rua para ver por si mesmo, encontrou um grande aviso perto da porta de entrada com a famosa máxima de Marx: "A religião é o ópio do povo."

Dentro, um padre de vestes maltrapilhas pregava para uma congregação diante de constantes zurros e vaias de um pequeno grupo de ativistas irreligiosos jovens em pé num canto. O padre disse ao visitante que a capela logo seria transformada num centro cultural; a vizinha igreja de São Vladimir virara um cinema, no qual ainda se viam frequentadores atravessando o saguão onde antes pendia um ícone da Virgem Maria.

A adoração e a crença religiosas persistiram ao longo dos anos de Stálin. O censo de 1937 revelou que mais da metade da população (57 por cento) continuava se definindo como crentes. O regime soviético reagiu com hesitação a essa realidade. Stálin pediu um relaxamento temporário da perseguição religiosa no início da década de 1930, embora em 1937 reagisse furiosamente porque a Liga de Yarolavsky ou a Comissão de Culto não haviam erodido mais rapidamente a convicção religiosa, e a Liga foi barbaramente expurgada a outras instituições do partido.

Em 1936, a Constituição de Stálin deu a sacerdotes o direito de votar, o qual haviam perdido em 1918, uma mudança de política que causou confusão entre os comunistas ateus. Alega-se às vezes que Stálin, ex-seminarista, ainda abrigava um sentimento religioso residual que poderia explicar as recaídas periódicas em meio à implacável campanha contra a visão religiosa mundial. Não há evidência alguma para confirmar tal conclusão. Stálin permaneceu um coerente advogado da base científica e materialista de todo conhecimento. Suas concessões à religião foram táticas e oportunistas, mas não deram aos clérigos nenhuma imunidade do Estado revolucionário.

Em janeiro de 1937, o metropolita Sergei e 51 bispos foram oficialmente reconhecidos como a autoridade central da Igreja Ortodoxa, mas, no decorrer do mesmo ano cinquenta bispos, além de serem presos por contrarrevolução e espionagem, foram fuzilados ou encarcerados. Ao "relaxamento" da perseguição detectado em 1936, seguiram-se os mais intensivos três anos de fechamentos de igrejas, prisão clerical e terror antirreligioso. Para Stálin, a Igreja Ortodoxa (embora não as seitas nem a Igreja ou o judaísmo cismáticos) era útil como um manso instrumento do regime. Qualquer manifestação de desafio à visão mundial do comunismo soviético era recebida com total e implacável hostilidade.

O caráter oportunista da política religiosa estalinista ficou claro no reflorescimento da Ortodoxia em 1941 como uma contribuição para o esforço de guerra patriótico e um meio de seduzir os aliados soviéticos. Os líderes ortodoxos produziram uma antologia em língua inglesa intitulada The Truth about Religion in Russia [A verdade sobre a religião na Rússia], onde se afirmava, sob títulos sensacionalistas como "Outrages against Sanctuairies and the Faithful" [Atrocidades contra os santuários e os fiéis] ou"The Fascists Took a Blanket from a Child" [Os fascistas tomaram um cobertor de uma criança], que o nacional-socialismo era o verdadeiro inimigo da religião. Sob o comunismo, escreveu um bispo simpatizante, "ninguém nos impede de professar livremente nossa fé". Milhares foram publicados, impressos na mesma tipografia usada pela Liga dos Ateus. É de fato verdade que as autoridades permitiram a reabertura de igrejas; em 1947, havia cerca de 20 mil, junto a 67 casas monásticas. Mas a luta moral com a religião pouco diminuiu. Em setembro de 1944, o Comitê Central pediu o restabelecimento da "propaganda científico-educacional" contra a crença religiosa, e em 1947 fundava-se uma Sociedade para Disseminação do Conhecimento Político e Científico, destinada a continuar o trabalho da extinta Liga, que cessara as atividades em 1943. Um grupo de alunos que se reuniu em 1948 para discutir a existência de Deus foi preso por submeter o marxismo-leninismo a "crítica hostil".

A luta com a religião em torno de questões sobre a verdade nunca se revolveu sob Stálin. Os comunistas esperavam que a erradicação física de instituições religiosas e o silenciar do ensino religioso corroessem aos poucos o atraso cultural da sociedade soviética e substituíssem a superstição pelas certezas da ciência natural e social, e foi isso que ocorreu em considerável medida. Embora a União Soviética não fosse "descristianizada", era um Estado inteiramente secular no qual todos os cidadãos se expunham às afirmações dogmáticas da visão de mundo comunista; uma pesquisa de residentes de Voronej em 1964 encontrou apenas 7,9 por cento dispostos a admitir que eram crentes firmes, e 59,4 por cento ateus convictos. Os que professavam religião o faziam muito na defensiva, sempre provocando o risco de vitimação. O metropolita Sergei, numa entrevista privada em 1936, admitiu que esperava pacientemente "o dia do triunfo de Cristo" na Rússia, mas em público a Igreja Ortodoxa aclamava Stálin como "o escolhido de Deus".

Como é possível constatar lendo a obra de Karl Marx — tanto o que ele escreveu em sua juventude, como o que ele escreveu depois, como teórico do comunismo —, e analisando todos os regimes inspirados em seu trabalho de proponente do socialismo científico, a violência, a brutalidade, o despotismo e a crença do materialismo dialético como princípio absoluto e inflexível de uma sociedade, que era o sustentáculo da sua proposta, acabaram sendo não apenas os elementos que serviriam de propulsores para as piores tiranias e os mais deploráveis genocídios da história humana, como tornaram-se os vetores e catalisadores de uma doutrina radicalmente oculta, funesta e mortífera, uma autêntica variação política do satanismo, que escondia no epicentro de suas intenções objetivos genuinamente degradantes, malévolos, cruéis e autoritários. Por essa razão, a promoção do marxismo nos dias de hoje, depois de todas as atrocidades cometidas, de toda a dor e sofrimento provocados contra pessoas inocentes, deveria ser categorizada como um crime contra a humanidade.

A fusão dos ensinamentos de Vladimir Lênin, com a doutrina de Karl Marx — o que deu origem ao marxismo-leninismo — foi um movimento deliberadamente orquestrado para reforçar o teor do autoritarismo político da doutrina socialista, e sua luta irrevogável contra a espiritualidade e a religião. Como Richard Overy também escreveu em seu livro "Os Ditadores", "Lênin, como Marx, era um implacável opositor de qualquer sentimento religioso". De maneira que lutar por um mundo melhor consiste, inextricavelmente, em combater diariamente o marxismo, onde quer que este se manifeste.

O marxismo consiste na promoção autoritária de um governo brutal, despótico, irascível e inflexível, cuja principal finalidade é remover arbitrariamente a espiritualidade inerente à condição humana, para que — no vácuo desta — o estado ocupe a posição superior de divindade onipotente. Ou seja, o estado socialista pretende usurpar o lugar que é exclusivo do Criador, Jeová, para ocupá-lo de forma absoluta. É exatamente a mesma ambição que Satanás, o diabo, alimentou quando ainda era um anjo celestial, e que causou a sua derrocada, levando-o a provocar a queda da humanidade no Jardim do Éden, ao instigar nos seres humanos esta mesma ambição. Em poucas palavras, isto trata-se de uma blafêmia absoluta. O marxismo é o satanismo adaptado para uma condição política, e professá-lo consiste em um sacrilégio nefasto que ninguém temente ao Deus verdadeiro ousaria cometer.

(Texto de Wagner Hertzog)

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