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Nossa angústia e o instinto da fera: as hienas e o “panelaço”

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Quem não estará com o coração fragilizado? Quem, com esta maldita pandemia, não foi tomado pela angustia? É humano e até sinal de sanidade sentir tristeza nesta hora.

Por razões que não vêm ao caso, estava eu desconectado pelo dia inteiro, fato que deu causa à surpresa. Fui atraído pelos gritos e parei para entender. Imaginei hienas. Já explico.

Hienas têm instinto aperfeiçoado para identificar um animal ferido e, por conseguinte, vulnerável. Hienas são oportunistas. E tiram proveito da fragilidade de suas vítimas. É seu jeito de sobreviver.

Fui à janela averiguar. Na noite desta quarta-feira (18), o Centro Histórico de Porto Alegre foi assombrado por hienas que, farejando a fragilidade emocional de toda a gente, mostraram o seu oportunismo.

Num ponto determinado, próximo do meu edifício, Usando uma trombeta e batendo panelas, havia um grupo aos gritos de "Fora Bolsonaro!".

Lembrou o horrendo espetáculo da noite do dia 28 de outubro de 2018, que esta coluna registrou, quando Jair Bolsonaro foi eleito.

O Centro Histórico parecia, então, como também desta vez, um hospício. Na ocasião, como agora, vozes femininas gritavam "Ele não!". Só que, naquele dia, havia uma alegria generalizada que neutralizou o desvario.

Fui para a internet. E só aí compreendi. As hienas sentiram o cheiro da nossa tristeza, da angústia, da incerteza e do medo. E, como sempre, foram oportunistas: organizaram um panelaço. Era o que faltava...

Estamos tristes. É natural. Mas haveremos de achar um sentido para o sofrimento. Faremos a dura travessia e, no final, sairemos mais fortes.

E não entregaremos a alma às hienas.

Foto de Renato Sant'Ana

Renato Sant'Ana

Advogado e psicólogo. E-mail do autor: sentinela.rs@uol.com.br

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