O Vírus Chinês e o que você precisa saber...

24/03/2020 às 11:01 Ler na área do assinante

Passei os últimos dias lendo relatórios e vendo vídeos com diversas abordagens, exposições e visões sobre a crise do vírus chinês. Depois de muito ponderar cheguei a algumas conclusões que gostaria de dividir com vocês, até para economizar o trabalho de pesquisa.

Antes de mais nada explico que li e ouvi a opinião de muita gente mas usarei neste texto fundamentalmente a visão do Dr. Alessandro Loiola, do Dr. Eduardo Senra e do ministro da Saúde Henrique Mandetta.

Esclareço que aqui darei minhas interpretações e sugestões pessoais sobre o que foi exposto por esses e outros. Portanto não é razoável criticar nenhum deles por erros ou absurdos neste texto. Por outro lado é mais que cabível, é obrigatório, atribuir a estes e outros não citados quaisquer méritos que o leitor encontre.

Ainda, evitarei as cansativas demonstrações numéricas e gráficos infindáveis que terminam por confundir mais que informar. Usarei alguns desses recursos de forma limitada. Da mesma forma, as informações que usei neste artigo são de fácil consulta, e só citei uma fonte específica.

O VÍRUS

Hoje já se conhece muito sobre o vírus, desde que ele acometeu países livres, saindo da China. Trata-se de um vírus que causa uma taxa de mortalidade muito baixa e especialmente concentrada na faixa acima de 70 anos. E ainda assim, a maioria dos falecimentos foram de idosos com doenças pré-existentes.

Por outro lado, é um vírus de altíssima capacidade de transmissão. Espalha-se com rapidez alarmante e isso é vital nessa análise.

Sendo um vírus pouco fatal seu potencial de alastramento é aumentado pois ele permite que o hospedeiro fique vivo e na maioria dos casos em crianças e jovens, totalmente assintomático.

Não existem dados confiáveis sobre a quantidade de casos existentes para que possamos usar isso como base. Isso é importante. Qualquer taxa baseada no total de casos é por definição incorreta pois esses podem ser muito maiores, reduzindo drasticamente as taxas.

Letalidade: nos últimos números oriundos da Itália (país em pior condição até o momento) o seguinte quadro foi percebido (dados até dia 17/mar):

Média de idade dos mortos: 79,5 anos para homens e 83,7 para mulheres.

Mortes por sexo: 70% homens, 30% mulheres

Média de doenças graves nos pacientes (além do vírus): 2,7

Percentual de pacientes mortos SEM portar outras doenças: 0,8%

Mortos com idade entre 30 e 50 anos: 17, sendo que TODOS com doenças anteriores.

Mortos com menos de 30 anos: ZERO.

Mortes até dia 23/3 na Itália: 6077, dos quais 75% de 70 anos para cima.

Percentual sobre a população: 0,01%.

Mortes em 2017 por vírus Influenza na Itália: 50.000 mortes ou 0,08% da população.

Fonte: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1201971219303285

% da população italiana acima de 65 anos: 22%

% da população brasileira acima de 65 anos: 9,8%

Dessas informações extraímos o seguinte: o vírus é virtualmente inofensivo para pessoas com menos que 50 anos. E é perigoso para pessoas com mais de 70.

O vírus Influenza matou em 2017 dez vezes mais que o vírus chinês. As mortes nessa epidemia ainda não terminaram mas a Itália já apresenta desaceleração no número de novos casos, o que é sinal de que a curva de mortes deve reduzir também.

Todos os países afetados apresentam curvas de contaminação com formatos parecidos mas estas sofrem sempre das já citadas imprecisões. Mesmo assim a tendência de crescimento rápido da contaminação é uma constante.

Devemos, já que a taxa de crescimento de casos é um dado muito dependente da capacidade de testes de cada país e mesmo assim, com o caráter assintomático do vírus nas faixas etárias mais baixas, essa informação não seria confiável, focar nossa observação no número de mortes.

Observem a tabela na foto:

Observem que esses são os números verídicos, sem discrepâncias possíveis, a não ser a menor, quando um paciente contaminado tiver morrido por outra razão que não o vírus. No pior dos casos temos uma letalidade muito abaixo daquela verificada num habitual surto de Influenza. Se somarmos as diversas outras doenças que causam mortes no Brasil, por exemplo, fica claro que não há qualquer razão para pânico de nenhuma natureza.

Não incluí os dados fornecidos pela China por este país ter se dedicado, desde o princípio do problema, a ocultar suas informações, chegando à expulsão de dezenas de jornalistas do país. É mais seguro usar os dados de países com imprensa livre.

COMO FUNCIONA UMA EPIDEMIA

Entender o funcionamento de uma epidemia é vital para a compreensão da estratégia apresentada a seguir. E trata-se de um processo pouco explicado nas publicações que tenho lido.

Basicamente numa epidemia um doente transmite o vírus para mais de uma pessoa sã. Isso gera uma curva exponencial de contágio que é evidentemente assustadora. Mas como a epidemia é interrompida?

Se o vírus não apresentar nenhuma fragilidade a mudanças climáticas específicas o que causa o fim de uma epidemia é a imunização de boa parte da sociedade. Algo entre 50 e 70%.

Explicarei esse processo em seguida. Quando se trata de um vírus conhecido essa imunização é feita antecipadamente através de campanhas de vacinação. No caso do Influenza, por exemplo, a vacinação reduz em 45% o número de casos.

No caso do vírus chinês não há vacina. Então a imunização será feita através do contágio da população. Cada pessoa contaminada que não teve sintomas, teve sintomas leves ou graves e se recuperou está imunizada e não contrairá mais aquele vírus. Seu corpo já matou todos os vírus presentes e se algum entrar será devastado por um exército desproporcional de anticorpos. Não há possibilidade de reincidência.

Assim, numa epidemia, ocorre que no início cada espirro contamina dez. Depois que um número razoável de pessoas se torna imune cada espirro passa a contaminar cada vez menos pessoas, de forma exponencial também até o fim dos casos.

Imaginemos um vagão do metrô, por exemplo. Se estivermos no início do contágio com um espirro lá dentro, de 100 passageiros 80 seriam contaminados. No mesmo vagão de metrô, com metade da população imunizada, seriam contaminados apenas 40 pessoas.

Só que isso se propaga. Os 80 do primeiro caso poderiam ter contato com duas pessoas cada um, levando em seguida o número de contaminados a 240.

No segundo caso os 40, tendo contato com duas pessoas (sendo que uma imunizada) gerariam um número de apenas 80 contaminados. 1/3 do primeiro caso.

E estes contaminados, por sua vez, seriam mais agentes imunizados de contenção, reduzindo a velocidade do contágio ainda mais.

Esse processo se aplica a uma localidade com contaminação. Por exemplo, uma cidade. Portanto controlar a entrada de pessoas numa cidade sem casos é inteligente e prático. Falaremos disso adiante.

A SOBRECARGA DO SISTEMA

Um risco evidente de um surto de casos do vírus é a sobrecarga do sistema. Isso faz todo o sentido mas os fatos devem ser expostos com bastante cuidado.

Só sobrecarrega hospital quem está com sintomas graves. Isso depende exclusivamente da faixa etária. Se uma população grande de jovens for exposta ao vírus o número de casos de internação será ínfimo. De uso de UTI então nem se fala.

Já acima dos 65 anos a coisa muda de figura. O percentual de casos nessa faixa etária que requerem internação é bem maior que nos jovens. Esse foi um dos problemas da Itália, com suas características demográficas específicas. Na Itália, 22% da população é de idosos. Já no Brasil temos a metade disso, 9,8%.

Outro fator é a qualidade do sistema de saúde. Na Itália as condições são muito melhores que no Brasil. O governo prevê a implantação de instalações de emergência, muitas destas já em construção por todo o Brasil.

Outro fator importante é a distribuição geográfica. A distância é um fator de contenção do vírus e funciona diretamente na redução de velocidade do contágio.

Aqui no Brasil tivemos a vantagem de um bom tempo de atraso no início da epidemia em comparação a diversos outros países. Isso permitiu que diversas providências fossem tomadas e esse tempo foi usado pela comunidade científica mundial no teste e definição de medicamentos para minimização do problema.

A HIDROXICLOROQUINA

Este medicamento, já usado no combate à malária há 80 anos, vêm mostrando excelentes resultados quando associado à azitromicina. O governo brasileiro já providenciou a produção em massa do medicamento, que será disponibilizado nas unidades de saúde.

É fundamental ressaltar que esse remédio NÃO DEVE SER COMPRADO nas farmácias como meio de contenção do vírus chinês. Sua posologia deve ser definida por médicos e ele é útil apenas em pacientes com sintomas GRAVES.

Mais ainda, o medicamento é necessário para portadores de lúpus e outras doenças, que necessitam do medicamento em caráter regular. Não é preciso estocar o medicamento e nem é seguro fazer auto-medicação, especialmente nesse caso.

Nenhuma previsão apocalíptica leva em conta a utilização desse medicamento. Nos números de mortes que apresentei esse uso, ainda pequeno, já está embutido.

A ESTRATÉGIA

O problema que se apresenta ao mundo todo é como combater o vírus sem causa um mal maior que o próprio. Aqui é necessária uma visão mais ampla que a da saúde direta.

Ao se falar em economia imediatamente lembramos de dinheiro e bancos. Todavia a economia é o próprio substrato social. É o padeiro que compra a farinha do dono do moinho que compra os grãos do fazendeiro. É o dono do restaurante de beira de estrada que alimenta o caminhoneiro que transporta o material hospitalar para o sistema de saúde no interior. É o eletricista que conserta a fiação de uma idosa diabética que usa aparelhos para sua sobrevivência. É, finalmente, o funcionário do supermercado que abastece as prateleiras fazendo o milagre do mundo moderno acontecer.

Quebre esta cadeia e não estará apenas causando um desconforto temporário. O eletricista não terá meios de voltar a fazer suas funções. O restaurante de beira de estrada terá sido vendido e nele morará uma família de miseráveis. A idosa diabética não terá a quem recorrer e talvez nem receba sua aposentadoria. O Estado ficará sem arrecadação. Os funcionários públicos ficarão sem salários.

Pessoas que com leveza declaram a necessidade de um completo fechamento de atividades por três meses não tem a menor idéia de como funciona a nossa economia. Diversos setores não resistem sequer a duas semanas de fechamento. Já estamos encarando uma pequena catástrofe entre os pequenos empresários e seus empregados.

Então, para se pensar numa estratégia racional, a primeira requisição é abandonar o romantismo. Emoções são péssimas conselheiras. Quem diz que “não aceita” a inevitável morte de milhares de pessoas no Brasil (eu estimo algo entre 0,005% e 0,01%, de 10.000 a 20.000 pessoas) deve sair da discussão ou abandonar essa postura.

Pessoas vão morrer. Ora, já estão morrendo e isso vai, INEVITAVELMENTE, se expandir. Temos que olhar o monstro de frente e pensar na melhor maneira de minimizar as mortes por este vírus sem aumentar as causadas pelas demais doenças e sem levar nosso povo à ruína, ao desemprego, à fome e novamente à morte.

Daí eu me remeto aos médicos e demais pensadores que citei no início desse artigo. Vejam aqui as sugestões de medidas que julguei coerentes e lógicas:

1 — Fim gradual da quarentena, expondo os mais jovens (abaixo de 40) ao convívio restrito e cauteloso no primeiro momento. Essa seria a população que faria a primeira camada de proteção, com baixíssimo risco e pouca demanda do sistema.

2- Após um prazo ideal na medida acima, teríamos a abertura das escolas com a seguinte ressalva: alunos que residam com idosos no grupo de risco não devem ir às aulas, sendo considerados doentes para efeitos práticos. A proteção e isolamento dos idosos é vital. Isso iria gerar uma ampliação no contágio e no percentual de imunizados, ainda com baixo impacto. Alguns detalhes são óbvios: professores e funcionários na faixa de risco não poderiam comparecer, etc.

3- Recorrente acompanhamento da variação das curvas de requisição do sistema de saúde, revertendo as medidas acima quando necessário. Os prazos ideais de ambas é uma definição para especialistas.

4- Liberação da quarentena para as faixas mais elevadas de idade, desde que fora dos grupos de risco.

5- Relaxamento das medidas de isolamento.

Controles de acesso a comunidades sem o vírus são algo evidentemente útil, se viável. Isso tem sido feito com sucesso em países que ainda não desenvolveram contágio interno.

Essas medidas seriam acompanhadas de ações específicas no sentido de oferecer rapidamente a proteção hospitalar adequada aos profissionais de saúde, aquisição de equipamentos, construção de hospitais de campanha, etc.

Tudo isso já está sendo feito pelos governos nas várias instâncias.

CONCLUSÃO

É perfeitamente possível encarar essa crise sem pânico nem histeria desproporcional. Conforme apresentado acima, o vírus não sustenta esse tipo de reação.

Vários vídeos alarmistas vêm sendo distribuídos por aí, alguns chegando ao ridículo de sugerir 2 milhões de mortes no Brasil. Só posso imaginar que haja algum interesse de ordem política ou de ganho pessoal para semelhantes absurdos serem propagados. Infelizmente muitos compartilham essas mensagens desprovidas de qualquer embasamento sólido por desinformação.

Espero que as explicações neste artigo ajudem o leitor a perceber que o mais perigoso nessa crise é o medo, o pânico, a histeria.

O momento da nação pede união, solidariedade e sacrifício para que possamos atravessar essa crise com o mínimo prejuízo possível. Infelizmente existem aqueles que não deixam seus interesses políticos de lado de forma nenhuma, não se importando se uma catástrofe destruir o país, desde que voltem ao poder. Destes não podemos esperar união e devemos tratá-los com firmeza no repúdio às suas ações mesquinhas, que incluem a propagação do pânico e do medo.

Nosso país sairá dessa crise melhor do que entrou, se nossos inimigos internos forem silenciados por nós, o povo.

Tenhamos fé, tranquilidade, cuidado total com nossos idosos e muita esperança numa recuperação rápida.

(Texto de Eduardo Vieira. Professor de Robótica, Matemática, Física e Ciências)

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