Dormindo com o inimigo

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Marco Angeli Full, colaborador assíduo deste JCO, acaba de nos brindar com mais um excelente texto intitulado:

Fundo dos Trouxas volta para a mão dos políticos: Derrubada decisão que bloqueava fundos partidários e eleitorais.” /1/

O texto é perfeito ao descrever e comentar a decisão do presidente do TRF-1 que derrubou a liminar do juiz federal Itagiba Catta Preta que transferia “os três bilhões destinados à farra eleitoreira dos ratos do Congresso e colocava esta grana à disposição do presidente da República para o combate à Covid-19.”

O texto é perfeito, já disse, mas há um detalhe em que passa batido: quem recorreu ao TRF-1 em favor da “causa” dos “ratos do Congresso” foi a Advocacia Geral da União (AGU), hoje ocupada por André Mendonça.

Que André Mendonça não é flor que se cheire, já concluiu a Redação deste JCO em texto publicado em 10/10/2019 sob o título sugestivo:

“O ‘terrivelmente evangélico’ Advogado-Geral da União está ludibriando Bolsonaro.” /2/

Falemos um pouco, então, sobre André Mendonça, o Advogado Geral da União de Jair Bolsonaro.

André Mendonça é o sujeito que Bolsonaro cogitou nomear para o Supremo Tribunal Federal (STF) por ser “terrivelmente evangélico”.

Este novo ministro do STF, sabe-se, deverá ser nomeado em novembro deste ano, com a aposentadoria muito tardia de Celso de Mello.

Qualquer pessoa em pleno uso da razão sabe que a condição de evangélico, ou “terrivelmente evangélico”, ou católico, ou nada disso é tão relevante para ser ministro do Supremo – uma instituição do Estado Laico brasileiro – quanto ter fritado hambúrgueres no frio estado norte-americano do Maine o é para ser embaixador do Brasil nos EUA. (Nota entre parêntesis: o leitor certamente se lembra de que este estágio em fritura de hambúrgueres no Maine foi invocado por Carlos Bolsonaro, filho 02 de Jair, como dado curricular para ocupar a embaixada do Brasil nos EUA. Felizmente, esta intentona de nepotismo familiar explícito não teve apoio popular e congressual para materializar-se.)

O relacionamento íntimo de André Mendonça com Dias Toffoli é antigo. Foi Toffoli quem recomendou Mendonça a Michel Temer para a AGU.

Bolsonaro, quando assumiu o governo, manteve Mendonça lá na AGU, apesar de que ele lá estava por indicação de seu padrinho Dias Toffoli.

A afinidade de André Mendonça (como Toffoli, aliás) com o PT e Lula é histórica.

“O povo se dá uma oportunidade” é o título de artigo assinado por André Mendonça na Folha de Londrina de 31 de outubro de 2002, quatro dias após a divulgação dos resultados das urnas, dando a vitória, no segundo turno das eleições presidenciais, a Lula. Esta afinidade histórica com o PT explica a atuação de André Mendonça em favor de seu padrinho Dias Toffoli na AGU, tão bem destacada naquela matéria da Redação do JCO, já apontada acima.

Como já disse, Bolsonaro precisa se dar conta que ser “terrivelmente evangélico” é tão relevante para ocupar uma cadeira no STF - uma instituição de Estado Laico - quanto ter fritado hambúrgueres no Maine o é para ser embaixador nos Estados Unidos. E precisa dar um basta nesta de nomear pessoas por serem “terrivelmente evangélicas”, ou por razão de qualquer fé religiosa, para cargos públicos do Estado Laico brasileiro.

Para concluir, diga-se que o Estado Laico, ao contrário do que muitos pensam, não é um Estado antirreligião. Pelo contrário, é um Estado que, por não se estribar em qualquer religião, é independente para proteger e garantir o direito à fé (ou à fé nenhuma!) e ao culto a todas as denominações religiosas.

O contrário é o Estado Teocrático, com religiões oficiais e intolerantes a outras denominações religiosas. Representam, em geral, as piores ditaduras. São exemplo notáveis de Estados Teocráticos a Arábia Saudita e o Irã dos aiatolás, além do falecido ISIS, “Islamic State of Iraq and Syria”, de medonha memória.

REFERÊNCIAS:

1.https://www.jornaldacidadeonline.com.br/noticias/19802/fundo-dos-trouxas-volta-para-a-mao-dos-politicos-derrubada-decisao-que-bloqueava-fundos-partidarios-e-eleitorai

2.https://www.jornaldacidadeonline.com.br/noticias/16758/o-equotterrivelmente-evangelicoequot-advogado-geral-da-uniao-esta-ludibriando-o-bolsonaro

Foto de José J. de Espíndola

José J. de Espíndola

Engenheiro Mecânico pela UFRGS. Mestre em Ciências em Engenharia pela PUC-Rio. Doutor (Ph.D.) pelo Institute of Sound and Vibration Research (ISVR) da Universidade de Southampton, Inglaterra. Doutor Honoris Causa da UFPR. Membro Emérito do Comitê de Dinâmica da ABCM. Detentor do Prêmio Engenharia Mecânica Brasileira da ABCM. Detentor da Medalha de Reconhecimento da UFSC por Ação Pioneira na Construção da Pós-graduação. Detentor da Medalha João David Ferreira Lima, concedida pela Câmara Municipal de Florianópolis. Criador da área de Vibrações e Acústica do Programa de Pós-Graduação em engenharia Mecânica. Idealizador e criador do LVA, Laboratório de Vibrações e Acústica da UFSC. Professor Titular da UFSC, Departamento de Engenharia Mecânica, aposentado.

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