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Relativizando a informação

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Eis um exemplo notável da guerra psicológica (ou terrorismo midiático, como quiserem) travada pela mídia nacional, com propósitos que uma mente sã não consegue alcançar:

Manchete da Folha de São Paulo de 11/04:

“País tem mais de cem mortos, e o mundo, mais de 100 mil”

Que horror, dirá o comum dos brasileiros, incapaz de relativizar a notícia. Este tipo de manchete jornalística não é um caso isolado que deva passar desapercebido. É o padrão de que dia após dia, hora após hora invade os computadores e smartphones de todo o brasileiro, criando uma onda de terror. Desinforma mais do que informa.

Claro, toda morte provocada por um vírus que vem lá da China e que só cobriu o mundo por causa da leniência do governo chinês para com um problema que é seu historicamente, dói muito.

O problema chinês a que me refiro está na falta de higiene nos mercados públicos de animais e a famigerada “Medicina Chinesa” tradicional. Esses dois fatores interligados são os responsáveis por mais esta pandemia, além de ter sido responsável por todas as anteriores.

Trata-se daquela mesma “medicina” que ensina que servir-se de partes de animais selvagens pode-lhes transferir uma suposta (nunca detectada ou medida pela ciência) “energia vital”. Esta “medicina” é responsável pela dizimação dos rinocerontes africanos, por que o pó do corno do animal (feito quase que exclusivamente de queratina, a mesma substância das unhas e pelos, portanto ineficaz), é tido como poderoso afrodisíaco.

O pangolin, um mamífero que dá na Ásia e na África é talvez o animal mais contrabandeado do mundo, graças à “medicina” tradicional chinesa. Suas escamas, segundo aquela “medicina” produzem leite materno a lactantes e são um “poderoso remédio” para combater a asma. É bastante provável que o SARS-Cov-2 tenha sua origem na matança e uso de pangolins. Ossos de tigre e mesmo da nossa onça pintada são também matérias primas para curar doenças, como a artrite, por exemplo, segundo a “medicina” tradicional chinesa. O mundo é vítima desta medicina do atraso, legal naquele país, e isto é revoltante.

Mas, relativizemos a manchete da Folha.

Cem mil mortes é muito, mas se comparadas à população mundial (7 bilhões e 500 milhões de habitantes) dá um percentual de 0,0013% (pouco mais de um milésimo por cento!).

Continuemos a relativizar. A peste negra, ou peste bubônica (por sinal originada também na China) matou pelo menos 25% da população europeia. Digo “pelo menos”, porque esta é a mais conservadora informação que encontrei. Outras informações dão conta de que um quarto (33,33%) da população europeia foi dizimada pela peste bubônica nos meados do século XIV.

Dráuzio Varella /1/, citando outras fontes, informa que entre 80 e 100 milhões de mortes ocorreram no mundo, em quatro anos, devido à peste negra. Naquela época, entre os anos de 1347 e 1351, a população do mundo girava em torno de 450 milhões de pessoas. Ficando na mais conservadora informação - 80 milhões de mortes no mundo - em uma população mundial de cerca de 450 milhões, concluímos que cerca de 18% da população mundial pereceu vítima da peste.

Quanta diferença! Um distância abissal vai de 0.0013% (que provoca tamanho alarme na Folha de São Paulo e outros veículos) a 18% de mortes pela peste negra. São (apenas!) 13 846 vezes mais mortes percentuais pela peste negra, comparadas com as mortes devidas ao coronavirus.

Certo, atento leitor, é bom que você diga que a praga do coronavirus começou em janeiro apenas e que a da peste negra durou 04 anos. Mas a época era outra, certo? Hoje temos ciência e tecnologia para identificar (o que foi logo no início feito) e debelar a praga em pouquíssimo tempo. Temos remédios que estão sendo usados, aparentemente com sucesso, e uma vacina não deve demorar para chegar. Compare isso com uma época em que nem se sabia que micro-organismos existiam, nem se sabia que a peste era transmitida pela pulga de ratos, que naquela época infestavam as cidades. Além disso, a letalidade do SARS-Cov-2 é muito pequena, ínfima mesmo, se comparada à da Yersinia pestis, agente etiológico da peste negra. Portanto, ao fim desta nova praga chinesa, que tantas angústias e prejuízos nos traz, o quadro relativizado, descrito acima, não será muito diferente do atual.

Infelizmente, ao invés de passar ao público informações relativizadas como estas que aqui trago, a nossa Grande Imprensa (Rede Globo e Folha de São Paulo à frente) associada ao que de pior se pode esperar de oportunismo político e extrema demagogia (Dória, Wetzel et caterva), cria-se uma histeria social, um quadro de verdadeiro TERROR, para obter dividendos políticos e financeiros, com o retorno das velhas “boquinhas” que foram neste governo fechadas.

REFERENCIA:

1.https://drauziovarella.uol.com.br/drauzio/a-peste-negra-artigo/

POST SCRIPTUM:

Gostaria de anexar a este artigo dois vídeos que são, penso, bastante pertinentes ao que aqui se trata:

1. Um vídeo mostrando o Desembargador Ivan Sartori, ex- presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, pondo a nu a petulância, a arrogância sem limites, quiçá a imensa ignorância do Governador Dória, daquele mesmo Estado:

2. Caio Copolla – que também é formado em Direito - jornalista de inteligência brilhante, tocando o mesmo diapasão do Desembargador Ivan Sartori:

Foto de José J. de Espíndola

José J. de Espíndola

Engenheiro Mecânico pela UFRGS. Mestre em Ciências em Engenharia pela PUC-Rio. Doutor (Ph.D.) pelo Institute of Sound and Vibration Research (ISVR) da Universidade de Southampton, Inglaterra. Doutor Honoris Causa da UFPR. Membro Emérito do Comitê de Dinâmica da ABCM. Detentor do Prêmio Engenharia Mecânica Brasileira da ABCM. Detentor da Medalha de Reconhecimento da UFSC por Ação Pioneira na Construção da Pós-graduação. Detentor da Medalha João David Ferreira Lima, concedida pela Câmara Municipal de Florianópolis. Criador da área de Vibrações e Acústica do Programa de Pós-Graduação em engenharia Mecânica. Idealizador e criador do LVA, Laboratório de Vibrações e Acústica da UFSC. Professor Titular da UFSC, Departamento de Engenharia Mecânica, aposentado.

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