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Como a ‘desinformação’ segue sendo uma eficaz arma da esquerda no contexto da pandemia do coronavírus

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O que estamos hoje testemunhando ao assistirmos a “guerra de narrativas” sobre temas como o surgimento do COVID-19, o isolamento social e o uso da hidroxicloroquina (e sua associação com azitromicina) no combate ao COVID-19 traz a tona uma “arma” desenvolvida de forma eficiente na Rússia pela antiga KGB, a qual foi implementada e ainda hoje é usada, muitas vezes com sucesso, pela esquerda, a saber, a ‘desinformação’.

Com efeito, apesar de seu uso remontar ao início do regime comunista, na então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), somente em 2013 seu uso foi esclarecido e tornado público em uma fascinante obra intitulada “Desinformação. Ex-Chefe de Espionagem Revela Estratégias Secretas Para Solapar a Liberdade, Atacar a Religião e Promover o Terrorismo” (atualmente disponível em português).

Nessa obra, o general Mihai Pacepa, ex-chefe do serviço secreto romeno (DIE), após desertar para os USA (em 1978), relata como o serviço de desinformação foi criado e desenvolvido pelos regimes comunistas, originalmente pela União Soviética, mas posteriormente “exportado”, de tal forma que ele ainda hoje segue sendo usado pela esquerda.

Mesmo no Brasil temos um profuso uso da desinformação, especialmente desde a campanha e eleição de Bolsonaro.

O livro do general Pacepa (com o qual colaborou o Professor Ronald Rychlak) traz inúmeras informações, todas bem detalhadas e documentadas, de tal forma que seria impossível o resumir aqui. Mas a ideia central da desinformação foi, desde o início, solapar a liberdade e atacar a religião (especialmente a Igreja Católica), bem como estimular o terrorismo, acima de tudo contra os USA.

A desinformação ganhou força durante a guerra fria e, hoje, está espraiada por todos os continentes, mesmo em países nos quais vige uma democracia constitucional. A desinformação é amplamente usada por aqueles que odeiam a civilização ocidental, a Igreja Católica e os USA em particular (uma espécie de resquício da guerra fria).

Na verdade, aqueles que odeiam a liberdade (de expressão, econômica, etc) e os demais pilares da civilização ocidental usam da desinformação para tentar fazer colapsar esses pilares. Nesse momento há um abundante uso da desinformação nas relações internacionais e em nossa política nacional.

Com efeito, o primeiro experimento detalhadamente planejado em dezinformatsiya, e desenvolvido pela antiga URSS, foi um ataque ao Papa Pio XII (1876-1958).

Stalin (1878-1953) já havia destruído Igrejas e perseguido católicos, sendo que muitos membros da Igreja Ortodoxa foram cooptados pela extinta KGB (Agência de serviços secretos da URSS), de tal forma que a Igreja já não representava (tampouco representa) uma ameaça no interior da URSS.

Nações bálticas anexadas pela URSS, como Estônia, Letônia e Lituânia, por outro lado, eram fortemente católicas.

Por essa razão Stalin enviou para esses países seu camarada Andrey Vyshinsky (1883-1954), o qual foi incumbido da missão de semear desinformações contra a Igreja, uma vez que ela seria uma força que ameaçava o stalinismo.

Em seguida Stalin estimulou o uso da desinformação para propagar a ideia de que muitos padres apoiaram o movimento nazista.

Como disse o general Pacepa, a desinformação era usada (e ainda o é) para enaltecer criminosos e macular a imagem de homens bons e honestos. Isso foi o que ocorreu com o então Papa Pio XII.

Comandada após a morte de Stalin pelo primeiro secretário do partido Comunista da União Soviética, Nikita Khrushchev (1894-1971), a desinformação visava criar a ideia de que o Papa Pio XII era o “Papa de Hitler”.

No entanto, tal tentativa inicialmente fracassou por uma razão simples: como Pio XII ainda era vivo, bem como ele era conhecido pela sua santidade e bondade, simplesmente ninguém acreditou na ideia de um “Papa de Hitler”. Para quem viveu à época de Pio XII essa era uma ideia ridícula.

Havia inúmeros relatos para comprovar que Pio XII ajudou a salvar incontáveis judeus da perseguição nazista. Há relatos de mulheres judias que afirmavam terem dado à luz na cama de Pio XII, dada sua generosidade (ele escondeu inúmeros judeus no Vaticano).

Não obstante, a desinformação e seus articuladores são pacientes e incansáveis.

Dessa forma, após a morte de Pio XII a URSS seguiu diligentemente seu plano de macular a imagem de um homem inocente e bom (dir-se-ia santo).

Por essa razão ainda vemos muitos associarem um homem que lutou bravamente contra o nazismo, salvando inúmeros judeus por toda a Europa, a Hitler. Stalin havia destruído inúmeras Igrejas. Khrushchev foi além, pois intentava destruir moralmente a Igreja. Não apenas isso, ele desejava criar uma cisão entre judeus e católicos. Afinal, a esquerda, assim como o demônio, busca causar divisão: judeus contra católicos, brancos contra negros, mulheres contra homens, etc.

Mas o fato é que a Igreja era uma barreira para o avanço do comunismo (assim como foi uma barreira para o avanço do nazismo).

O então presidente dos USA, Harry Truman (1884-1972), por exemplo, via a Igreja como a maior “arma” contra o comunismo, uma vez que a Igreja via o comunismo (tal como via o nazismo) como uma “filosofia maligna” (razão pela qual eram excomungados aqueles que se associavam ao partido comunista).

Para Khrushchev era necessário, pois, neutralizá-la. Dessa forma, foi apenas anos após a morte de Pio XII que os planos de Khrushchev começaram a lograr sucesso, especialmente em 1963 com uma peça intitulada “The Deputy”, de autoria do escritor Rolf Hochhuth, na qual é insinuada a condescendência de Pio XII em relação ao nazismo e à perseguição e extermínio de judeus.

Em virtude dessa obra a desinformação foi plantada e se espraiou pelo mundo, de tal forma que ainda hoje muitos creem nela.

Além dessa estratégia de macular a imagem moral de Pio XII e da Igreja mesma, a KGB elaborou, em 1968, um movimento pseudoteológico para a América latina chamado “teologia da libertação”.

A ideia era se infiltrar na Igreja para cooptar os membros do clero que não eram simpáticos a ideias socialistas.

Por exemplo, em 1967 membros do clero na Bolívia rejeitaram Che Guevara (1928-1967) e seus seguidores comunistas (em seguida inclusive ajudaram para que ocorresse sua captura). Dado esse fracasso, em seguida veio, desde a URSS, a ideia de se infiltrar de forma mais sutil na Igreja da América latina. Com o propósito de subverter a Igreja, veio, então, a teologia da libertação sob uma ideia aparentemente “nobre”: seguir o modelo de Jesus e trazer a justiça social para a terra.

Embora tenha havido resistência à teologia da libertação, ela começou a ser efetiva “desde cima”, isto é, desde a mídia, artistas e acadêmicos de esquerda. Era “chique” ser simpático à teologia da libertação, a qual prosperou nos anos 70 e 80 do séc. XX, tornando-se uma postura política, não religiosa. Por essa razão, quando questionada sobre a teologia da libertação, Madre Teresa de Calcutá (1910-1997) respondeu: “Antes de corrigirmos os problemas sociais e políticos das pessoas devemos, primeiro, encontrar a Deus”.

Mas não apenas a Igreja sempre foi uma ameaça ao comunismo. Os USA também representavam um inimigo a ser neutralizado. Assim, em uma operação denominada “operação dragão”, foi desenvolvida uma campanha de desinformação para fazer com que a agência de inteligência estadunidense, CIA, fosse considerada, pela opinião pública, responsável pela morte de John Kennedy (1917-1963).

Imediatamente ao seu assassinato, ainda em 1963, o livro ‘Oswald: Assassin or Fall Guy’ propunha essa bizarra tese.

O livro foi escrito por Joachim Joesten, um alemão pertencente ao partido comunista, sendo publicado pelo italiano comunista Carlo Aldo Morgani. Detalhe: ambos eram agentes ligados à KGB (expostos nos arquivos Mitrokhin). E a primeira resenha do livro foi escrita pelo traidor estadunidense (um agente a serviço da URSS – ligado à KGB) Victor Perlo. A ‘operação dragão’ atingiu seu auge com o filme do diretor e ativista de extrema esquerda, Oliver Stone, em 1991 (‘JFK. A pergunta que não quer calar’).

Macular a imagem da Igreja (e dos valores morais cristãos) e dos USA (e do liberalismo que ele representa) desde o início era o propósito da desinformação, o qual foi, em certa medida, eficiente, uma vez que muitos ainda hoje creem nessas desinformações. Como disse Yuri Andropov (1914-1984), a desinformação, uma vez lançada, ganha vida própria.

Após a publicação do livro do general Pacepa foi também publicado “Nothing is true and everything is possible” (2014), de Peter Pomerantsev, no qual o autor expõe a desinformação usada como estratégica (geo) política pelo Kremlin.

Como demonstrado por Pomerantsev, tais campanhas de desinformação são usadas há décadas pela Rússia com vistas a desestabilizar a confiança nas instituições ocidentais.

Por exemplo, recentemente o Departamento de Estado estadunidense revelou que a Rússia estava usando as redes sociais em uma massiva tentativa de criar falsas informações sobre o COVID-19, inclusive sugerindo que ele teria sido criado em laboratório pelos USA (ou seja, que a pandemia seria um plano dos USA).

Tal estratégia se assemelha a outra usada pelo Kremlin nos anos 80, a saber, a de disseminar a desinformação segundo a qual o vírus da AIDS era uma arma desenvolvida pelos militares estadunidenses para exterminar cidadãos negros.

E tal desinformação não foi inócua, pois muitos a levaram a sério, o que inclusive causou problemas diplomáticos entre os USA e a África. Em 1992 a Rússia admitiu que criou essa desinformação.

Como vimos, a desinformação é parte da estratégia da esquerda. E ela vem sendo usada nesse momento, mesmo aqui no Brasil. Temos universidades, grande mídia, meio artístico, judiciário e políticos espraiando diversas desinformações a respeito da atual pandemia com um propósito bem estabelecido: desestabilizar o governo Bolsonaro.

Recentemente, por exemplo, pudemos ler duas notícias em dois jornais de abrangência nacional, as quais revelam a estratégia da esquerda para desestabilizar, desde a grande mídia, o governo federal.

Num lemos o seguinte: “Em cerimônia da posse de Teich, convidados ignoram máscaras, se abraçam e ficam próximos uns dos outros”.

No outro, lemos: “Em despedida privada com auxiliares, Mandetta fala em ingratidão e risco de colapso na saúde”.

O detalhe é que o vídeo da despedida do Mandetta vazou e o vemos com seus auxiliares, confraternizando acaloradamente em um ambiente fechado sem qualquer preocupação com o COVID-19. Mas o importante, para a grande mídia (dominada pela esquerda), é desqualificar o novo ministro, sugerindo que ele já na posse estaria agindo de forma irresponsável.

Dessa forma, a desinformação segue sendo uma arma eficiente da esquerda para fazer colapsar instituições, valores e governos.

Não apenas isso, ela é frequentemente usada para o “assassinato de reputações”. Por essa razão todo aquele que se posicionar favoravelmente ao atual governo será objeto de ataques. Sua vida será investigada e os fatos atinentes a sua vida serão distorcidos para que ele seja desqualificado.

Vozes contrárias à “intervenção horizontal” que surgem em defesa de uma “intervenção vertical”, por exemplo, bem como aqueles que insistem na eficiência da hidroxicloroquina no combate ao COVID-19, são diuturnamente ridicularizados pela esquerda, confortavelmente acomodada em nossas universidades, grande mídia, meio artístico, político e, mesmo, judiciário.

Ainda que abundem fatos e bons argumentos para embasar as afirmações de Bolsonaro, a esquerda insiste na desinformação. Mesmo que custe vidas, como ocorreu em pesquisa recente realizada no Amazonas cujo propósito era desqualificar a hidroxicloroquina e um de seus defensores, Bolsonaro. Não apenas usaram uma versão mais tóxica do medicamento, mas aplicaram 4 vezes a dose recomendada.

O resultado até agora foi 11 óbitos. Rapidamente tanto a FIOCRUZ quanto Universidade do Estado do Amazonas saíram (como era esperado) em defesa dos “pesquisadores”. Detalhe: os perfis dos ditos “pesquisadores” passaram a circular pelas redes sociais, de tal forma que podemos constatar que todos são ativistas de partidos de esquerda (sobretudo do PT); e, não poderia faltar, publicam muitas postagens anti-Bolsonaro.

Mas a ideia era clara: engendrar a desinformação segundo a qual a hidroxicloroquina é letal. Para a esquerda não importam fatos e boas razões. Importa sua causa. E nesse momento, no Brasil, sua causa é a “destruição do governo Bolsonaro”.

Carlos Adriano Ferraz. Graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), Mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), doutor em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), com estágio doutoral na State University of New York (SUNY). Foi Professor Visitante na Universidade Harvard (2010). Atualmente é professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) na graduação e no Programa de Pós-Graduação em Filosofia, no qual orienta dissertações e teses com foco em ética, filosofia política e filosofia do direito. Também é membro do movimento Docentes pela Liberdade (DPL), sendo atualmente Diretor do DPL/RS.

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