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Muito além dos sapos

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“Nunca se deixem convencer de que o Brasil deu errado. Não caiam nessa armadilha.” (Carta aos amigos do Brasil, Valter Hugo Mãe).

O poema de Manuel Bandeira (1886-1968), “Os Sapos” é excepcional. Foi declamado na segunda noite da Semana de Arte Moderna de 1922. Sua intenção era criticar os poetas parnasianos que somente aceitavam a poesia rimada, formal, como os sonetos.

O poema também pode ser aplicado, nos dias de hoje, ao comportamento e discurso da esquerda letrada brasileira que dominou o cenário cultural e político durante todos esses anos e se acha dona da verdade e do Brasil, incluindo aí Ministros do Supremo, Políticos do Senado e da Câmara, Jornalistas, Artistas, Ativistas e Blogueiros.

“Enfunando os papos,/Saem da penumbra,/Aos pulos, os sapos./A luz os deslumbra./Em ronco que aterra,/Berra o sapo-boi:/- "Meu pai foi à guerra!"/- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".

Com suas capas negras e rodadas, cheios de pompa, luxo e cerimonia, os Ministros do STF, saem das sombras, como os “Sapos-Bois”.

Surgem acompanhados por um séquito de 2.450 funcionários, entre estagiários e terceirizados. Sim, senhores, dá uma média de 222 funcionários para cada um dos 11 ministros! Gastam por ano mais de MEIO BILHÃO de reais! Carregam debaixo do braço um livro que chamam de Constituição que lhes dá Superpoderes. São Constituições particulares, pois as interpretam de maneiras diferentes.

São Super-Heróis ao contrário. Têm medo do povo. O povo os abomina. Eles são vistos como especialistas em usar a lei para impedir que se faça Justiça. A vaidade é o seu forte. Sua palavra é lei. Quem os julga? Ninguém! São Deuses! Nunca estão errados.

Mesmo assim, assustado, o Senador Kajuru quer saber como se gasta R$ 1,5 milhão para auxílio-moradia dos 11 ministros.

Agregado a isso, somam-se R$ 12 milhões com auxílio-alimentação, cerca de R$ 90 mil por mês.

“Eu gostaria de saber qual é a comida lá. São R$ 12 milhões para 11 ministros? Isso é um desrespeito a uma nação com quase 15 milhões de desempregados e mais de 200 empresas falidas — disse o parlamentar.”

Alheios a isso os “Deuses-Heróis” brasileiros levam à boca a comidinha que o senador Kajuru ainda não descobriu e que foi publicada na licitação do STF: lagosta, camarão, bacalhau à Gomes de Sá, arroz de pato, pato assado, galinha d’Angola, vitela, codornas, carré de cordeiro, filé, tournedos de filé; dois tipos de espumantes (brut e extra brut), “que tenham ganhado ao menos quatro premiações internacionais”. Vinhos: Tannat, Assemblage, Cabernet Sauvignon, Merlot, Chardonnay e Sauvignon Blanc e também com quatro premiações internacionais”.

E discutem, discutem muito sobre quem tem razão:

/- "Meu pai foi à guerra!"/- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".
“O sapo-tanoeiro,/ Parnasiano aguado,/ Diz:-"Meu cancioneiro/ É bem martelado./ Vede como primo/ Em comer os hiatos!/ Que arte! E nunca rimo / Os termos cognatos. /O meu verso é bom/Frumento sem joio./ Faço rimas com/ Consoantes de apoio. / Vai por cinquenta anos/ Que lhes dei a norma:/ Reduzi sem danos/ A fôrmas a forma.”

Das sombras os “Sapos-Tanoeiros-Deputados”, de família extensa, são eles, os “Defensores do Povo” e da moralidade e entoam seu canto a si mesmos: “Segundo a ONG Contas Abertas, Senado e Câmara com base no orçamento de 2018, juntas, as duas Casas legislativas custam R$ 28 milhões por dia.

Além do salário de R$ 33,7 mil, os deputados recebem auxílio-moradia no valor de R$ 4,2 mil mensais e Cota para o Exercício da Atividade Parlamentar, que varia de R$ 30,7 mil a R$ 45,6 mil, dependendo do Estado do deputado.

Para os senadores, essa cota vai de R$ 21 mil a R$ 44,2 mil por mês. Conhecido como "cotão", o benefício serve para pagar, por exemplo, gastos com telefonia, correios, hospedagem, alimentação e passagem aérea. "Temos R$ 1,1 bilhão por ano só em estrutura ligada ao deputado, o que inclui recursos para contratar até 25 assessores próprios. No caso de senador, não há limite para o número de assessores”. Os Sapos-Tanoeiros são os ilusionistas da nação.

Clame a saparia/Em críticas céticas:/Não há mais poesia,/Mas há artes poéticas..."/ Urra o sapo-boi:/- "Meu pai foi rei!"- "Foi!"/- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".

Então um canto assombroso enche a noite: é a A “Saparia”-Imprensa, que em grandes manchetes, entoa:

“Jair não tem condições de governar”; “Jair entrou na farmácia”; “Jair cheirou a mão”. “Jair é fascista”; “Jair é misógino”.

Outros “Sapos-Bois”, em suas colunas, e em uma gritaria ainda maior, enfunam os papos e atacam o povo que votou em Jair Bolsonaro.

São estas as palavras do colunista Ranier Bragon da Folha de São Paulo:

“gente que exala ódio, ignorância, racismo, misoginia, homofobia, xenofobia, autoritarismo e um sem-fim de ignomínias....pilantras os mais variados, que não pensariam duas vezes em embolsar o troco a mais no caixa de supermercado, passaram a propagar a sua arenga anticorrupção”.

A “Saparia-Imprensa”, está agitada. Perdeu mordomias.

Brada em um assomo/ O sapo-tanoeiro:/- A grande arte é como/Lavor de joalheiro./ Ou bem de estatuário./Tudo quanto é belo,/Tudo quanto é vário,/Canta no martelo./Outros, sapos-pipas/ (Um mal em si cabe), /Falam pelas tripas, /- "Sei!" - "Não sabe!" - "Sabe!".

E lá vem mais um primo em primeiro grau da família dos “Sapos Tanoeiros” , Chico Buarque e vários deles, “cantando no martelo” e mais de 400 artistas, intelectuais e juristas, dentre eles, o teólogo Leonardo Boff, o líder do MST João Pedro Stédile, o ex-ministro da Justiça Eugênio Aragão (subprocurador da República) e o escritor Fernando Morais, são os mesmos que lançaram um manifesto intitulado “Por que Lula?” em 2017, em que pediam a candidatura de Lula à Presidência.

Segundo o documento, a candidatura antecipada de Lula serviria para “garantir ao povo brasileiro a dignidade, o orgulho e a autonomia que perderam”.

Diz Rodrigo Constantino, em artigo na Revista Isto é:

“É preciso ser um ‘intelectual’ para defender certas coisas: Lula, por exemplo”. E continua ele, “é preciso ser uma “pensadora” como Márcia Tílburi para defender a “lógica do assalto” e só mesmo uma filósofa como Marilena Chauí para achar que “o mundo se ilumina quando Lula abre a boca”.

Varrendo o chão por onde passam esses “çábios esquerdistas”, aparecem os “Sapos-Pipas”, blogueiros/ativistas que não cabem em si, todos os dias, a proferir obviedades na rede e a repetir a cantilena que não para nunca: “,/- "Sei!" - "Não sabe!" - "Sabe!".

“Longe dessa grita,/ Lá onde mais densa/ A noite infinita/ Veste a sombra imensa; /Lá, fugido ao mundo,/ Sem glória, sem fé/ No perau profundo/ E solitário, é / Que soluças tu,/ Transido de frio,/ Sapo-cururu/ Da beira do rio...”

Sim, senhores, o povo é o “Sapo Cururu”, foi roubado e tinha 13 milhões de desempregados E ERA BOM! Vivia no “Perau profundo transido de frio” e aí revoltou-se. Sim, o povo do Brasil, depois que votou em Jair ficou violento, corrupto, ineficiente, desigual, racista, preconceituoso, religioso, atrasado, sujo, escravista, aproveitador, oportunista e pernicioso. São essas suas qualidades, segundo os “intelectuais”, militantes comunistas e “coletivos” que perderam as regalias.

O país está um caos, dizem eles. A frase que abre esse texto diz: “Nunca se deixem convencer de que o Brasil deu errado. Não caiam nessa armadilha”, é de Valter Hugo Mãe, escritor português. Manuel Bandeira é brasileiro, mas também poeta. Seu texto brilhante atravessou gerações e chegou até nós. Os dois autores pedem reflexões e são um alento para todos aqueles que votaram e mudaram o país.

Sim, sinta-se orgulhoso disso, volte ao texto e veja o desfile de covardes mentirosos e administradores incompetentes que você venceu com seu voto. O Sapo-Cururu revoltou-se, não quer mais viver no “Perau profundo”. Sinta-se orgulhoso disso!

Carlos Sampaio. Professor. Pós-graduação em Língua Portuguesa com Ênfase em Produção Textual. Universidade Federal do Amazonas (UFAM)

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