
Lavar as mãos ou lavar os pés? Só venceremos essa pandemia com amor ao próximo
10/05/2020 às 14:36 Ler na área do assinante
Foto ilustrativa
O ano de 2020 iniciou com prenúncios de uma crise mundial.
As primeiras pistas surgiram na China, quando o nosso presidente atendeu ao apelo de brasileiros que lá moravam e os trouxe de volta para o Brasil.
Esse alerta, porém, não impediu o carnaval.
E, no dia 26 de fevereiro, um dia após o fim do carnaval, foi declarado o início da pandemia no Brasil.
Estávamos diante de uma crise mundial.
O Brasil aderiu o modelo de isolamento horizontal.
Autoridades de saúde recomendaram o fechamento imediato de escolas, igrejas e empresas.
Fomos orientados de que os idosos e pessoas de grupo de risco, eram os alvos do coronavírus e, deveriam ser isoladas e impedidas da convivência com seus filhos e netos.
Recomendações exaustivas para lavar as mãos, usar álcool em gel e por máscaras de proteção na boca e estaríamos seguros.
Sob o impacto do novo coronavírus, as notícias diárias viraram obsessão e houve até quem viu nesse fato a oportunidade para conviver mais de perto com os familiares mais próximos, ler livros, arrumar armários, fazer faxina na casa... para os que tem essas coisas, é claro.
No conforto do meu lar, me dei conta de que essa doença era de grife, de rico talvez.
Me incomodava ver artistas sorridentes na televisão recitando o slogan: “Fique em casa!”.
Sempre me remetia aos sem teto, aos sem eira e nem beira... doença egoísta.
No futuro te conto como muita gente confundiu isolamento social com abandono afetivo.
A doença também pôs a prova os nossos políticos.
Oportunidade única de fazer valer na prática, os nossos tão proclamados direitos humanos, garantidos pela Constituição, em especial o art. 5º que diz que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza... a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança.
Não demorou e, assistimos em casa, de camarote, a crise da saúde ganhar uma conotação política, pois, a oposição, que já buscava antes, uma forma de derrubar o presidente (com vários pedidos de impeachment protocolados), ganhou reforço de parte das mídias, e até de políticos dos poderes legislativo e membros do judiciário.
Vimos exacerbar essa crise política de forma inconcebível, em um momento em que a população mais necessita de proteção e segurança.
O povo passou a temer mais os políticos do que o coronavírus, pois, muitos deles, desrespeitaram o povo e violaram a constituição, ao declarar guerra contra o presidente, acusando-o de insensível, irresponsável e genocida, dando como motivo, o fato dele não ser favorável ao isolamento horizontal e pedir a mudança para isolamento vertical.
Mas, o mais incrível é que nem precisa de motivo. A oposição não engole o Bolsonaro, presidente subestimado, povo desrespeitado.
Afinal foi eleito democraticamente.
A realidade é bem cruel, pois, além do medo da morte, além de contabilizar seus mortos, ensacados em “sacos reforçados” e descartados sem velório e sem dignidade, o povo tem que furar a quarentena, para ir para as ruas, como o fazem nesse sábado, de 09 de maio, porque a insegurança financeira, o desemprego, a fome e o temor de “virar uma Venezuela” passou a ser mais urgente do que o medo do covid 19.
Mais do que não morrer, o povo quer dignidade para viver!
Um motivo para viver.
Lamentavelmente, governadores e prefeitos também violaram os direitos humanos: pessoas agredidas e presas por andar nas ruas, nas praias e praças; empresário estrangulado até desmaiar, por suspeita de estar trabalhando; prefeito manda soldar portas de lojas de comércio, são alguns exemplos.
O presidente Jair Bolsonaro e seus ministros foram, no dia (07) ao Supremo Tribunal Federal (STF) para falar sobre a economia do país e a importância da abertura do comércio para evitar o colapso. Sem sucesso.
Centenas de empresas quebradas e milhões de desempregados parece não contar.
Afinal, “a vida é mais importante do que a economia”.
Mortes por depressão, desemprego, fome, parece não ter a menor importância.
Quem vai acusá-los de genocidas?
Perdoem-me, mas, se vossas excelências estão mesmo preocupados com nossas vidas, devem parar de "lavar as mãos", na tentativa de isentar-se das responsabilidades e culpar o governo por tudo.
Bode expiatório da oposição?
Se para a medicina, lavar as mãos é recomendável, e pode de fato, nos proteger das doenças; na política, "lavar as mãos" significa covardia.
Não dá para continuar a “lavar as mãos” e ignorar os apelos do presidente e da população que está nas ruas há dias, pedindo tão somente para voltar ao trabalho.
Nesse momento, em que a fragilidade da vida fica evidente, devemos tirar uma lição da cerimônia de “lava pés” em que Jesus, na última ceia, tomou a atitude de fazer aquilo que só a um escravo cabia, lavou e enxugou os pés de seus discípulos.
Ato de pura humildade, pois, colocou-se na posição de servir e dando o exemplo, pediu que eles lavassem os pés uns dos outros.
Essa parábola cabe muito bem aos servidores públicos.
Não há poderosos. E se há, são aqueles cuja vida é serviço.
Somos iguais perante a lei dos homens e de Deus. Quando o maior cede, quebra a estrutura de poder, entende que o verdadeiro poder está no coletivo. E aí podemos horizontalizar os afetos, estender os laços que nos fazem humanos. Amar uns aos outros. Lavar os pés uns dos outros. Humildade e serviço.
Só venceremos essa pandemia com amor ao próximo, com união e sinergia.
Cabe a todos nós a pergunta: você escolhe lavar as mãos? Ou lavar os pés?
Bernadete Freire Campos
Articulista.