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A raiz da conspiração socialista na história e a ideia de uma “nova ordem mundial”

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“Master of puppets, I'm pulling your strings

Twisting your mind and smashing your dreams Blinded by me, you can't see a thing”

(‘Mestre das marionetes, eu controlo suas cordas Retorcendo sua mente e esmagando seus sonhos Cego por mim, você não vê nada’). Metallica

"O mundo é regido por personagens muito diferentes do que é imaginado por aqueles que não estão nos bastidores." Benjamin Disraeli

Por mais paradoxal que possa parecer, quando analisamos alguns grandes eventos históricos vemos que, diferentemente do que nos é dito, nem sempre capitalismo e socialismo são categorias contraditórias.

Na verdade, talvez os mais significativos experimentos socialistas dos últimos séculos tenham ocorrido em virtude do apoio e fomento das maiores elites financeiras dos tempos modernos. E isso não apenas visando o lucro, mas, também (e, talvez, sobretudo), para um propósito mais sombrio: a instituição de uma ‘Novus Ordo Seclorum’.

Dessa maneira, um bom ponto de partida para essa análise é o livro “Proofs of a Conspiracy” (1797), de John Robison (à época Professor de filosofia natural e secretário da Royal Society de Edimburgo).

O título completo da obra é “Provas de uma Conspiração contra todas as Religiões e Governos da Europa”, a qual estaria ocorrendo especialmente em reuniões de sociedades secretas.

Nessa obra talvez tenhamos a primeira referência a uma figura obscura e ardilosamente influente: o bávaro Adam Weishaupt (1748-1830).

Com efeito, Weishaupt defendia princípios muito semelhantes aos que encontramos no socialismo em geral, bem como alimentava uma hostilidade feroz contra as religiões, especialmente contra o cristianismo. Leitor ávido dos autores iluministas franceses, Weishaupt considerava que a monarquia e a Igreja eram obstáculos ao livre pensamento. Mas isso não significa que ele era materialista.

Na verdade, ele era fascinado por temas esotéricos e fundou (em 1776) sua própria sociedade secreta, a famosa (e obscura) ordem dos Illuminati. Independentemente de seus rituais secretos, hierarquia, práticas, etc, há um fato conhecido sobre a ordem: sua convicção de que era preciso criar uma nova sociedade (‘Novus Ordo Seclorum’), a qual abandonaria todos os vínculos com a religião (especialmente a cristã).

Ao falar de Weishaupt, John Robison nos diz que “essa pessoa foi educada entre os jesuítas; mas a expulsão de sua ordem fez com que ele mudasse suas visões, deixando de ser seu pupilo para se tornar seu mais amargo inimigo” (“Proofs of a Conspiracy”, p. 58).

Assim, Weishaupt abandonou o cristianismo e assumiu outra perspectiva religiosa, a saber, uma perspectiva ocultista baseada em ensinamentos, rituais, práticas, etc, de sociedades secretas, bem como na cabala.

A exemplo de Lúcifer, Weishaupt se colocou como “opositor” diante de Deus e da tradição cristã. Não apenas isso, ele usou inicialmente (juntamente com seus discípulos) o título de “perfeccionista”, posteriormente o alterando para a titulação “iluminado”.

Assim, sua ordem seria uma ordem de “iluminados” aos quais teria sido dada a “missão” de reformar a sociedade e, mesmo, a natureza humana, ambas falhas e carentes de “aperfeiçoamento” (o qual seria realizado pelos “portadores da luz” – os Illuminati). Assim, embora Weishaupt fosse um “adversário” das religiões, disso não se depreende que ele fosse um materialista.

Na verdade, ele estava imerso no ocultismo, algo comum aos proponentes de uma ‘nova ordem mundial’. Justamente por isso o filósofo Johann Georg Heinrich Feder (1740-1821), que passou a fazer parte dos Illuminati em 1782, foi causa de conflitos internos na ordem, especialmente em virtude de ele se opor às visões “religiosas” de Weishaupt. Feder insistia que Weishaupt deveria se livrar de “todas” as religiões (portanto, também do ocultismo).

Mas Weishaupt tinha a seu lado figuras ilustres, como, por exemplo, Goethe (1749-1832) e Mayer Amschel Rothschild (1744-1812), este último o banqueiro fundador do império da talvez mais rica família desde a modernidade: a família Rothschild.

Embora não tenhamos muitas informações a esse respeito, ele teria sido o “patrocinador” de Weishaupt, muito embora alguns sugiram que ele “encomendou” de Weishaupt a criação de uma ordem.

De qualquer forma, aqui teríamos, então, na modernidade (no século XVIII), a primeira aproximação entre a elite econômica e ideias de caráter socialista (em sua obra, o “Pêndulo de Foucault”, Umberto Eco afirma que Weishaupt “seria hoje considerado um comunista”).

Isso porque Weishaupt defendia não apenas a ideia de uma ‘nova ordem mundial’, mas a abolição dos governos nacionais, do patriotismo, da vida familiar, da soberania nacional, da propriedade privada e, não podia faltar, das religiões (especialmente do cristianismo).

Em suma, ele tinha um “ideal” de sociedade, uma ‘utopia’ com elementos muito similares àqueles encontrados, “coincidentemente”, no célebre “Manifesto Comunista” (1848). Ou seja, em verdade uma distopia, a qual pode ser compreendida pela expressão ‘nova ordem mundial’.

De qualquer maneira, a história “oficial” indica que a ordem criada por Weishaupt foi extinta em 1787. Contudo, seus propósitos não acabaram em 1787. Muitos de seus “discípulos” migraram para a França, onde teriam espalhado suas ideias e, assim, contribuído com a revolução francesa (1789-1799).

Essa teoria está presente, por exemplo, no citado livro de John Robison, bem como em “Mémoires pour servir à l’histoire du Jacobinisme” (1797), de Augustin Barruel (ambos escritos, pois, no contexto e no calor dos acontecimentos).

Isso está de acordo com as pretensões do próprio Weishaupt, especialmente quando ele mesmo afirma que sua ordem prefere usar outras organizações à frente de sua missão. Por exemplo, em “Die neuesten Arbeiten des Spartacus and Philo in dem Illuminatemorden (1794) ele afirma que “na ocultação jaz grande parte de nossa força. Portanto, devemos sempre nos esconder sob o nome de outra sociedade”.

Portanto, parece-me verossímil considerar que as ideias assentadas nesse período, e financiadas por personagens como Mayer Amschel Rothschild, devem ter seguido seu curso e influenciado outros eventos (muitas vezes a partir de outras sociedades e ordens).

Afinal, ideias têm consequências. E, dentre os eventos influenciados pelas ideias assentadas por Weishaupt, eu ainda citaria a revolução russa e, mesmo, o nazismo. Por quê? Ora, porque esses eventos preconizaram um dos objetivos centrais de Weishaupt e de seus “patrocinadores”: a criação de uma ‘nova ordem mundial’ na qual haveria o fim das diferentes nacionalidades e das diferentes religiões (sobretudo do cristianismo).

Nessa nova “ordem” haveria o fim de todos aqueles valores assentados pela tradição cristã no ocidente, especialmente da liberdade (de expressão, religiosa, econômica, etc). (Aliás, parece-me digno de observação que, na época do surgimento da ordem dos Illuminati, o ex-jesuita Ignatius Franciscus Franck já acusava a ordem de estar “preparando o caminho para a vinda do anticristo”. Portanto, seu propósito seria mais obscuro do que o que se poderia inicialmente imaginar. Não seria um objetivo apenas político, mas, acima de tudo, “espiritual”).

De qualquer forma, o fato é que os eventos citados acima contribuíram imensamente para a instituição de um “governo” supranacional (liga das nações, organização das nações unidas, por exemplo). Por essa razão esses eventos tiveram os mesmos “patrocinadores”, de tal maneira que a ideia de uma “nova ordem mundial” seguiu (e segue) sendo financiada pela elite financeira mundial, a qual insiste na formação de um “governo global”, de uma “religião única” (e anticristã), no fim dos valores instituídos pela tradição e do nacionalismo, etc.

Mas, poderíamos nos perguntar: qual a razão para o fracasso dos propósitos de Weishaupt no século XVIII, quando ele ainda vivia?

Um fato surpreendente interrompeu os planos de Weishaupt (alguns o atribuíram a uma intervenção divina).

Um frei participante da ordem, Jakob Lanz, servia como correspondente da ordem e, enquanto viajava a cavalo, foi atingido por um raio e morreu (1785).

Quando oficiais de segurança abriram sua mala encontraram diversos documentos comprometedores pertencentes à ordem, alguns que detalhavam planos que seriam executados em uma revolução a ser realizada na França. Dentre os documentos havia uma ordem escrita pelo próprio Weishaupt, endereçada a Maximilien de Robespierre (1758-1794) e o exortando a instigar a revolução na França. Com isso houve uma dura perseguição a ordens secretas, sobretudo à ordem dos Illuminati, que então se dissipou (sem desaparecer). (uma observação relevante: todos os documentos da ordem teriam sido apreendidos pela Gestapo nos anos 30 do século XX).

Dessa forma, embora tenha sofrido um contratempo no século XVIII, o propósito da ordem dos Illuminati permaneceu não apenas vivo, mas influente ao longo dos séculos seguintes. Muitos de seus planos, seguindo a ideia segundo a qual “na ocultação jaz grande parte de nossa força”, estiveram presentes, oculta e ardilosamente, nas revoluções socialistas posteriores, seja mediante sua influência no surgimento de sociedades como a sociedade Fabiana, bem como de ordens ocultistas como a ‘Ordo Templi Orientis’ (da qual fez parte o mais importante e influente satanista dos tempos modernos, Aleister Crowley), seja nos eventos de inspiração socialista seguintes, como a “revolução bolchevique” e, mesmo, o nazismo, ambos subsidiados pela grande elite financeira global, algo demonstrado de forma amplamente documentada em livros como “Wall Street and the Bolshevik Revolution” (1974) e “Wall Street and the rise of Hitler” (1976), ambos de Antony Sutton, e “The Creature from Jekyll Island” (1994), de G. Edward Griffin.

Portanto, a raiz da ideia de uma “nova ordem mundial” está no século XVIII e o que temos, hoje, é uma gigantesca árvore cujos galhos, frutos, etc, se espalharam pelo mundo.

Creio que uma das maneiras de combatermos seu crescimento e a cortarmos seja identificando onde está sua raiz e quais são seus galhos. Não podemos ser ingênuos: pelo menos desde o século XVIII está em desenvolvimento um plano para a criação de uma ‘nova ordem mundial’, o qual teve, felizmente, diversos contratempos. Contudo, ele não foi enfraquecido.

Na verdade, ele está bem presente nesse período de pandemia. Afinal, aqui caberia aquela frase de David Rockefeller, qual seja: “estamos diante da oportunidade para uma transformação global. Tudo o que precisamos é a grande crise certa para as nações não apenas aceitarem a Nova Ordem Mundial, mas implorarem por ela”.

Carlos Adriano Ferraz. Graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), Mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), doutor em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), com estágio doutoral na State University of New York (SUNY). Foi Professor Visitante na Universidade Harvard (2010). Atualmente é professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) na graduação e no Programa de Pós-Graduação em Filosofia, no qual orienta dissertações e teses com foco em ética, filosofia política e filosofia do direito. Também é membro do movimento Docentes pela Liberdade (DPL), sendo atualmente Diretor do DPL/RS.

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