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O vírus Zika e o proselitismo ordinário

Essa embocadura de gestora eficiente e intolerante com o erro não passa para além de encenação mexicana-espaguete

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O governo Dilma é indubitavelmente singular. Não se pode negar. Seja pela deformação do roteiro deixado por seu antecessor, num desastre sem precedentes na administração pública, seja pela coleção de efeitos colaterais produzidos pelo barulho dos seus conselheiros e colaboradores, seja por sua própria incapacidade de ação e reação ante o tsunami de fatos endógenos e exógenos que se imbricam com a sua personagem de PresidentA. É isso mesmo que você leu: uma personagem encarnada por Dilma Vanna Rousseff.

Essa embocadura de gestora eficiente e intolerante com o erro não passa para além de encenação mexicana-espaguete.

A economia brasileira segue ladeira abaixo e o Presidente do Banco Central sai à rua para engrossar a fileira de altos escalões do governo a investigar pneus em porta de borracharia da periferia e pratinhos de plantas de senhorinhas assustadas com tantos homens fardados em seus jardins.

Dilma, antes de sua pré-estreia no comando do que poderia ser a Escolinha do Professor Raimundo, disse aos brasileiros que mandaria um Ministro para cada Estado com a missão de dar o bom exemplo de como se combate o mosquito – ou “mosquita”, como ela prefere – e reforçar a conscientização da população da importância de seu engajamento, no que se poderia chamar de maior exército de sectários ufanistas orgulhosos por matar mosquitos. O comediante, do que chamo mídia-esculacho, José Simão, concluiu que, a chefe-maior do país iria, então, ter de aumentar o número de Estados brasileiros para poder atender a demanda por tantos Ministros e cumprir a promessa. Lógico, nada disso aconteceu. O que se deu de fato foi uma aparição aqui e outra ali com as piores paisagens organizadas pelos cenógrafos oficiais. Foi o caso do Senhor Elder, 30, em Brazlândia, cidade satélite de Brasília. Dono de uma pequena borracharia na cidade, com não mais de 40 metros quadrados e de onde tira o sustento de sua família, disse ter recebido no sábado a visita de alguns homens que pediram a ele pneus velhos que pudessem ser descartados. Eder separou cerca de vinte peças e, a pedido daqueles homens, colocou-os a frente de sua oficina. Segundo ele, não demorou mais do que dez minutos até chegarem ao local um sem-número de pessoas capitaneadas pelo caçador de mosquitos Alexandre Tombini, Presidente do Banco Central do Brasil. Conta Eder: “– O que eles fizeram? Me deram a maior lição de moral”. E prossegue: “Virei motivo de chacota”. “Ontem fui ao banco e me deram um tapinha nas costas: ‘então é você quem está colaborando para a dengue?’”[1]

Eder promete acionar o Estado pelo constrangimento. E os casos não param por aí, relata a Folha On-line na mesma matéria do link abaixo.

Noutro canto do país Dilma tentava animar a plateia formada por alunos da Escola Militar Alfredo Viana na cidade de Juazeiro na Bahia (se tiver paciência assista ao vídeo). Mal contendo o seu próprio nervosismo diante do batalhão de jovens amestrados para bem recepcionarem a presidente, Dilma desandou a falar sobre mosquitos, “mosquitas”, ovos, pupas, microcefalia e outros ‘entreguismos indisfarçáveis’ de quem fala sobre assunto que pouco ou nada domina.

Mas, afinal, qual o simbolismo de tudo isso?

É lógico que não estou desmerecendo a ação governamental em “Dia Nacional de Mobilização da Educação contra o Zika”, mas o que me causa espécie é a forma, não o conteúdo. O assunto é sério sim. E deve ser enfrentado com a seriedade que o caso requer. Aproveitar os fatos para promover um proselitismo ordinário cujo maior objetivo é mudar o foco dos holofotes da Polícia Federal, que varre o governo há mais de ano, retirando-lhe ainda mais credibilidade, mais do que o próprio fracasso das ações governamentais que levam a economia ao ponto de transição entre a recessão e a depressão, é profundamente desconcertante para qualquer sociedade minimamente politizada.

De toda sorte do sábado encerrando a semana, a segunda-feira (22) começa com a 23ª fase da Operação Lava-jato, apelidada de “Acarajé”, trazendo no bojo mais um tanto de mandados de prisão, principalmente, de João Santana e de sua esposa. O marqueteiro de Lula e Dilma, a exemplo de Duda Mendonça no caso do Mensalão, é suspeito de receber dinheiro de origem duvidosa em contas mantidas no exterior. Tudo ainda por ser mais bem explicado, embora o juiz Sérgio Moro não tenha o hábito de decidir fundado em achismos.

Para Dilma, assim como para Temer, a novidade não é boa, pois, injeta nas investigações junto ao Tribunal Superior Eleitoral mais elementos que, talvez, possam, definitivamente, fazer água na chapa que elegeu a Presidente e seu vice culminando na sua cassação.

JM Almeida


[1] http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2016/02/1740912-governo-maquia-visita-de-inspecao-do-aedes-em-brasilia.shtml | acessado às 16h37, 22/02/2016

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JM Almeida

João Maurino de Almeida Filho. Bacharel em Ciências Econômicas e Ciências Jurídicas. 

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