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O ritmo imprudente da implementação do 5G no Brasil

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Na última quarta-feira, 17 de junho, no evento de posse de Fábio Farias ao recém-criado Ministério das Comunicações, foi assinado o Decreto n°10.402 que trata da concessão dos serviços de telecomunicações e exploração das radiofrequências.

No dia anterior, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), publicou o >Ato n° 2.934 que regulamenta os últimos requisitos técnicos e operacionais para a implementação da tecnologia 5G.

É claro que o país não pode ficar aquém das revoluções tecnológicas, mas, pergunto eu, em que intensidade?

No artigo passado, apresentei de modo esquemático cinco ações para se proteger da exposição eletromagnética que a tecnologia 5G tende a amplificar no Brasil.

Devido aos muitos comentários que recebi, publiquei no meu blog Teorítica, um artigo apresentando algumas pesquisas científicas que apontam os efeitos maléficos que a nova tecnologia pode trazer a nossa vida cotidiana. Tais publicações ainda não são consideradas pela extrema-imprensa e nem por alguns setores importantes do Governo.

A Anatel, por exemplo, tem se mostrado muito preocupada com as questões mercadológicas na operação do 5G no Brasil do que com as implicações para a saúde pública.

Escreveu a Anatel em seu web site que “os requisitos foram definidos com base em recomendações internacionais como 3GPP e ECC-CEPT” e que a publicação do Ato 2.934 ocorreu depois de uma consulta pública junto à fabricantes e prestadoras.

Neste contexto chamou-me a atenção dois fatos: a subserviência da agência aos órgãos internacionais (3GPP e ECC-CEPT) e o poder de influência que os fabricantes de equipamentos e prestadoras de serviços possuem sobre a nova legislação. Ao site Olhar Digital o presidente da Ericsson para o Cone Sul americano, Eduardo Ricotta, disse inclusive que o Decreto 10.402 assinado na posse de Fábio Farias não afeta os planos para o leilão das redes 5G no Brasil (programado para o final de 2020), mas cria um ambiente menos hostil as empresas de telecomunicações. Sobre o Leilão da tecnologia 5G disse o presidente da Ericsson: “já não existem mais grandes preocupações burocráticas e regulatórias além do rito da Anatel”.

No mesmo dia 17 de junho a americana Qualcomm anunciou a seu novo sistema Snapdragon que promete levar o 5G aos celulares de baixo preço. Com os leilões das torres 5G praticamente liberadas pelo governo e a presença dos processadores mais potentes em nossos celulares a marcha para o 5G segue freneticamente para a sua eclosão sem qualquer discussão séria no Brasil sobre as implicações na saúde de milhares de pessoas.

Diz o princípio da precaução que: é melhor estar grosseiramente certo em tempo, mesmo tendo em mente as consequências de estar sendo errado, do que estar completamente errado tarde demais. O ponto é, a marcha do progresso tecnológico é frenética devido as avassaladoras transformações, no caso da tecnologia 5G quem está ditando o ritmo do progresso não são os booms tecnológicos, mas mega corporações que têm como interesse de dominar por longos anos o ambiente tecnológico no Brasil.

Para deixar registrado, as maiores empresas que possuem a tecnologia para a implantação do 5G podem ser resumidas em apenas três: Ericsson, Huaweii e Nokia. A chinesa Huaweii tem enfrentado inúmeros problema judiciais de espionagem e monopólio de mercado.

A finlandesa Nokia ainda tem enfrentado uma série de dificuldades técnicas para conseguir emplacar uma tecnologia comercializável. Resta apenas a sueca Ericsson com sua tecnologia chamada MIMO (Multiple-input Multiple-output) para dominar o mercado. A tecnologia 5G deixou e ser uma simples disputa comercial ou tecnológica, agora se transformou numa luta de poder.

Sendo assim, o que fica claro em toda essa discussão é a ausência de espaço de conscientização dos riscos que a tal tecnologia trará aos milhões, quiçá, bilhões de usuários. Estão nas arenas de debates apenas empresas, governos e órgãos supranacionais, legislando sobre bilhões de vidas que passivamente serão empurrados para esse novo mundo digital. Ao meu ver, tudo isso não é o progresso da sociedade em sua forma mais honesta, mas uma destrutiva marcha de imprudências.

Foto de Daniel Souza Júnior

Daniel Souza Júnior

Editor do site Original Net News. Mestrando em Administração.

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