Por que a esquerda mundial não se pronuncia sobre a opressão da China contra Hong Kong?

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O silêncio da esquerda mundial sobre toda a opressão agressiva e despótica que o governo totalitário da China continental está promovendo contra Hong Kong é simplesmente maléfico. Mas isso diz tudo o que precisamos saber sobre a esquerda política. A esquerda como sempre é parcial e seletiva e podemos comprovar isso mais uma vez. Nada de novo debaixo do sol.

A agressão institucionalizada do Partido Comunista Chinês contra Hong Kong começou há mais de um ano, e foi ficando gradualmente pior. No ano passado, o governo totalitário de Pequim tentou aprovar uma lei — intitulada Lei da Segurança Nacional — que buscava facilitar a deportação de chineses procurados pelas autoridades centrais.

Muitas vezes, quando crimes são cometidos na China continental, bandidos e contraventores procuram se refugiar em Hong Kong porque lá o sistema jurídico independente lhes propicia um tratamento legal mais ético, imparcial e justo.

O objetivo dessa lei era facilitar a extradição de pessoas da ilha para a China continental. Os habitantes de Hong Kong, no entanto, viram isso como um ataque direto às suas liberdades; de fato, a medida na prática tem a pretensão de expandir a capacidade de atuação das autoridades centrais de Pequim sobre a jurisdição de Hong Kong, para usufruirem de poderes plenipotenciários com o objetivo de expurgar ativistas políticos, executá-los e condená-los arbitrariamente, para reforçar o totalitarismo político do governo central, que é ameaçado pela liberdade existente em Hong Kong.

Onde existe liberdade e tirania, não há dúvida nenhuma de que as pessoas terão preferência pela liberdade, e farão de tudo para buscá-la. Na época da tirania comunista de Mao Tsé-tung, com muita frequência chineses fugiam da China continental para se refugiar em Hong Kong, porque — sendo então uma colônia britânica — eles sabiam que lá poderiam dormir tranquilos e em paz, sem se preocupar com agentes do partido ou a polícia política indo perturbá-los para tirá-los arbitrariamente de suas casas durante a madrugada, sob a acusação de serem contrarrevolucionários subversivos.

Com a tal Lei da Segurança Nacional, o despótico governo de Pequim pretende na verdade extraditar cidadãos sob qualquer pretexto, com a finalidade de eliminar opositores políticos. O objetivo das autoridades do Partido Comunista Chinês é dominar Hong Kong completamente, para que as pessoas não mais vejam a ilha como um refúgio de segurança e liberdade, uma alternativa à tirania continental.

Essa lei deflagrou uma série de protestos que começaram no ano passado, e culminaram na mais violenta repressão policial na ilha em décadas.

Vários manifestantes passaram a exigir também a renúncia de Carrie Lam — a chefe do executivo da ilha —, sob a justificativa de que ela não estava agindo de acordo com os interesses dos habitantes de Hong Kong, mas antes estava sendo ostensivamente subserviente aos interesses tirânicos do governo de Pequim, que busca adquirir poderes plenipotenciários sobre a ilha.

O despotismo do governo chinês, é claro, foi aumentando, apesar de violar de forma aberta o tratado oficial efetuado com o governo britânico quando este devolveu Hong Kong aos chineses, em 1997. O acordo exigia que os chineses respeitassem a soberania de Hong Kong por um período mínimo de 50 anos.

Ou seja, os chineses não poderiam executar qualquer intervencionismo político na ilha antes de 2047. Mas é claro que os comunistas depravados do continente — indivíduos despóticos e totalitários por natureza — jamais respeitariam qualquer acordo.

Gradualmente, o totalitarismo do governo continental ficou cada vez mais truculento, beligerante, autoritário e incisivo. Recentemente, os dirigentes do Partido Comunista Chinês exigiram que livros sobre democracia fossem retirados das livrarias de Hong Kong.

Desde o ano passado, o despótico governo totalitário da China continental tenta dominar de forma cada vez mais incisiva a ilha — que, por ter um sistema econômico diferenciado, totalmente voltado ao capitalismo de livre mercado —, também conquistou a posição de região mais economicamente livre do mundo (embora este ano tenha caído para segundo lugar, ficando atrás de Singapura).

Quem acompanha o que se passa por lá pôde constatar que o nível de violência e agressão que o PCC está empregando de forma gradual, porém persistente, contra a antiga colônia britânica fica mais brutal, cruel e arbitrário a cada dia.

Evidentemente, a esquerda de lugar nenhum do mundo se manifestou contra isso. Hipocrisia é a marca registrada da esquerda política.

Militantes são a favor da democracia na teoria, mas sabemos que na prática a esquerda gosta mesmo é de uma ditadura socialista. Sempre no lombo dos outros, é claro. Eles nunca desejam a chicotada estatal castigando eles próprios.

Na verdade, a esquerda nunca foi contra ditaduras, apenas contra ditaduras que mataram pouco e que não foram de orientação política marxista-leninista.

Outra contradição da esquerda está no fato de que ela afirma sempre se posicionar a favor dos fracos e dos oprimidos, mas na prática está sempre ao lado de corporativistas poderosos e políticos onipotentes. Isso não nos surpreende.

A indignação da esquerda é sempre seletiva e busca beneficiar apenas grupos específicos, na mesma proporção que se opõe com furiosa veemência contra o cidadão comum, especialmente se o cidadão em questão ousar reclamar o seu direito inalienável de exercer virtudes como soberania individual, autonomia, liberdade e independência, elementos indispensáveis a vida de qualquer ser humano.

Essas são virtudes inalienáveis que todas as pessoas que participam ativamente dos protestos em Hong Kong lutam ativamente para manter, porque sabem perfeitamente que elas irão desaparecer, conforme o governo totalitário chinês avança sobre a ilha.

Sabemos que todas essas virtudes são coisas que os socialistas — coletivistas estadólatras totalitários por natureza — simplesmente detestam. Eles odeiam ver pessoas felizes, de sucesso, no pleno controle de sua própria vida. O que esquerdistas mais desprezam são pessoas livres e independentes que não precisam do governo para nada. Isso acontece porque a esquerda é a ideologia da inveja.

Também é interessante enfatizar que o governo totalitário de Pequim há anos ameaça Taiwan — que é de fato um país soberano e independente — em uma tentativa desesperada de exercer controle político sobre a ilha. Há muito tempo o déspota Xi Jinping afirma que, se necessário, ordenará uma invasão militar a ilha.

Por ser de fato uma nação independente — que só possui vínculos com a China continental na imaginação fértil dos tecnocratas depravados do PCC —, o domínio de Taiwan pela China continental será muito mais complicado para os gestores do governo totalitário da China socialista.

Se optar por uma invasão militar, ficará escancarado para o mundo que o governo da China é uma beligerante e maléfica depravação despótica, que pretende dominar de forma agressiva tudo aquilo que, por alguma razão, considera seu por direito.

Assim como a opressão da China contra Hong Kong, a esquerda mundial jamais se pronunciou à respeito da opressão da China contra Taiwan. Em ambos os casos, o silêncio da esquerda diz tudo o que precisamos saber sobre ela.

A esquerda é totalmente a favor de ditaduras, especialmente ditaduras socialistas marxista-leninistas. A "democracia" que a esquerda política afirma defender é uma democracia revolucionária que não tem relação nenhuma com a democracia liberal defendida por conservadores.

Infelizmente, conforme governos totalitários avançam sobre regiões autônomas e nações livres e independentes, percebemos que a liberdade não apenas está sendo ostensivamente ameaçada, como pode possivelmente desaparecer. Isso é simplesmente trágico.

A vitória do totalitarismo é uma grave ameaça ao mundo livre. Evidentemente, torcemos pela resistência de Hong Kong, mas conhecendo plenamente o potencial militar da China continental e a agressiva fúria política dos dirigentes do Partido Comunista Chinês, fica difícil ser otimista. Uma vitória da liberdade, nesse cenário, parece ser altamente improvável.

Wagner Hertzog

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