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O fim do rentismo e dos investimentos especulativos

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Quando fui fazer meu MBA em Direito da Economia e da Empresa na Fundação Getúlio Vargas no Rio, em 1996 aprendi muito sobre o mundo dos negócios.

Formávamos a primeira turma dessa especialidade.

E, na ocasião, o processo seletivo era muito rigoroso e tivemos um excepcional corpo de docentes.

Nunca me esqueci do que nos disse na aula inaugural para uma plateia de 16 alunos, o Professor Carlos Ivan Simonsen Leal :

“- No direito e na economia, assim como na vida, os cenários mudam! E as vezes, como nas tempestades, mudam rapidamente. O objetivo da FGV é preparar cada um de vocês para cada um desses cenários”.

No curso desse tempo assisti muitas mudanças de cenários.

Mas nenhuma que cause tanto impacto como a que está ocorrendo nos bastidores do mundo financeiro nestes últimos meses.

Refiro-me à notícia divulgada pelo Banco Central, dando contas que “Investidores sacaram US$ 31,2 bilhões de aplicações financeiras no Brasil no primeiro semestre de 2020”, “a maior saída de recursos de aplicações financeiras desde o início da sua série histórica, em 1995, ou seja, em 26 anos”.

Dentro destes valores retirados estão aplicações em ações, fundos de investimentos e títulos da dívida pública.

Ainda segundo a mesma fonte, no acumulado de 12 meses, a retirada somou US$ 47,9 bilhões.

Possivelmente esse volume de retiradas tenha fortes vínculos com as inseguranças advindas com a Pandemia do COVID-19 e os riscos que investidores experientes visualizam nas economias dos países emergentes para aplicar em títulos de países desenvolvidos. Mas, sem dúvidas, uma dos fatores que modificou o comportamento do investidor (seja ele grande ou pequeno) é a baixa taxa de remuneração do capital investido de forma especulativa em razão da acentuada queda da Taxa Selic, a mais baixa da nossa história.

Quem tem recursos para aplicar vai ter que se preparar fortemente para começar a correr riscos.

Então, a princípio, surgem três caminhos clássicos: quem não sabe, vai ter que aprender a lidar com a volatilidade da Bolsa de Valores aplicando em atividade produtiva via da compra direta de ações ou participando de fundos específicos (ou pagar alguém para fazer isso); participando de um negócio ou se associando a uma atividade que tenha acesso a rentabilidade, diversificação e conhecimento, investindo diretamente em projetos da economia real (como empreendedor, sócio, ou através de operações específicas tais como “private equity”, “invest angel” ou muitas outras; comprando ou construindo imóveis para rentabilização, já que temos déficit de oferta em vários setores (moradia, plantas industriais, CDs, comércio e serviços) em várias regiões do Brasil.

Esse novo cenário está revelando uma rápida mudança de comportamentos dos investidores de todos os tamanhos para aplicar as suas reservas.

Existem milhares de bons projetos (pequenos, médios e grandes) no Brasil inteiro precisando de capital para saírem das gavetas para se transformarem em bons, lucrativos e sólidos negócios.

Os investidores atentos, devem ficar antenados a essa nova realidade. E quem tem um bom projeto, tem a oportunidade de apresentá-lo ao mercado, vestindo-o e embalando-o adequadamente para ser muito atraente.

Quais os primeiros passos?

Cumprir os fundamentos!

Ter em mãos uma boa análise mercadológica, um excelente estudo de viabilidade econômica e um detalhado plano de negócios são sempre indispensáveis para quem quer crescer, ser rentável e se manter sólido.

Já estamos vivendo o fim dos tempos dos ganhos fáceis.

É a brisa do liberalismo econômico soprando no Brasil inteiro.

Tempo de ajustar as velas.

Foto de Luiz Carlos Nemetz

Luiz Carlos Nemetz

Advogado membro do Conselho Gestor da Nemetz, Kuhnen, Dalmarco & Pamplona Novaes, professor, autor de obras na área do direito e literárias e conferencista. @LCNemetz

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