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A ditadura socialista de Siad Barre na Somália, um dos mais pobres e miseráveis países do continente africano

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Quando falamos em socialismo e comunismo, imediatamente pensamos em Cuba, Coreia do Norte, China, Venezuela ou União Soviética. Infelizmente, as ditaduras comunistas e socialistas do continente africano não se tornaram tão conhecidas, embora tenham sido tão genocidas, mortíferas e monstruosas quanto as tiranias citadas acima.

Pois está na hora de começarmos a debater e discutir sobre essas ditaduras também, para adquirirmos um conhecimento mais pleno e substancial sobre os horrores e a mortandade gerada pelos regimes comunistas e socialistas do século 20, que foram muito piores do que as pessoas imaginam, e que jamais se resumiram a quatro ou cinco países.

Na verdade, no mínimo quarenta países sofreram com as atrocidades do comunismo…

Um desses países foi a Somália, um dos mais pobres e miseráveis do continente africano.

De 1969 a 1991, a Somália foi uma ditadura socialista governada por um tirano excessivamente cruel e despótico, chamado Siad Barre, um marxista radical e fervoroso, que ansiava aplicar os princípios do socialismo científico em seu país.

Nascido em outubro de 1919, Siad Barre foi ditador em uma época na qual a África estava sendo pulverizada por ditaduras comunistas, sendo contaminada pela ideologia marxista-leninista em todas as partes, o que explicaria, em boa medida, a sua situação de pobreza e miséria sistêmicas.

Siad Barre foi um militar que teve a oportunidade de estudar e aperfeiçoar-se na União Soviética. Uma vez em território soviético, Siad Barre eventualmente assimilou a doutrina marxista-leninista, tornando-se um ardoroso defensor do sistema de centralização política absoluta, o que evidentemente daria poderes plenipotenciários a quem estivesse no comando do governo.

Quando regressou a Somália, Siad Barre foi capaz de ascender nos altos escalões da hierarquia militar, tornando-se o segundo em comando no exército somali, em um momento histórico muito importante, no qual o país deixava de ser colônia europeia e adquiria a sua independência.

Não obstante, assim como os demais países do continente, turbulências internas impediam a nação de atingir estabilidade política e econômica. Quando, em 1969, o segundo presidente foi assassinado, a alta cúpula do exército — o que incluía Siad Barre — viu na ocasião uma excelente oportunidade para tomar o poder. Embora seja impossível verificar, é provável que a iniciativa tenha partido do próprio Siad Barre.

Uma vez no poder — ao contrário de muitos ditadores, que inicialmente procuram ser discretos e moderados —, Siad Barre não escondeu suas explícitas, discricionárias e abusivas pretensões tirânicas. Imediatamente começou a difundir e estimular por todo o país um ambicioso culto de personalidade à sua pessoa, e garantiu para que, em celebrações especiais, as ruas da capital fossem inundadas com retratos dele ao lado de Marx e Lênin.

Uma das primeiras medidas do ditador foi implementar o que ficou conhecido como Supremo Conselho Revolucionário, que tratou de estatizar bancos e indústrias, e direcionar a economia do país. Em 1976, o Conselho Revolucionário foi suplantado pelo Partido Socialista Revolucionário Somali, que tinha por objetivo empreender uma combinação do socialismo científico com as raízes islâmicas da Somália, algo muito similar ao que Muammar Kadafi, ditador da Líbia, fez em seu país. Não obstante — depois de uma nova constituição ter sido promulgada —, alguns anos mais tarde, em 1979, o Partido Socialista Revolucionário Somali foi dissolvido, e o Supremo Conselho Revolucionário foi restabelecido em seu lugar.

O governo de Siad Barre, antes de tudo, foi caracterizado primariamente por terror, crueldade, brutalidade e opressão sistemáticas em larga escala, como a Somália nunca havia visto antes. Como qualquer ditador, Siad Barre empregou parte significativa do seu tempo e dos recursos do estado perseguindo, torturando e executando opositores políticos, com o objetivo de desmantelar qualquer resistência ao seu regime. Durante os últimos anos do seu governo, os isaaqs, um histórico clã somali, foi brutalmente hostilizado e perseguido, eventualmente sendo vítima de genocídio.

A campanha de terror dirigida contra os isaaqs levou boa parte deles a fugir do país e a cruzar a fronteira com a Etiópia. O deslocamento massivo desta etnia somali para o país vizinho — que coincidentemente vivia os momentos finais de uma deplorável e igualmente atroz ditadura comunista — acabou criando o que veio a ser o maior campo de refugiados do mundo, na época.

O extermínio sistemático de integrantes do clã isaaq foi uma das mais brutais e violentas campanhas de genocídio da história da África. Estima-se que mais de duzentas mil pessoas tenham sido dizimadas e enterradas em sepulturas coletivas. O regime não fazia distinção — assassinavam homens, mulheres, crianças. jovens e idosos. Esse trágico e deplorável acontecimento histórico também ficou conhecido como Holocausto de Hargeisa, pelo fato de que esta cidade foi a mais destruída durante a ditadura. Estima-se que aproximadamente 90% da cidade de Hargeisa tenha sido totalmente destroçada pelos violentos esquadrões e milícias paramilitares do ditador Siad Barre.

Embora Siad Barre enfatizasse a proibição da divisão da sociedade em castas, classes e clãs, na prática, isso nunca foi estabelecido. Todos aqueles que tinham conexões políticas usufruíam de privilégios inacessíveis aos cidadãos comuns. Conforme seu governo afundava no caos — na inevitável sordidez de uma profunda e irreversível instabilidade política e econômica, inerente a governos socialistas —, grupos organizados de guerrilha armada e de resistência ao regime despótico do sanguinário ditador passaram a lutar para derrubá-lo e dar um fim ao seu regime. Alguns grupos recebiam financiamento externo para suas atividades de guerrilha de países vizinhos, como a Etiópia.

Não obstante, a situação política e social do país deteriorou-se de forma brutal e alarmante. Conforme os rebeldes se insurgiam, a repressão do governo e das milícias leais ao ditador intensificavam-se com uma crueldade avassaladora. Cidades, comunidades e vilarejos inteiros foram arrasados e destroçados de forma ostensiva pelos esquadrões paramilitares do governo; aqueles que milagrosamente sobreviviam, evacuavam sistematicamente para localidades ermas e remotas ou fugiam do país. Clãs como os isaaqs e os majerteen — cuja história e autonomia eram possivelmente considerados uma ameaça para a manutenção de poder do governo ditatorial vigente — foram especificamente apontados para serem totalmente erradicados e exterminados. Eventualmente, a situação descarrilhou para um caos tão drástico e irreversível, que deflagrou uma guerra civil que, tendo atravessado diferentes estágios, continua até os dias atuais.

A coalizão e a colaboração de diferentes grupos de rebeldes insurgentes eventualmente tornou-se tão eficaz — e as milícias que lutavam por Siad Barre, eventualmente ficaram tão combalidas —, que as forças rebeldes foram capazes de subverter o regime e o ditador foi obrigado a fugir. Inicialmente, o ditador escapou para o sul do país, refugiando-se em uma região que servia basicamente como um feudo de proteção para a sua família. De lá, Siad Barre tentou retomar o poder, partindo para a capital, Mogadíscio, em diversas ocasiões, em um curto espaço de tempo.

Quando percebeu que seria impossível retomar o controle do país, por perder efetivamente o apoio logístico e militar que tornaria isso possível — até mesmo como uma consequência natural da dilaceração e da precariedade em larga escala provocada pela guerra civil que ele mesmo deflagrou no seu desespero para manter o poder —, Siad Barre não teve alternativas senão fugir da Somália.

Eventualmente, o ditador exilou-se no Quênia. Lá, ele permaneceu pouco tempo. Protestos de ativistas que eram contrários à sua presença no país — e avessos ao apoio do governo queniano ao ditador — tornaram-se tão intensos que obrigaram-no a ir embora. Siad Barre estabeleceu-se então na Nigéria. Lá ele permaneceu até morrer, o que aconteceu pouco tempo depois, em janeiro de 1995. Siad Barre faleceu aos setenta e cinco anos de idade, pouco mais de três anos depois de sua deposição. Ele nunca foi preso ou julgado pelos crimes contra a humanidade cometidos durante a sua sanguinária e despótica ditadura.

A Somália socialista de Siad Barre foi mais uma tentativa fracassada de tentar implementar a utopia comunista. O seu resultado foi muito similar à todas as outras experiências socialistas históricas. Caos, horror, sofrimento, violência, degradação, pobreza, miséria, inanição, tirania e centenas de milhares de mortos foram o fatídico resultado do socialismo na Somália. A esquerda não vai difundir esse tipo de conhecimento porque não é conveniente para ela que as pessoas saibam a verdade sobre a sua nefasta, deplorável e perversa ideologia.

A melhor arma contra a ignorância é o conhecimento. Ao falarmos sobre socialismo e comunismo, não podemos esquecer que a África também sofreu em excesso todos os horrores e atrocidades dessas ideologias cruéis, depravadas e demoníacas. Centenas de milhares de mortos estão até hoje enterrados em sepulturas coletivas, vítimas da violência política do totalitarismo.

Wagner Hertzog

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