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O decano e a síndrome de Húbris, uma doença que acomete os que estão no exercício do poder

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Alguém entre os leitores do JC Online já ouviu falar na Síndrome de Hubris?

É uma doença também conhecida por síndrome da presunção, e que se tornou conhecida, ou pelo menos passou a ser debatida publicamente, a partir de 2009, após a publicação de um artigo na revista científica inglesa Brain.

O estudo, realizado a quatro mãos, pelo psiquiatra Jonathan Davidson e pelo ex-ministro dos Negócios Estrangeiros da Inglaterra, David Owen, que também é médico, defende a existência de uma doença psiquiátrica que acomete os que estão no exercício do poder.

De acordo com os autores, a síndrome da presunção “partilha elementos com o narcisismo e a psicopatia” pela exposição a um alto cargo de poder durante certo período.

Eles explicam ainda que há vários sintomas envolvidos, “como a perda de contato com a realidade e a predisposição para ver o mundo como um lugar para a autoglorificação, através do uso do poder”.

E citam ainda a preocupação exagerada com a imagem, a forma messiânica de falar, identificação de si próprio com o Estado, excesso de autoconfiança, desdém para conselhos ou críticas e por aí vai, até a comparação com os seres superiores (ou Deus!).

Por fim, o estudo expõe como as possíveis causas do surgimento da síndrome, uma agenda sobrecarregada, com pessoas que dependem do cargo de poder exercido e, claro, as muitas e infinitas mordomias usufruídas pelo mesmo.

Após esta explicação, faço nova pergunta aos leitores: Tal síndrome de poder não parece estar acometendo uma conhecida figura pública que tem se destacado ultimamente? (não, não estou falando de Luís Inácio, apesar do ex-presidiário apresentar todos os sintomas). Refiro-me a um nobre decano do STF, prestes a deixar o cargo, após mais de três décadas ocupando uma das onze cadeiras mais poderosas da justiça brasileira, com direito a vinhos premiados, lagostas, funcionários e serviçais de toda ordem, carros oficiais e, logicamente, muitas pessoas dependendo de suas “decisões de vida ou morte”, batendo à porta desesperadas por um julgamento ou uma decisão favorável.

E sequer vou precisar nomear o ministro do supremo que parece acometido pela síndrome, nos estertores do poder, já que se vê obrigado a deixar o cargo a partir de novembro, quando atinge a aposentadoria compulsória.

Basta citar suas últimas ações para, quem sabe, encontrar um diagnóstico.

O primeiro ato foi a liberação, na íntegra, de uma reunião sigilosa e oficial do presidente Jair Bolsonaro com todos os seus ministros. Isso porque o magistrado resolveu acatar denúncia contra Bolsonaro por suposta tentativa de interferência na Polícia Federal, em fala proferida pelo chefe do executivo na mesma reunião, mesmo após o próprio acusador, o ex-ministro da justiça Sérgio Moro, ter se recusado a repetir a acusação, ao pé da letra, em depoimento.

Em seguida, solicitou à Procuradoria Geral da República, ouvir o depoimento de três ministros do poder executivo, para esclarecer pontos da reunião na qual Bolsonaro teria dado a tal ordem de interferência.

Os depoimentos, serviriam, depois, justamente para mostrar o quanto a acusação de Moro era fantasiosa, mas eis que o decano, parecendo ignorar a ética e o respeito aos ministros, todos homens representantes de mais alta patente das forças armadas, determina que em caso de não comparecimento para os depoimentos, que se utilizasse então “a condução coercitiva ou debaixo de vara”.

Semanas depois, o ministro do Supremo determinou que a PGR analisasse a possibilidade de apreensão e perícia do telefone pessoal do presidente, sem qualquer análise mais profunda do pedido protocolado por um partido de oposição, como se o telefone oficial de Bolsonaro fosse apenas mais um aparelho qualquer, utilizado para conversas em aplicativos de bate papo ou ligações para parentes e amigos, quando na verdade, até o cidadão menos politilzado sabe que há ali contatos de presidentes e autoridades de todo o mundo e informações essenciais e sigilosas para determinar os rumos de uma nação.

E quando os arroubos de poder pareciam ter cessado, eis que Celso de Mello (não resisti), determina, nesta sexta-feira (11), que Jair Bolsonaro seja tratado como um investigado comum, no mesmo nível de um réu que responde a um processo em tribunal de primeira instância por “roubo de galinha”, ao exigir que o presidente preste depoimento pessoalmente ao ministério público.

E completou que “não aceitaria” que tal depoimento fosse por escrito” além de permitir os questionamentos dos advogados de Sérgio Moro, o acusador que voltou atrás e virou corréu em uma investigação sem qualquer prova.

Não seriam, tais atos do ministro um lamentável quadro da “síndrome do poder”? O mesmo poder com o qual confabulou durante tanto tempo, e que está prestes a deixar, ainda que venha a receber, como prêmio, uma gorda e integral aposentadoria e inúmeros futuros convites para bailes de gala do STF (bancados com o erário), palestras para grupos de advogados esquerdopatas e falas em formaturas de faculdade?

De minha parte, já tenho o diagnóstico. Síndrome de Húbris detectada.

Que triste e lamentável “saideira”!

Mário Abrahão. Jornalista, trabalha com produção de textos, rádio e televisão desde 1996. Pós-graduando em Ciência Política e em Gestão de Comunicação e Mídias Digitais, foi repórter setorista, em Brasília, desde junho de 2011 até o final de 2019. Reside agora em Jundiaí-SP, onde se especializa e prepara novos projetos de comunicação, com foco na política da região.

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