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Aprenda com a coragem e a inabalável fé de Robert Morrison, pioneiro na pregação do evangelho na China

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Robert Morrison foi um importante missionário presbiteriano, pioneiro na pregação do evangelho na China. Hoje, Morrison é conhecido sobretudo por ter traduzido a Bíblia para o mandarim. Uma realização colossal — a qual dedicou vinte e cinco anos da sua vida —, apesar dos enormes riscos que corria. No entanto, sua inabalável e irrestrita fé no Criador e na sua palavra inspirada serve hoje de exemplo para todos nós.

Ainda que atualmente a perseguição contra cristãos — e pessoas de outras religiões — seja uma realidade na China, é necessário enfatizar que nunca existiu liberdade religiosa naquele país, que sofreu durante toda a sua história, em graus variados, com governos tirânicos e altamente restritivos.

Desde que o cristianismo começou a disseminar-se pelo Oriente, há séculos atrás, ele nunca foi bem recebido.

Na China, particularmente, as restrições governamentais impostas ao cristianismo sempre foram implacavelmente ímpias, atrozes e draconianas.

Morrison nasceu em 5 de janeiro de 1782 na Inglaterra, e desde muito cedo foi introduzido aos ensinamentos cristãos por pais profundamente religiosos, que eram não apenas assíduos frequentadores da igreja, mas fiéis devotos que procuravam aplicar rigorosamente os princípios divinos, vivendo de acordo com os mandamentos de Deus.

O jovem Morrison absorveu muito cedo a religiosidade presente em seu lar, e, consequentemente, desenvolveu amor pelo Criador a um nível muito pessoal. Precocemente, chamou a atenção quando recitou — com apenas 12 anos de idade, na frente do pastor de sua congregação — todo o Salmo 119, o mais longo da Bíblia, diga-se de passagem, com 176 versículos, de cor, sem errar.

Determinado a servir a Deus, no alvorecer de sua juventude, que coincidiu com o alvorecer de um novo século, o 19, Morrison decidiu tornar-se missionário, para — como Cristo — evangelizar pessoas e instruí-las no Reino de Deus. Morrison juntou-se à Sociedade Missionária de Londres, em 1804, pouco depois da morte de sua mãe.

Morrison, no entanto, era um indivíduo excepcionalmente altruísta, que realmente estava disposto a se sacrificar pelo Reino de Deus. Inicialmente dividido entre servir na África ou na China, ele estava determinado a ir justamente onde as dificuldades seriam maiores.

Em uma oração, ele pediu a Deus que o colocasse “naquela parte do campo missionário onde as dificuldades eram maiores e, para todas as aparências humanas, as mais intransponíveis.” Seu coração cheio de fé sabia que — para o Todo-Poderoso — não existem obstáculos que não possam ser vencidos.

Alguns anos antes, um missionário inglês havia redigido uma carta, no qual exortava seus colegas sobre a imperativa necessidade de se realizar traduções da Bíblia para idiomas de nações orientais, sobretudo para o chinês.

Morrison chegou a conseguir alguns exemplares de traduções do Novo Testamento para a língua chinesa, e a necessidade de uma tradução completa das Escrituras Sagradas para este idioma chamou profundamente a sua atenção. Naquele momento, o missionário tomou como missão pessoal para a sua vida levar a palavra de Deus para a nação chinesa, e propiciar àquele povo o conhecimento sobre a vontade do Criador no seu próprio idioma.

Era necessário saciar a sede espiritual por conhecimento salutar do povo chinês, que praticamente nada sabia sobre o sacrifício de resgate de Cristo Jesus, e sua importância, e porquê é tão necessário conhecê-lo, compreendê-lo e aceitá-lo.

Antes de ir para a China, Morrison passou aproximadamente um mês nos Estados Unidos, para conseguir cartas de recomendação de autoridades competentes, que atestassem sua idoneidade. Missionários já eram relativamente hostilizados e discriminados naquela época, e como a Companhia das índias Orientais não os transportava, Morrison precisou consolidar sólidas relações antes, sabendo que elas poderiam lhe ser úteis mais tarde.

Morrison chegou na China em setembro de 1807, depois de quase quatro meses no mar, parando primeiramente em Macau, que — naquela época — era colônia portuguesa. Depois de apresentar-se, juntamente com as cartas de recomendação, à britânicos e americanos que viviam na China, o missionário foi calorosamente recebido por seus correligionários.

Não obstante, depois de explicar a razão de sua viagem — o trabalho de evangelização cristã e a vontade de traduzir a Bíblia para o mandarim, o principal idioma chinês — Morrison recebeu o primeiro balde de água fria de seus novos amigos. Eles o informaram que os chineses eram proibidos pelo governo de ensinar o seu idioma a estrangeiros, sob pena de morte. Isso não era tudo, no entanto.

Muitos outros obstáculos foram rapidamente explicitados. Nenhum ocidental era autorizado a permanecer na China, a não ser para propósitos comerciais, e a única denominação cristã tolerada no país era a católica, que iria se opor fervorosamente a um missionário protestante na região, podendo lhe causar sérios problemas.

Para piorar a situação, Morrison posteriormente descobriu que a evangelização era proibida na maior parte do país, sendo legalmente restrita a algumas poucas localidades. Muitos indivíduos o aconselharam a desistir.

Morrison, no entanto, não apenas recusou-se enfaticamente a desistir, como sabia que o Criador o ajudaria a superar todos os obstáculos que se colocassem em seu caminho.

Na verdade, ele passou a encarar as dificuldades como reveses temporários, que não iriam dissuadi-lo de forma alguma de seus objetivos. Seu otimismo e sua forma positiva de encarar as adversidades foram qualidades dilapidadas pela fé, que a palavra de Deus nos ensina a desenvolver.

Com uma situação inicialmente instável, trocando de residências constantemente, morando em fábricas e vivendo de favores, Morrison começou a passar-se por americano quando percebeu que isso melhorava um pouco suas condições. No entanto, as provações que ele enfrentou nos primeiros meses de sua estadia na China foram terrivelmente extenuantes.

Morrison conseguiu livros em mandarim, mas temia ser visto com eles, assim como temia também ser visto nas ruas, por medo de ser flagrado e questionado pelas autoridades. Em diversos períodos, se isolou por receio de ser descoberto e expulso do país. Não obstante, não sabia como aprenderia o idioma. Quando encontrou um chinês — cuja religião era a católica — disposto a ensiná-lo, apesar de bem intencionado, Morrison percebeu que tratava-se de um homem excepcionalmente culto e erudito.

O missionário, em questão de pouco tempo, percebeu como isto poderia afetar negativamente a sua tradução, fazendo com que fosse compreendida apenas por uma pequena elite aristocrática, e Morrison queria que o seu trabalho fosse acessível sobretudo às pessoas mais simples, e atingisse principalmente as massas de pessoas comuns do país, e não apenas abastadas minorias privilegiadas.

Outros chineses que Morrison encontrou se revelaram oportunistas inveterados, que exigiam grandes somas de dinheiro para não denunciá-lo às autoridades competentes, encontrando pretextos variados para extorquir grandes somas de dinheiro dele.

Depois de muitas dificuldades e incontáveis sofrimentos, no entanto, Morrison encontrou pessoas generosas e bondosas que estavam dispostas a ensiná-lo o idioma — com todas as suas vastas complexidades —, sem interesses escusos.

O missionário, no entanto, tomou enormes precauções para salvaguardar estas corajosas almas abnegadas, com o objetivo de protegê-las. Ele ficou um ano sem sair de casa para não levantar suspeitas, nem atrair atenção indevida; se fossem descobertos, os chineses que lhe ensinavam o idioma seriam executados pelas autoridades governamentais, e ele seria, na melhor das hipóteses, expulso do país.

Gradualmente — depois de se familiarizar com a língua complexa que é o mandarim —, Morrison passou a traduzir as Escrituras Sagradas para o idioma, em um trabalho que, apesar de exasperante, realizou com imensurável dedicação e persistência. O missionário levou vinte e cinco anos para traduzir integralmente a palavra de Deus para a língua chinesa.

Ao longo de sua estadia, ele também conseguiu converter e batizar dez chineses. E assim, uma pequena, mas promissora congregação nasceu, e algumas décadas depois, iria florescer com a ajuda de missionários americanos.

Em 1824, Morrison voltou para a Inglaterra. No entanto, dois anos depois, regressou à China. Nesta época, mais respeitado e conhecido, Morrison já era um pastor de relativa notoriedade, vigorosamente empenhado em pregar e difundir a palavra de Deus através de publicações cristãs, que complementavam a evangelização.

Ele ainda tinha que enfrentar restrições governamentais, bem como a hostilidade e a perseguição ocasional de clérigos católicos. No entanto, ele não esmorecia.

Infelizmente, a saúde de Morrison era precária, e ele acabou falecendo em Guangzhou com apenas 52 anos, em 1º de agosto de 1834. No entanto, sua existência — inteiramente dedicada ao Criador e ao propósito altruísta de disseminar a palavra de Deus em um território particularmente hostil — foi vivida de forma plena e satisfatória, na única ocupação que realmente enaltece o homem: a evangelização cristã.

Com enorme coragem e bravura para superar obstáculos — e uma fé inabalável no Pai Celestial — que não o permitiu desistir, nem mesmo quando as dificuldades mostraram-se ostensivamente aterradoras, Robert Morrison demonstrou qualidades formidáveis – e altamente necessárias – para um cristão, como tenacidade, paciência, persistência, bravura, perseverança e dedicação.

Pioneiro na evangelização da China, e na tradução das Escrituras Sagradas para o mandarim, Robert Morrison provou com ações e atitudes que ele tinha amor sincero e leal a Deus, demonstrou elevado apreço pelo sacrifício de resgate de Cristo Jesus, e estava plenamente disposto a sacrificar a sua vida pela verdade. Exemplo para todos os cristãos, Robert Morrison foi sem dúvida um modelo de inabalável fé e lealdade.

Wagner Hertzog

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