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Não adianta imediatismo. A única coisa que Bolsonaro pode fazer é reduzir o Estado

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Ideologias são maravilhosas. No papel, tudo funciona de forma linda e perfeita. Prova disso é que, depois de matar milhões de pessoas, o ideal socialista ainda é amplamente defendido por aqueles que acreditam na utopia Marxista.

Não digo que a teoria não é importante. Óbvio que é. Como sentenciou Freud:

"O pensamento é o ensaio da ação".

Existe, porém, um espaço abissal entre o que é pensado e o que pode, efetivamente, ser posto em prática.

Nos meus sonhos, eu adoraria que o Presidente pudesse chutar a porta do Congresso Nacional e do STF, botar todos os safados e corruptos pra fora, enquanto os generais estariam esperando para colocá-los na cadeia e jogar a chave no lixo.

Mas isso é apenas um sonho.

Na realidade, o que vivemos hoje não começou no governo petista, nem no FHC, Collor, Sarney ou militares... Vamos mais longe. BEM mais longe.

No final do século XIX, na Inglaterra, surgia a "Fabian Society", que visava contrapor a implantação revolucionária do socialismo, focando no desenvolvimento "humanista" da sociedade para que os trabalhadores assumissem os meios de produção. Seu nome, inclusive, veio do Consul Romano "Fabio Máximo", famoso por sua estratégia de "desgaste"; de espera e lento atrito, contra os exércitos de Aníbal, na Segunda Guerra Púnica (218 a.C - 201 a.C).

Em sequência, já no início do século XX, surgiram vários outros movimentos que seguiam a mesma linhagem filosófica. Na década de 20, na França, foi criada a "Escola dos Annales", que se contrapunha à visão histórica positivista e focava o estudo historiográfico nos aspectos sociais.

Também na década de 20, Felix Weil, um jovem Marxista que tinha escrito uma dissertação sobre "os problemas práticos de se implementar o socialismo", fundou o "Instituto de Pesquisas Sociais", anexo à Universidade de Frankfurt, que reuniu vários outros filósofos Marxistas, descontentes com os partidos socialistas ortodoxos. Posteriormente, este grupo ficaria conhecido como "A Escola de Frankfurt".

Na década de 30, em resposta à crise de 1929, os liberais europeus desenvolveram a teoria econômica do "Neoliberalismo", que propunha uma economia de mercado sob orientação de um Estado Forte e intervencionista. Assim, pretendia ser a terceira via entre o Liberalismo clássico "laissez-faire" e a economia planificada socialista.

Inúmeros outros movimentos surgiram. Se fosse enumerá-los, um a um, esse texto ficaria excessivamente longo. Transformar-se-ia em um livro. A questão é: Vivemos as consequências de uma reengenharia social que já é feita há mais de um século. Como sentenciou Auguste Comte:

"Os vivos são sempre, e cada vez mais, governados pelos mortos".

Isso não se refletiu apenas no Brasil. Na Europa as consequências são ainda mais visíveis. Até nos EUA, que sempre liderou o "mundo livre", as influências são perceptíveis.

O "status quo" cultural é absolutamente diferente daquele do início dos anos 60, quando estávamos no auge da guerra fria e atitudes "radicais" eram permitidas (e incentivadas) para combater a "ameaça comunista".

Durante o próprio regime militar, inclusive, apesar da narrativa criada, de que os militares eram "de direita", o combate ideológico praticamente não existiu. O Marxismo cultural ganhou espaço na mídia, nas universidades e até nas cadeias, quando subversivos começaram a doutrinar presos comuns, dentro do Presídio Cândido Mendes, em Ilha Grande (RJ), e fizeram surgiu a "Falange Vermelha", em alusão à cor socialista, que evoluiu para o conhecido "Comando Vermelho".

Durante as últimas décadas, ocupando cada vez mais espaço nos estabelecimentos de ensino e meios de comunicação, a esquerda transformou a sociedade. Prova disso é que mantivemos o Lulo-Petismo durante 16 anos no poder e aceitamos, pacificamente, entregar nossas armas ao governo.

Não será Bolsonaro, em meio mandato, que mudará a situação. Como presidente, não tem nem poder político para isso. Usar militares para "garantir uma ideologia" está fora de cogitação. As Forças Armadas, como instituições permanentes da República, nem PODEM ter uma ideologia. São "positivistas" e só.

Se fosse o contrário, Dilma Rousseff teria as usado para impedir o impeachment; como tentou fazer, segundo o relato do General Villas Boas.

Hoje, ao contrário de 1964, um movimento "contra os comunistas" não teria o apoio do Congresso, da imprensa, da igreja ou da comunidade internacional. Seria Bolsonaro sozinho, com uma parte do povo (desarmado). O desfecho não é nem um pouco duvidoso. O presidente terminaria deposto (e provavelmente preso), nos enfiaríamos em uma crise político-social gigantesca e seria o fim definitivo da direita brasileira.

NÃO ADIANTA IMEDIATISMO. A única coisa que Bolsonaro pode fazer é reduzir o Estado, ao máximo, para que o mesmo não possa ser usado contra o povo, caso a esquerda volte ao poder.

A "guerra cultural" não é combatida por só um homem. Se queremos mudanças, se queremos combater uma ideologia que se impregna há mais de um século na nossa sociedade, é hora de arregaçarmos as mangas e ocuparmos espaços.

É horrível pensar que estamos longe de uma solução. Eu sei. É um discurso péssimo de ser ouvido. Mas, infelizmente, é só o que temos. Ou combatemos do jeito certo, ou entregaremos cada vez mais espaço aos nossos adversários, enquanto ficamos entregues às narrativas fantásticas, esperando um milagre que não vai acontecer.

"A realidade é dura, mas ainda é o único lugar onde podemos comer um bom bife." (ALLEN, Woody)
Foto de Felipe Fiamenghi

Felipe Fiamenghi

O Brasil não é para amadores.

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